Sábado passado, pouco passava das seis e meia da tarde. No
Centro Cultural Olga Cadaval, determinado evento estaria prestes a começar.
Muita gente ainda a chegar em sucessivas vagas de automóveis. Apenas um pouco
mais abaixo, na igreja de São Miguel, já tocam os sinos pela última vez antes da
missa das sete. E, ali mesmo, junto ao templo, uma vez terminadas as actividades
do dia, alguns escuteiros aguardam pela chegada das famílias.
Às tantas parou tudo. Estava completamente esgotado o
estacionamento no beco que é o Bairro das Flores. Ali não tendo encontrado
lugar, muitos condutores já não conseguiam entrar na referida praça quando
quiseram regressar enquanto outros, apesar do flagrante impasse, insistiam em
descer, apenas se rendendo à evidência, como São Tomé, ou até que alguém os
dissuadia. Mas era impossível fazer inversão de marcha. Chegara-se ao limite.
Já não havia qualquer hipótese e, mais uma vez, no coração do Bairro da Estefânea,
estava montado o grande espectáculo de
rua dos dias de enchente do CCOC…
Repetem-se amiúde episódios análogos. Inúmeras, como sabem, as vezes que os tenho trazido a estas páginas. São anos e anos de desleixo institucional. Muito cansaço por sucessivas denúncias e chamadas de atenção que, não surtindo qualquer efeito positivo, apenas resultam numa inenarrável camada de frustração, partilhada por quem ainda não desistiu de continuar a intervir cívica e civilizadamente no sentido de obviar a ocorrência desta e doutras situações congéneres.
Continuemos. Aqui mesmo morador há quarenta e tal anos, naturalmente, acompanhei a obra de remodelação do Cine-Teatro Carlos Manuel que deu origem ao Centro Cultural. Assim como não parece possível que o edifício não tivesse sido dotado de um cais para movimentação expedita de cargas e descargas, comprometendo a própria rendibilidade do CCOC, também não passa pela cabeça de alguém que se tenha desperdiçado a oportunidade de construir um parque de estacionamento dimensionado às necessidades em presença. No entanto, infelizmente, foi precisamente isso o que sucedeu.
Tal como outros cidadãos, também me preocupei com o
assunto. Incomodei-me. Fui a reuniões, quis esclarecer-me. Esbarrei com a
esfarrapada justificação de que as características geológicas locais não
permitiam a solução de parque subterrâneo. Mesmo que assim fosse, alternativas
podiam ter sido equacionadas e a verdade é que não foram. Enfim, que
responsabilidade tremenda a de quem assim decidiu porque os perniciosos
resultados de tal omissão não podem ser mais evidentes.
Autoridade ausente
De qualquer modo, perante a evidência do que
invariavelmente sucede, como justificar a ausência da autoridade policial? Se a
Administração da Empresa Municipal SintraQuorum sabe que a promoção dos eventos
de sua responsabilidade gera situações de controlo difícil, porque não coopera
no sentido de garantir as condições necessárias e suficientes à manutenção da
ordem e da segurança? Exactamente por se tratar de uma empresa municipal, não
tem responsabilidade acrescida? Não somos nós, cidadãos e munícipes de Sintra,
que a viabilizamos? Porque não articula a sua actividade com a PM de Sintra?
Então, de uma entidade que promove actividades de recorte
cultural, não se espera uma atitude informada, responsável e culta? No contexto
da empresa municipal que espalda todas as iniciativas que ali se concretizam, por
um lado, o CCOC depende e, por outro, responde perante mesmo executivo
autárquico, eleito pelos cidadãos para que exerça a autoridade democrática de
que ficou investido na sequência das eleições locais, executivo autárquico
aquele que também superintende à Polícia Municipal. Então, como entender a
desarticulação?
E, sem qualquer margem para dúvida, quando chamada a
intervir junto ao CCOC, por ocasião de importantes reuniões – como foi o caso,
em Novembro de 2011, do X I Congresso Mundial das Cidades Património Mundial – verifico
que a PM de Sintra actua com inequívoca competência. Então, cumpre perguntar
porque não se aproveita, em todas as eventualidades, esse saber fazer da
autoridade municipal com o objectivo de evitar as perfeitas cenas de terceiro
mundo que ocorrem nas redondezas, pondo em risco a segurança de pessoas e bens?
Numa noite como a do passado sábado, à volta do CCOC,
todas as ruas ficam irremediavelmente armadilhadas
devido ao caótico estacionamento. Longe vá o agoiro, mas já pensaram que, no
caso de ocorrência de um incêndio num dos prédios da zona, por exemplo, na Praceta
Dr. Arnaldo Sampaio e, muito menos, numa dquelas estreitas ruas onde um
automóvel um pouco mais largo já tem dificuldade em circular, pura e
simplesmente, lá não conseguiria chegar o socorro dos bombeiros?
Tão simples…
Não se entenda das minhas anteriores considerações que acuso
a SintraQuorum de incapacidade. Dentre as empresas municipais de Sintra é esta
a que melhor conheço, tendo tido oportunidade de acompanhar algumas das suas
actividades ao longo dos anos. Está dotada de pessoal muito capaz, competente e
da maior dedicação, colaboradores dentre os quais mantenho amizades que muito
me honram. Não, não considero haver incapacidade mas sublinho a necessidade de
alertar, o mais veementemente possível, para uma falha que urge remediar com
toda a pertinência.
Neste mesmo
contexto, e, no que à autoridade policial concerne, igualmente se espera que
actue integradamente com o CCOC que, por sua vez, tudo faça com o objectivo de
orientar os espectadores para soluções civilizadas de estacionamento das suas
viaturas, através de prospecto e de planta impressa no próprio bilhete do
espectáculo, indicando o percurso até ao parque mais próximo, isto é, junto ao
edifício do Departamento do Urbanismo.
Claro está
que, entretanto, tal espaço de estacionamento, permanente e informalmente
utilizado durante os dias úteis e em horários laborais, deveria ser
requalificado, tendo em consideração: - 1. instalação de iluminação pública
adequada; 2. serviço de policiamento por ocasião dos eventos nocturnos, (altura
em que está vazio, aliás, como também aos domingos), e 3.recolocação urgentíssima
da absolutamente imprescindível ponte metálica para atravessamento pedonal, (com
rampa de acesso para deficientes), ou seja, o meio mais expedito e eficaz de
ligação entre os bairros da Portela e da Estefânea, desembocando na zona
pedonal da Heliodoro Salgado, a dois ou três minutos do próprio CCOC.
[João
Cachado escreve de acordo com a antiga ortografia]
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