[sempre de acordo com a antiga ortografia]

sexta-feira, 19 de setembro de 2014


Cenas de Odeceixe [III]
 

[facebook, 16.09.2014]


Cerca das seis da manhã desabou uma respeitável trovoada. Que era de meter medo ao mais corajoso, diz a Ana Maria. Que exagero, santo Deus! Enfim, nalguma coisa havemos de discordar. Curta a sua memória. Parece esquecer-se de uma fortíssima, essa sim, apocalíptica, que nos atingiu, estávamos em viagem com as miúdas, há trinta anos, numa das deslocações entre Gardone, no La...
rgo de Garda, e Verona para assistir às récitas de ópera na arena.

Volto à madrugada de Odeceixe. Depois, veio uma chuvada monumental, prolongada, ao bater da qual voltámos a adormecer. Pelas oito, já à janela, olhando aí uns trezentos graus à volta, o oceano, a praia toda, a foz, dei-me conta do desassossego das gaivotas na ribeira. Não acontece frequentemente mas hoje, percebi logo, foi uma dessas manhãs. Havia grande cardume, daquele peixinho muito pequeno, que as punha num frenesim engraçadíssimo.

E, ainda cedo, o mercado, à minha amiga peixeira. As sardinhas já lá vão, coitadas, num almoço em que, inteirinha, a pele lhes tirámos, no ponto ideal da grelha. Também carapaus e sargos. Já sei, vou sonhar com eles. Tão frescos, tão frescos que ainda estão torcidos, mesmo depois de amanhados.

Muita leitura, caminhada na areia, de um lado para o outro, repetindo as voltas, neste cenário impossível, até contar os seis quilómetros, com os gémeos avisando que devo voltar à estrada. Tudo bem, assim será. Entretanto, como sempre, dou graças pelo privilégio
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