[sempre de acordo com a antiga ortografia]

domingo, 12 de outubro de 2014



Amália,
morte há quinze anos


[facebook, 06.10.2014]

"(...) Entretanto, quando telefonei à Ana Maria, soubera que a Amália tinha morrido. Como não ouvira rádio nem vira televisão, estava a leste das notícias.

Foi um tremendo choque. Mórbido como sou, gostando muito da Amália, não raro, me punha a imaginar como seria quando ela partisse. Como reagiria eu que, pequenino, nos meus seis anos, mal sabendo pôr o gira-discos a funcionar, fazia tocar "Mãe Preta" (Barco Negro) e chorava, chorava muito, sem compreender muitas das ideias mas completamente 'apanhado' por aquela voz louca, quase gritando 'são loucas, são loouuuuucas'...

Meu Deus, a impressão que me faziam estas músicas e aquela voz perfeitamente mágica. Em casa, eu estava habituado a ouvir muita e boa música clássica. Mas havia outras coisas boas. E a Amália, certamente, também me educou o ouvido e cá deixou um residual de emoções e sentimentos que, naturalmente, só muito mais tarde, começaria a entender (...)"

Aquelas foram algumas das palavras que, em cima do acontecimento, escrevi no meu diário. Estava na Beira, de visita à minha mãe e irmãos, quando Amália nos deixou. Três dias depois, aquando do funeral:

"(...) Hoje foi o funeral da Amália, com honras de Estado. Como viajei [estive no Porto, em trabalho], não vi nada, não participei. E eu precisava. Precisava de me comover, mas lá, de comungar deste tão grande desgosto nacional. Aqui, no Porto, coisa esquisita, parece que não estou no meu país, o país de Amália. À minha volta, não sinto qualquer consternação nem sequer ambiente para partilhar a mágoa que me invade.

No Telejornal do segundo canal, fizeram uma montagem de imagens do cortejo, com o fundo musical de "O Grito", música de Carlos Gonçalves e letra de Amália que ela própria tinha pedido para a ocasião. Bem, é das coisa mais pungentes que já se cantaram. Uma impressão profundíssima, de choro e soluço incontido.

Apetece-me tanto ouvir a Amália. Fechar-me umas horas e fazer o meu luto. (...)"
Lembro-me de quase ter estado a pegar no telefone para ligar ao Jorge Rodrigues, da RDP 2, que, como eu, é um «tarado» pela Amália. Não o fiz. Tive pudor. Reservei-me na dor. Não exagero seja o que for. Foi mesmo dor, muito pesar.

Hoje, se quiserem, acompanhem-me. Claro que o meu convite é para ouvir "Barco Negro" e "O Grito". Das minhas memórias, sei eu. E das vossas?


Boa audição!


http://youtu.be/8fZD5ol3rxI Barco Negro
http://youtu.be/5YBS7x4jWi0

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