[sempre de acordo com a antiga ortografia]

sexta-feira, 11 de julho de 2014





São Bento

Em 1964, reconhecendo o papel fundamental da vida e obra de São Bento (480-574) para o desenvolvimento da sociedade e da cultura europeias, SS Paulo VI declarou-o ‘Padroeiro da Europa’. Trata-se de figura cimeira da cultura europeia de todos os tempos cuja obra, de facto, não se limitou, à génese do movimento monástico que se propagou a todo o continente a partir da comunidade de Montecassino.
São Bento que é o expoente de uma fascinante cultura, do homem que pretende «ser» em oposição ao homem que só pensa no «ter». Por isso, acerca da temática do despojamento, que tanto me mobiliza, acodem-me os mais diferentes artefactos, literários uns, musicais outros.
Por exemplo, de Ricardo Reis, tão a propósito:

Não tenhas nada nas mãos
Nem uma memória na alma,
Que quando te puserem
Nas mãos o óbolo último,
Ao abrirem-te as mãos
Nada te cairá.
Que trono te querem dar
Que Átropos to não tire?
Que louros que não fanem
Nos arbítrios de Minos?
Que horas que te não tornem
Da estatura da sombra
Que serás quando fores
Na noite e ao fim da estrada.
Colhe as flores mas larga-as,
Das mãos mal as olhaste.
Senta-te ao sol. Abdica
E sê rei de ti próprio.

in "Odes"
 

'Ora et labora'. Reza e trabalha, regra de ouro que tão soberbos frutos gerou, divisa que tão bem se aplica a Bento XVI, Papa Emérito, que tantos testemunhos acumulou e nos deixa em precioso legado de textos afins dessa preocupação de sobriedade, contenção e de serviço ao outro. E a Francisco que, em tão pouco tempo, já deu tantos sinais de magistério esplêndido.

11 de Julho é o dia em que a Igreja festeja São Bento, lembrando a trasladação das relíquias do santo para a Abadia de Saint-Benoît-sur-Loire, Fleury, perto de  Orleáns. Também hoje recordo a minha passagem por Monte Cassino, em Novembro de 2013. Sinto-me herdeiro orgulhoso deste passado longínquo e recente, tenho todos os motivos para rejubilar e exultar.
No meu caso, a exultação católica é indissociável do motete “Exultate, Jubilate”, KV. 165, um milagre de Arte, que Mozart compôs aos dezassete anos. Ouso afirmar e confirmar que o «divino» - epíteto que o MQI José Manuel Anes tão bem conjuga quando se refere ao compositor - jamais poderia ter escrito esta peça não fosse a entranhada Fé que o animava em idade tão precoce.

Esta é a mesma Fé que, mais tarde, Mozart tão bem soube articular com os princípios e valores da Augusta Ordem Maçónica em que foi iniciado, aliás, tal como eu próprio, numa coincidência que, honrando-me sobremaneira, me suscita a necessidade de dar constante testemunho.

Ora et labora. E exulta, rejubila! Proponho-vos que escutem esta interpretação de Cecilia Bartoli, acompanhada pela Orquestra Filarmónica de Viena, dirigida por Riccardo Muti, na célebre gala do dia 27 de Janeiro de 2006, no Grosses Festspielhaus de Salzburg, por ocasião do 250º aniversário do compositor, a que tive o privilégio enorme de assistir.
 
Boa audição!

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