[sempre de acordo com a antiga ortografia]

quinta-feira, 23 de outubro de 2014


COMEMORAÇÔES DO ANIVERSÁRIO DE FRANZ LISZT [I]

[facebook, 22 de Outubro de 2014]

Liszt,
aniversário com Dante

Há dois anos, neste mesmo mural, em 31 de Julho (dia da morte de Franz Liszt), propus a audição de uma peça raramente escutada, "Eine Faust-Symphonie in drei Charakterbildern", a Sinfonia Fausto, com um coro final, composta entre 1854 e 1857.

Hoje, 22 de Outubro (dia do nascimento) - Raiding,1811-Bayreuth,1886 - gostaria de partilhar convosco a outra sinfonia programática de Liszt, “Eine Symphonie zu Dante Divina Commedia”, escrita entre 1855 e 1856 e estreada em 1857 cuja audição, nas salas de concerto talvez ainda seja mais rara do que a anterior.

O objectivo inicial de Liszt era compor a obra em três andamentos: um 'Inferno', um 'Purgatorio' e um 'Paradiso' em que os dois primeiros seriam puramente instrumentais e o último coral. Richard Wagner, seu genro, conseguiu convencê-lo de que nenhum compositor seria capaz de exprimir fielmente as alegrias do paraíso, com tais argumentos que Lizt desistiu do terceiro andamento não sem que tivesse acrescentado um ‘Magnificat’, com base em Lucas 1:46, no fim do segundo.

Será interessante terem em consideração que esta é uma sinfonia extremamente inovadora que propõe uma série de efeitos orquestrais e harmónicos tais como harmonias progressivas, experiências de atonalidade, 'tempi' flutuantes, interlúdios de música de câmara. Trata-se de uma das primeiras obras a utilizar a designada 'tonalidade progressiva', começando e terminando em tonalidades radicalmente diferentes, respectivamente de Ré menor e Si Maior, antecipando em cerca de quarenta anos a sua prática nas sinfonias de Gustav Mahler.

A estreia da peça ocorreu no Hoftheater de Dresden em 7 de Novembro de 1857. Foi um fiasco colossal devido a deficiências de ensaio e Liszt, que dirigiu a orquestra, sofreu uma humilhação pública. Contudo, não desanimou, mantendo a obra no concerto de 11 de Março de 1858, em Praga, juntamente com os seus poema sinfónico “Die Ideale” e segundo concerto para piano, em 11 de Março de 1858. Desta vez, a Princesa Carolyne zu Sayn-Wittgenstein, preparou um programa para o concerto que ajudaria o público a entender e a seguir a forma tão pouco comum da sinfonia.

Obra dedicada a Richard Wagner, a sinfonia está orquestrada para piccolo, duas flautas, dois oboés, corne inglês, dois clarinetes em Si bemol e em Lá, um clarinete baixo em Si bemol e Lá, dois fagotes, quatro trompas, dois trompetes em Si bemol e Ré, dois trombones tenor, um trombone baixo, uma tuba, dois pares de timpani (exigindo dois músicos) timbales, tambor baixo, duas harpas, cordas, e um coro feminino de sopranos e contraltos em que um dos sopranos deverá cantar uma parte solista.
A gravação que vos proponho é estupenda, com Giuseppe Sinopoli dirigindo a Staatskapelle de Dresden. Bom aniversário de Liszt!

Boa audição!

http://youtu.be/k8huOjLi2YE


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COMEMORAÇÔES DO ANIVERSÁRIO DE FRANZ LISZT [II]

No aniversário de Liszt,
do berço à cova

Como director musical em Weimar e aberto a novas experiências, Liszt transformou a Abertura num novo género, num único andamento, ou seja, o poema sinfónico. Quanto aos temas, consideraremos desde referências literárias e imagens até às experiências pessoais. Bem poderemos afirmar que se trata de ‘retratos sonoros’ cujo conteúdo, abarcando diferentes níveis de clareza, umas vezes, fazem a caracterização geral de um título, outras descem ao detalhe.

Assim sucedendo, dificilmente, se consegue demonstrar, em pormenor, o grau de influência do texto ou do conteúdo na economia geral da peça musical. Não obstante, há que ter presente a particularidade de todos os poemas sinfónicos serem construídos na base de uma estrutura livre e ao estilo da Fantasia.

Liszt escreveu os seguintes treze poemas sinfónicos: “Les Préludes”, (1848); “Ce qu’on entend sur la montagne” segundo Victor Hugo (1848-50); “Tasso” (1849); “Heroïde funèbre” (1849-50), extraído de uma “Sinfonia” para a revolução de 1830; “Prometheus” (1850), Abertura para o “Prometheus” de Herder; “Mezeppa”, também segundo Victor Hugo (1851); “Festklänge” (1853); “Orpheus” (1853-54); “Hungaria” (1854): “Hunnenschlacht”, inspirada num quadro de Kaulbach (1857); “Die Ideale”, segundo Schiller (1857); “Hamlet” (1858) e “Von der Wiege bis zum Grabe” (1881-82).

No âmbito desta música programática, além das obras mencionadas no parágrafo anterior, e, como tive oportunidade de já vos ter proposto a respectiva audição, ainda teremos de considerar as duas sinfonias “Eine Faust-Symphonie in drei Charakterbildern” (1854-57) e “Eine Symphonie zu Dante Divina Commedia (1855-56), esta última hoje mesmo «em cartaz» no meu mural.

Continuando a comemorar o aniversário do compositor (22.10.1811-31.07.1786), aqui vos trago o último dos poemas sinfónicos “Von der Wiege bis zum Grabe”, que poderia traduzir como “Desde o berço até ao túmulo”, ao fim e ao cabo, o percurso de uma vida, numa gravação histórica e interpretação paradigmática da NBC Symphony Orchestra, em concerto datado de 8 de Novembro de 1941, sob a direcção de Arturo Toscanini.

Boa audição!

http://youtu.be/gXzqOfc_LNw

 
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COMEMORAÇÕES DO ANIVERSÁRIO de FRANZ LISZT [III]

No aniversário de Liszt,
uma reflexão com Hamlet

Continuando a comemorar o aniversário do compositor (22.10.1811 - 31.07.1786), aqui vos trago "Hamlet" - tendo muito em consideração o profundo shakespeariano que é o Prof. Jose Luis De Moura a quem dedico esta proposta - numa leitura de Barnard Haitink dirigindo a London Philharmonic Orchestra.

Mais um poema sinfónico, outra peça de grande exaltação romântica, extremamente inspirada, muito sofisticada, da década central do século dezanove, que constituiu um dos mais fecundos períodos da produção lisztiana.

Boa audição!

http://youtu.be/UVXu8QBY6CU
 
 
 
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COMEMORAÇÕES DO ANIVERSÁRIO DE FRANZ LISZT [IV]

No aniversário de Lizt,
um testemunho de nacionalismo

Hoje, não há dúvida, é dia de perceber a cabeça e ganhar o favor dos poemas sinfónicos do aniversariante. Desta vez, com "Hungaria" (1854), eis a inflamada alma de uma voz eminente e saudavelmente nacionalista.

Não disponho de referências da gravação, circunstância que espero me relevem. De qualquer modo, basta ouvir com atenção, para perceber estarmos perante uma proposta extremamente séria, de excelente qualidade.

Boa audição!

http://youtu.be/by3PRfXV52s
http://youtu.be/mIIoUNi4Gps

 


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COMEMORAÇÕES DO ANIVERSÁRIO DE FRANZ LISZT [V]

PARTE A.
Há precisamente dois anos, no dia em que assinalava a efeméride, Emília Reis enviou-me, datado de 17 de Março de 1973, o poema que Jorge de Sena escreveu acerca de uma obra do compositor.
 
Mais uma vez, com o agradecimento devido à minha amiga, e, nas suas palvras "(...) Como nunca é de mais divulgar a obra dos nossos escritores e poetas, sobretudo aqueles que já partiram (...)", passo a transcrever:
 
A ULTIMA MÚSICA DE LISZT PARA PIANO
 
Debussy? Scriábine? Bartok?
Não. O velho Liszt sonhando ao piano
em longas pausas por entre seriais
meditações de solitários sons.
Sonhando o quê? Vivera e sonhara tudo,
e escondera mesmo em estrondos coloridos
este silêncio de não pensar nem ser
que o fascinara de terrores sentimentais.
Mas nisto não. Apenas sons e pausas
sem medo e sem fascínio -- mas também
(tamanha paz) nenhuma curiosidade
além do olhar os dedos repensados
pousados ou suspensos no piano
como os olhos se fecham sobre o já vivido
e o que não foi mas não valia a pena.

JORGE DE SENA - "Poesia - II"
Circulo de Poesia - Moraes Editores 19

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PARTE B.

No aniversário de Liszt,
uma heróica toada

 
Hoje, nada mais será preciso acrescentar para confirmar que o registo do meu mural se mantém nesta sintonia tão propícia da obra de Liszt.

“Hunnenschlacht” , em tradução literal, “Batalha dos Hunos”, é um poema sinfónico datado de 1857, inspirado numa tela que o pintor alemão Wilhelm von Kaulbach (1805–1874), pintou cerca de 1850. A quem já esteve na Neue Pinakothek de Munique, certamente que a obra não terá passado desapercebida.

Para o entendimento cabal da peça musical cumpre ter em consideração que o quadro representa uma batalha em que os espectros dos guerreiros abatidos se elevam no espaço onde continuam a lutar ainda com maior empenho. Em termos históricos, reporta-se à batalha dos hunos, comandados por Attila, contra as tropas dos romanos e visigodos, nos campos da Catalunha, no século V, mais precisamente, no ano de 451.

Não podendo descrever toda a peça, limitar-me-ei à segunda secção ‘Piu Mosso’, que começa com um grito de batalha nas trompas, que, logo de seguida é tomado pelas cordas. Em toda a secção o compositor utiliza a designada «escala cigana» à qual recorre sistematicamente em todas as obras de tema húngaro.

Farão o favor de reparar que os trombones tocam a antiga melodia em cantochão “Crux Fidelis”. Ainda curiosa, a descrição que o próprio Liszt fez desta secção: “(…) dois opostos raios de luz nos quais evoluem os Hunos e a Cruz (…)”. O tema da “Crux Fidelis” é mais adiante retomado pelas cordas, numa secção contrastante, calma, pacífica. Finalmente, aumenta a intensidade para terminar em triunfo.

Toca a Orquestra Sinfónica de Budapest sob a direcção de Arpad Joo.
Boa audição!

http://youtu.be/VZpXaxWp_1k
http://youtu.be/mqCoXmYNdfY


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