[sempre de acordo com a antiga ortografia]

terça-feira, 1 de julho de 2014



Festival de Sintra, 2 e 3 de Julho
´Maratona Rachmaninov’
Integral dos Concertos para Piano



Em citação do programa geral da 49ª edição do Festival de Sintra, eis palavras de Sergei Rachmaninov:

“(…) Nunca consegui decidir nem saber totalmente qual era a minha verdadeira vocação: se a de compositor, de pianista ou de maestro. Tenho medo que caminhando em diversos domínios ao mesmo tempo, não faça o melhor uso possível da minha vida. Como diz o velho ditado russo, “persegui t
rês lebres ao mesmo tempo” – mas terei a certeza de ter pelo menos apanhado uma? (…)”

Que modesto era este Rachmaninov, virtuoso pianista, excelente maestro e excepcional compositor!... Para nós, herdeiros do seu legado, que conhecemos e reconhecemos o mérito da vertente pianística da sua vasta obra, a verdade é que, apesar das suas pertinentes questões, nenhuma dúvida subsiste acerca da superior qualidade dos quatro Concertos para Piano e das Variações sobre um tema de Paganini que completam as suas peças para piano e orquestra.

Pois bem, é precisamente neste grupo de obras que incide a proposta do Festival de Sintra, a concretizar em dois serões consecutivos, nos próximos dias 2 e 3 de Julho, subordinada ao título Maratona Rachmaninov sempre às 21h00, no Centro Cultural Olga Cadaval, com a Orquestra do Norte.

Na 4ª feira, teremos os Concerto No. 1 em Fá sustenido menor, op. 1,  Concerto No. 4 em Sol menor, op. 40, tendo como solistas, respectivamente, Artur Pizarro e Daniel Burlet, competindo a Aleyson Scopel a interpretação das Variações sobre um tema de Paganini, op. 43, três obras sob a direcção de José Ferreira Lobo. Na noite seguinte, o Concerto No. 2 em Dó menor, op. 18, pelo pianista António Cebola, e Concerto No. 3 em Ré menor, op. 30, por Alexei Sychev, sendo a orquestra dirigida por Nuno Corte-Real.

Dos concertos, os Nos, 2 e 3 são os mais populares, considerando-se ao mais alto nível dos concertos para piano desta época que se estende desde a penúltima década do século dezanove até aos anos trinta do século vinte. O No. 3 é largamente considerado um dos concertos para piano mais difíceis de sempre, sendo assim favorito entre muitos pianistas virtuosos, embora o próprio Rachmaninov tenha dito que o sentia "fluir mais facilmente nos dedos" do que o No. 2.

Esta é mais uma importante oportunidade para aceder a um significativo conjunto de obras do período tardo-Romântico russo da História da Música. Por outro lado, tendo em consideração que, na mais importante sede musical portuguesa, i.e., no grande auditório da Fundação Calouste Gulbenkian, decorre a leitura integral da pianística solo deste grande compositor, por Artur Pizarro, invariavelmente considerado como o mais notável dos pianistas portugueses da actualidade, impõe-se aproveitar a ocasião.

Claro que escrevo estas notas a pensar, não só nos melómanos – que já assistiram a não sei quantas leituras destas peças – mas sempre ávidos, como eu, nenhuma oportunidade musical perdem e tudo transformam em enriquecimento pessoal, mas também, em especial, nos mais jovens. Os preços são escandalosamente baixos, não há qualquer desculpa para faltar.

Finalmente, espero bem que os pianistas chamados ao cumprimento deste estupendo programa tenham muito presente uma opinião de Rachmaninov para a qual, não sendo eu pianista, constantemente chamo a atenção. Reporto-me à necessidade de o artista se adequar à acústica da sala, coisa tão liminarmente lógica e evidente para qualquer músico que, parece impossível, seja tão frequentemente esquecida ou subestimada.

Termino, pois, com mais uma citação de palavras do compositor:
“(…) O pianista é escravo da acústica. Só depois de ter tocado a primeira peça, ter conhecido a acústica de determinada sala e ter sentido a atmosfera geral, é que decido em que espírito levarei o concerto (…)”

Amen!

Por fim uma proposta irrecusável. Horowwitz, numa histórica gravação, toca o Concerto No. 3 no Avery Fisher Hall, New York, em 1978 com Zubin Mehta a dirigir. Deverá ter sido a última vez que, já com 75 anos, tocou esta obra. O próprio Rachmaninov considerava que este pianista assumira de tal modo a peça que parecia tê-la engolido (sic).

Boa audição
!

http://youtu.be/D5mxU_7BTRA
 
 

Sem comentários: