[sempre de acordo com a antiga ortografia]
quarta-feira, 5 de novembro de 2014
Padre Manuel Antunes,
3 de Novembro de 1918
[facebook, 03.11.2014]
Mais uma vez, a comemorar uma efeméride que me é muito cara. Como, entretanto, nada se alterou, eis o texto que aqui publiquei há precisamente um ano.
Não posso deixar passar o dia sem lembrar o académico que, na Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa, foi o meu mestre mais notável. Afirmá-lo assim, sem mais cuidados, não deixa de constituir certa ousadia. Tive professores excelentes, desde Vitorino Nemésio a Luís Filipe Lindley Cintra e Pais da Silva, Erwin Theodor Rosenthal, Fernando Moser, Jacinto do Prado Coelho, Maria de Lourdes Belchior, João de Almeida Flor e outros que muito notabilizaram a Faculdade. A verdade, contudo, é que todos os citados reconheciam em Manuel Antunes a excepcionalidade que comecei por destacar.
Na efeméride dos noventa e seis anos do seu nascimento, gostaria de vos propor a reprodução de dois textos oportunamente publicados.
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I.
Quarta-feira, 7 de Setembro de 2011
Padre Manuel Antunes,
o portento
No passado domingo, na última edição do programa Ponto Contraponto, do canal televisivo Sic Notícias, José Pacheco Pereira chamou a atenção para um curso, sobre a Grécia Antiga, ministrado pelo historiador americano, Prof. Donald Kagan, da Universidade de Yale. E, para o efeito, passou um excerto da aula de introdução em que o académico fala sobre os motivos pelos quais é suposto que o cidadão comum se interesse pelos antigos gregos, não só em função dos imensos contributos para a Civilização Ocidental, por exemplo, no domínio da Ciência, Direito e Política, mas também devido à sua concepção única da Humanidade.
Adiantou mais uma ou outra generalidade e, santo Deus, tudo aquilo me soube imenso a muito pouco… Imediatamente, a minha mulher, que comigo assistia, me tirou da boca as palavras que eu estava prestes a dizer: ”Coitado do Pacheco Pereira, não teve a nossa sorte…” Lembrava as «nossas» aulas de História da Cultura Clássica, em 1965, na Faculdade de Letras de Lisboa, comparando com aquela amostra da prestação de Kagan. Que diferença entre estas quase banalidades do professor americano e o rigor, a profundidade científica das extraordinárias lições do Padre Manuel Antunes!
Felizmente há centenas de jovens da nossa geração, muitos e conhecidos intelectuais, artistas e homens de letras, tal como nós, também seus antigos alunos, que podem e têm dado testemunho inequívoco do altíssimo gabarito de Manuel Antunes, por muitos considerado o maior erudito e intelectual português do século vinte. Assim sendo, se a minha opinião por alguma coisa peca, é por manifesto defeito.
Bem imagino que opinião seria a do exigentíssimo Manuel Antunes acerca da wikipedia, essa bíblia da informação mastigada, qual espécie de Reader’s Digest... No entanto, sabendo que a maioria dos leitores não dispensa este fácil recurso, cometo o sacrilégio de aconselhar a consulta. Lá irão encontrar dois curiosos depoimentos de dois queridos e saudosos companheiros, Eduardo Prado Coelho e João Bénard da Costa, que vale a pena ter em consideração acerca da personalidade de Manuel Antunes.
Permitir-me-ia deixar um conselho a José Pacheco Pereira e a quem estiver interessado no estudo da herança grega, em particular, e dos clássicos, em geral. A Fundação Calouste Gulbenkian (Serviço de Educação e Bolsas) publica a Obra Completa do Padre Manuel Antunes. No Tomo I, Volume II, Parte I, pode aceder-se à famosa Sebenta da História da Cultura Clássica, numa Edição Crítica extremamente escrupulosa cuja coordenação científica foi confiada ao Prof. Doutor Arnaldo Espírito Santo.
Trata-se de obra absolutamente fundamental, lições de uma Academia que só está acessível por esta via, em que cada página é o deslumbramento perante a concretizada ideia de que o conhecimento é o maior bem. Se quiserem acreditar na humilde opinião de um aluno, eternamente grato pelo privilégio que foi o seu, pois fiquem com a certeza de Manuel Antunes ser o paradigma do professor que, constantemente, desafia os talentos de cada um, arruma, sistematiza conceitos, para abrir todas as portas possíveis. Um espanto, uma surpresa, ainda hoje, quase cinquenta anos depois…
Finalmente, ainda mais uma nota que não deixa de ser outro conselho. Interessem-se pelas actividades do Instituto Europeu de Ciências da Cultura Padre Manuel Antunes. Verão como tenho razão em vo-lo aconselhar.
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II.
A propósito do Padre Manuel Antunes, também gostaria de transcrever o comentário que, acerca do texto inicial, escrevi no facebook:
"Os de germânicas apanhavam Manuel Antunes logo no primeiro ano, em Cultura Clássica. Que maravilha, o seu Latim restaurado... O magistério de MA, (...) , não acontecia apenas nas aulas. Também não me lembro de ele falar de Kierkegard nas aulas mas, isso sim, em conversas com a JUC, a que eu pertencia - nesse contexto conheci o Ruy Belo, uns bons anos mais velho - malta que se juntava à volta do jornal 'Encontro', em conversas com gente afecta a 'O Tempo e o Modo', em especial com o Alçada Baptista e João Bénard da Costa.
Se quiser ter a paciência de ler os meus textos sobre o João Bénard da Costa no blogue sintradoavesso, lá encontrará referências a Manuel Antunes. Aproveito a oportunidade para lhe aconselhar, o mais vivamente possível, um texto de João Bénard da Costa sobre o Padre Manuel Antunes, onde ele cita Kierkegard e a sua 'Alternativa', texto esse subordinado ao título "A casa encantada. O Padre Manuel Antunes: o lugar do saber" que, na minha modesta opinião, é só o melhor «retrato» desse grande senhor da Cultura Portuguesa.
Depois de ter tido o privilégio de ser seu aluno, bem posso dizê-lo, passei a ser outra pessoa, a minha cabeça passou a exigir uma outra 'arrumação' dos fenómenos culturais, incompreensíveis se não pressupuserem a semiogonia e semiologia, marcos essenciais da abordagem antuniana. (...) Para aceder ao texto que aconselhei, entre outras alternativas, poderá ir ao google, escrever o título que ele aparecerá no site do Secretariado Nacional da Pastoral da Cultura."
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