[sempre de acordo com a antiga ortografia]

sábado, 6 de dezembro de 2014



 
[Transcrição do artigo publicado na edição do 'Jornal de Sintra' de 28 de Novembro de 2014. Entre outros assuntos, uma chamada de atenção para a necessidade de a Câmara Municipal de Sintra articular com as autoridades policiais, no sentido de não tolerar atitudes de falta de civismo, infelizmente tão habituais no dia-a-dia, enquanto não estiverem disponíveis as infraestruturas de estacionamento, transportes e organização do tráfego que, nalguns casos, vão demorar muitos meses e, inclusive, vários anos a concretizar totalmente. A vida continua, é verdade, mas não pode continuar o inferno em que estamos envolvidos!...]


A vida continua


A abrir, um aviso prévio. Hoje, esta minha coluna de opinião é escrita na primeira pessoa do plural, opção tanto mais pertinente quanto a subscrevo também como parte de um colectivo, ou seja, enquanto membro da Canaferrim, Associação Cívica e Cultural que, após constituição formal em 13 de Outubro, ontem se apresentou à população de Sintra no enquadramento da tomada de possa dos seus órgãos dirigentes.

Durante a iniciativa da Presidência Aberta que, há precisamente três semanas, contemplou algumas questões dentre as inúmeras por resolver no vasto território da União das Freguesias de Sntra, o executivo municipal anunciou a intenção de concretizar vários projectos, nomeadamente, no domínio do estacionamento, trânsito e do acesso ao centro histórico e pontos altos da Serra, acerca dos quais já tivemos oportunidade, na última edição do JS, de partilhar uma primeira abordagem de reacção.

Expressámos e, neste momento, voltamos a realçar que um dos mais positivos momentos da jornada em referência passou pelo cuidado do Senhor Presidente da Câmara Municipal de Sintra em esclarecer que, nesta altura, ainda estamos numa fase muito incipiente dos processos de resolução, porquanto nada do que foi ventilado é definitivo, em especial, relativamente à controversa solução do teleférico, cuja possibilidade de instalação suscita as maiores e preocupantes dúvidas.

Para todos os efeitos, espera-nos um longo processo de meses e, nalguns casos, mesmo de vários anos, até que vejamos concretizados os projectos que ainda estão longe sequer de atingir o período de consulta pública. Para já, tão urgente quanto a CMS possa e queira, autarcas e técnicos por um lado e, por outro, os cidadãos, as associações cívicas e culturais que os representam – bem como os peritos que estas não deixarão de convidar para corroborar os seus pontos de vista – todos nos deveremos envolver empenhadamente no sentido de que tudo seja previamente escrutinado e nada deixado ao acaso dos imprevistos obviáveis.

Naturalmente, este é um período crucial. Se tudo correr tão bem quanto é justo esperar entre pessoas civilizadas e apenas apostadas em trabalhar para o bem comum, poderemos ter a certeza de que, embora com muitos anos de atraso, honraremos com a qualidade que se nos impõe, os desafios cujas difíceis mas adequadas respostas nos cabem.

Entretanto, como soe dizer-se, a vida continua. Ou seja, em muitos casos, com trânsito extremamente problemático e estacionamento caótico, problemas estes cujas soluções, a título transitório, não podem deixar de garantir aos munícipes que são expeditas, eficazes e que, entretanto, devem vigorar de tal modo que não seja ainda mais prejudicada a já tão grave situação vigente na sede do concelho. E, tal como está, é impossível continuar.

Há que introduzir alterações, quanto mais não seja, ao nível do exercício de uma autoridade que, efectivamente, não se tem feito sentir. Portanto, para que a vida possa continuar – mesmo assim, na ausência das alternativas estruturais que, só a prazo, estarão disponíveis, sem maiores ofensas à actual e tão precária qualidade de vida na zona em apreço – a Câmara será obrigada a um esforço muito significativo, por exemplo, ao nível de alterações no exercício da autoridade civil que, lamentável e infelizmente, não se tem feito sentir.

Autoridade, pequenas intervenções, grandes ganhos

A circunstância de se avizinhar a quadra natalícia propiciará aos munícipes a possibilidade de escrutinar até que ponto a CMS está ou não disposta a melhorar a sua capacidade de articulação com as forças policiais, PM e GNR, com o objectivo de disciplinar – sem quaisquer contemplações nem indícios da prática da famigerada tolerância, tão geradora de injustiça e prejudicial ao bem-estar de todos – trânsito e estacionamento nas áreas mais críticas.

Além do próprio centro histórico, e pela enésima vez, cumpre-nos alertar para uma incidência de adequado zelo na zona do Centro Cultural Olga Cadaval que, durante este período, com festas e espectáculos quase todos os dias, de manhã, à tarde e à noite, transformam a coabitação entre moradores, espectadores, visitantes e respectivas viaturas numa mistura verdadeiramente explosiva.
 
É neste contexto que se nos afigura da maior relevância o cumprimento de uma recente promessa do Senhor Vereador Luís Patrício que muito contribuiria para a regularização do estacionamento nesta tão causticada zona da sede do concelho. Ao Jornal da Região*, durante a referida Presidência Aberta, revelou o edil e sem margem para qualquer dúvida, que a Câmara pretende recolocar a ponte metálica pedonal de ligação entre a Portela e a Estefânea e, inclusive, considerando-a como “reclamação constante e pertinente” dos munícipes.

Ora bem, é sabido que o dispositivo está recuperado e pronto a ser reposto, operação que não tem sido possível concretizar devido a um diferendo suscitado por interesses de particulares. Afinal, porque é nestes únicos e precisos termos que a questão se coloca, tudo acaba por depender da vontade de actuar em consonância, por parte do executivo autárquico que, cumpre lembrar, está mandatado para o efeito, já que o interesse geral da comunidade prevalece.

Com um eficaz encaminhamento dos veículos para este recinto adjacente ao edifício do Departamento do Urbanismo, intervindo as polícias como lhes compete, muitos casos de descontentamento se resolverão. Haja coragem, competência, e resolver-se-ão muitos dos actuais problemas de estacionamento, em determinados horários, quer nocturnos nos dias úteis, quer, em geral, nos fins de semana.

Finalmente, mais uma alusão ao caso do teleférico que, pelo mediatismo que a própria solução implica, tem sido genericamente sobrevalorizado em relação a toda a matéria veiculada durante a jornada de 7 do corrente. Parece-nos que o Senhor Vereador Luís Patrício poderia ir adiantando trabalho em relação ao futuro período de debate se explicitasse as fundamentadas razões que o terão levado à opção em causa, num local com as características de Sintra, atravessando áreas classificadas, descartando a do funicular que, urbi et orbe, é tida como a menos intrusiva, de investimento financeiro mais conveniente, mais segura, menos gastadora de energia, causando menor impacto a todos os níveis.

O tempo é tão curto que acolheremos qualquer antecipação de braços abertos.

*Jornal da Região, ‘Melhorias prometidas para a zona pedonal da Avenida Heliodoro salgado’, (João Carlos Sebastião), ed. 12 a 18 de Novembro de 2014


[João Cachado escreve de acordo com a antiga ortografia]
 

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