[sempre de acordo com a antiga ortografia]
sexta-feira, 5 de setembro de 2014
Jardim do Império,
os brasões da polémica
Sem qualquer receio de poder ser acusado de reacionarismo, manifestei-me frontalmente contra a decisão do Vereador José Sá Fernandes sobre os braões da Praça do Império. Para o efeito escrevi um texto aqui publicado no passado dia 2, anteontem.
Como não poderia deixar de suceder, estou muito bem acompanhado. A revista "Visão" desta quinta-feira, regista a opinião de conhecidos «reaccionários» tais como João Soares, ex-Presidente da Câmara Municipal de Lisboa, que considerou a não recuperação dos brasões como um «disparate».
Com especial responsabilidade na matéria, gostaria de destacar a opinião de José Augusto França, o decano da História da Arte em Portugal: "O jardim não deveria ser vítima da ideologia. Devemos acompanhar a História em vez de a destruir. Sou por obrigação moral e ética um defensor do património. O Império foi-se embora mas o jardim deve lá ficar."
Além deste, tão notável, ainda outro conhecido «reacionário», Prof. José Manuel Fernandes da Faculdade de Arquitectura da Universidade de Lisboa, também se manifestou no mesmo sentido: "Acho uma completa ignorância e, no mínimo, uma estupidez a simples hipótese de não restaurar o jardim, único no mundo. A recuperação pode ser feita com uma perspectiva pedagógica - basta lá colocar uma placa, junto aos brasões das colónias, a enquadrar a história."
Revigorado pela espalda de tão doutas opiniões, permito-me recuperar e reproduzir o meu texto referido no primeiro parágrafo:
Pata na poça!
E de que maneira...
Ali, na Praça do Império, para ser consequente com a lógica da sua ridícula pequenez, o Senhor Vereador da Câmara Municipal de Lisboa José Sá Fernandes teria de mandar rebentar, não só a fonte luminosa, mas também toda aquela moldura de edifícios que herdámos da Exposição do Mundo Português.
Era uma arquitectura levantada com materiais efémeros que, rendida à evidência de uma vontade residual da cidade, se transformou em permanente. O Espelho de Água, o Clube Naval, o Museu de Arte Popular e, caso mais paradigmático, o do célebre padrão dos Descobrimentos que, inicialmente, levantado em madeira, foi depois erguido em pedra, lembro-me perfeitamente, por altura das comemorações henriquinas.
Certamente tão «colonialista» como eu, o Senhor Vereador deveria ter aprendido que ali se conjuga uma importante questão de defesa de património que, para todos os efeitos, não é apenas físico, reduzido àqueles buchos trabalhados sob a forma de brasões. Não, ali, como em milhares de lugares mais ou menos «históricos» - e aquele tem uma carga simbólica que só Deus Nosso Senhor e nós, portugueses em geral, e portugueses de Lisboa, lisboetas de Belém, como tantos milhares e eu incluído, é que sabemos!... - ali, escrevia eu, sob as mais diversas formas, evolui um património cultural de memórias imperecíveis e intocáveis, pessoais, familiares, de várias gerações de cidadãos, vivos e bem vivos, que não vão permitir qualquer avanço de bota abaixo.
Não compreendeu o Senhor Vereador que se propunha intervir num corpo integrado do qual fazem parte peças indissociáveis. Com o arrivismo filho da falta de cuidado, meteu os pés pelas mãos e, agora, pois que se cuide e prepare para o debate! A sua gratuita atitude de incultura já está a fazer história.
Para o resto da vida, vai lembrar-se de que se enganou, redondamente, ao pensar que protagonizava uma decisão culta e progressista, à altura de quem se arroga de um pensamento consentâneo com a História, a historicidade e a verdade de um Património urbano respeitável.
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