[sempre de acordo com a antiga ortografia]

sexta-feira, 11 de julho de 2014



LÍNGUA NOSSA

Nada de confusões!



 Por João Cachado

 
 
[Mais uma transcrição de texto que subscrevi, para a revista ‘Tempo Livre’ da INATEL. Trata-se do publicado em Julho, no âmbito da minha colaboração mensal com aquela entidade. A vossa compreensão para o facto de não me ser possível reproduzir os recursos gráficos do original, nomeadamente negrito e itálico, obrigando-me a uma adaptação bastante limitativa.]


Hoje, venho propor que, por alguns instantes, nos detenhamos no emprego de duas expressões latinas que pontuam o discurso dos comunicadores. São muito frequentes em todos os media, com particular incidência na rádio e na televisão onde, não raro, tal frequência é acompanhada de infeliz e manifesta ‘taxa de asneira’…

Primeiramente, ‘statu quo’. Por favor, de uma vez por todas, é assim mesmo que se escreve e, quanto à pronúncia, com 'o' nitidamente aberto. Em latim, língua declinada, as palavras enquadram-se em seis casos de acordo com a sua função sintática. Neste, estamos em presença daquilo que se designa como um caso ablativo absoluto, ou seja, de dois ablativos, ‘statu’ e ‘quo’, significando a expressão ‘o estado em que as coisas se encontram’.
Ex: "Pedro nunca pactuou com o statu quo".

A mais frequente das formas erradas de emprego desta expressão é «status quo». Apesar de também existir, ‘status’ correspondendo a um sujeito, ou seja, um caso nominativo latino, que nada tem a ver com a situação em apreço.
Ex: “Ela aspira a um status que não corresponde às suas características”.

Outro é o caso de ‘pari passu’. ‘A passo igual’ é o que significa esta expressão. Correctamente usada, corresponde ao acompanhamento assíduo, cuidado, detalhado de uma certa situação. Importa ter em consideração que, no original latino, o adjectivo ‘par‘ significa igual e o substantivo ‘passu’, precisamente, ‘passo’ e, tal como anteriormente, também estas duas palavras estão no caso ablativo.

Erradamente, diz-se e escreve-se ‘a par e passo’. Justificado está o erro pela influência da locução portuguesa ‘a par’. Na realidade, até parece que estará utilizando a expressão latina mas o falante incorre naquilo que se designa como corruptela. Trata-se de um interessante fenómeno de contaminação, ao nível do som, mas aquelas palavras nada significam.
Ex: “O médico acompanhou o evoluir da doença pari passu, até ao fim”.

[O autor escreve de acordo com a antiga ortografia]

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