Homogéneo / heterogéneo
Nestas situações, factor muito importante a equacionar é o das classes heterogéneas. Não raro, tenho assistido à defesa inquestionável da ideia segundo a qual as classes homogéneas são as que garantem a qualidade do binómio ensino/aprendizagem de acordo com os parâmetros de maior qualidade, portanto, mais convenientes ao aluno do primeiro ciclo do ensino básico.
Para que não haja confusão, por homogénea, se entende a classe que integra apenas alunos de cada um dos quatro anos do ciclo, enquanto que heterogénea, será a que acolhe alunos de dois ou mais anos do ciclo, sendo mais comum a que inclui meninos e meninas dos primeiro, segundo, terceiro e quarto anos.
Pois bem, em temos pedagógicos, nem há qualquer inconveniente na adopção de uma solução afim da turma heterogénea nem conveniente relativamente à homogénea, exigindo cada situação uma metodologia que o professor adequará ao grupo em presença já que tem formação para o efeito.
Porém, no caso de decisão política pelas classes heterogéneas, logo se ganha a mais-valia inequívoca de as crianças poderem permanecer no seio da comunidade onde residem e mantêm laços de proximidade, desde os de vizinhança aos familiares. E, naturalmente, tal vantagem é absolutamente determinante quanto ao equilíbrio psicológico, ritmos de vida e rendimento escolar.
Enquanto técnico de Educação, em estágios e visitas de trabalho em alguns países europeus, normalmente apontados como exemplares em termos das práticas pedagógicas nos diferentes graus dos respectivos sistemas educativos, tive oportunidade de observar detidamente turmas heterogéneas consideradas de rendimento geral e global superior à das homogéneas.
Permitam um parêntesis para partilhar convosco que mais constatei, um pouco por todo o lado, em países considerados ricos, um recurso muito «frugal», mesmo parcimonioso aos meios tecnológicos, incomparável com a bacoca rendição aos computadores, aos data shows, aos quadros interactivos, etc, que entre nós acontece. Ao contrário, «por lá», a prática prevalecente é, isso sim, a de preparar a cabeça dos meninos para o acolhimento desses auxiliares tecnológicos, meras ferramentas de trabalho que, em Portugal, são endeusadas e tidas como indispensáveis para o sucesso escolar. Enfim, sinais de provincianismo que, como calcularão, dão um jeitão às empresas fornecedoras de tais equipamentos, propiciando excelentes negociatas, chorudas comissões, o costume…
Concluindo, não se tenha a ideia de que, agrupando os meninos numa escola central, privilegiando turmas homogéneas, com muitos meios e recursos tecnológicos, é «a» solução mais adequada. Na realidade, muitas vezes, até nem é, na medida em que pressupõe a deslocação da criança, nem sempre cómoda e segura, praticando horários que lhe são totalmente inconvenientes, isolando-o da comunidade de origem, dificultando o convívio com os adultos de referência.
Eis um assunto escaldante que os cidadãos, nomeadamente pais e encarregados de educação assim como autarcas devem dominar tão bem quanto possível no sentido de poderem defender os interesses em presença, em especial, os das crianças.
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