[sempre de acordo com a antiga ortografia]

sexta-feira, 17 de outubro de 2014



No monte,
sob o telheiro


[facebook, 13.10.2014]

Como de costume, fim de semana no Alentejo. Em pleno Outono, devido às designadas ‘inclemências do tempo’, estamos algo recolhidos, um pouco mais recolhidos do que há umas semanas. Nada de vento mas muita chuva, trovoada linda, gozadas no monte, perfeitissimamente isolado.

Sob a protecção de um imenso telheiro que rodeia a metade da casa menos susceptível aos ventos, passamos horas e horas ‘extra-muros’ enquanto o céu parece desabar. É aqui, num exterior recolhido, que mais sentimos o perto das nossas árvores. Daqui tudo vemos. Tudo o que nos é grato, doce e tão tranquilo que a pele arrepia.

As figueiras velhas, os marmeleiros rudes, os espectaculares sobreiros, tão grandes e velhos, o olival de avantajado compasso, onde caberiam mais umas centenas de oliveiras se fôssemos na conversa do negócio do momento, do regime intensivo… E as fruteiras. tão pródigas, generosas, devolvendo um carinho cheio de exageros de fruta que, na sua época, parece não quererem desgostar-nos com «poupanças»…

São laranjeiras, tangerineiras, diospireiros, amendoeiras, pessegueiros, todas plantadas com a ajuda do meu querido amigo Nita, a quem devo todo o sossego das coisas bem feitas, com a sabedoria da tradição. O meu querido amigo Nita, que já não está connosco, na sequência de um estupor de um avc que o apanhou aqui, precisamente, no nosso monte.
 
É a primeira vez, depois de anos de uma reserva que só eu sei, que consigo partilhar com terceiros umas palavras, estas toscas linhas, lembrando o meu querido amigo Nita. Para sempre, verdade escrita seja, me ficou o sorriso. Aqui, sob este mesmo telheiro, onde vieram dar com ele, no fim de certa manhã, depois de horas em que não deu sinal de si.
 
Por aqui anda, no monte, que também é seu.
E não nos deixa fazer asneiras!…

[À memória do Nita, com beijinho à Cidalia Ferreira]

 

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