2015, Salzburg, XXII
À Missa,
por Mozart
[facebook, 30.01.2015]
No dia 27 também fui à Missa. Em memória de Mozart, naturalmente. Não pensem, contudo, que fui assistir a alguma cerimónia oficial de sufrágio. Que eu saiba, entidade alguma promove tal atitude. Por isso, trato eu da questão. Escolho a igreja de São Pedro onde, de certeza absoluta, sei que Wolfgang Mozart ali viveu, pelo menos, um dia de grande júbilo.
De facto, em 26 de Outubro de 1783, data que todos os verdadeiros mozartianos sabem de cor, Amadé apresentou, nesta Abadia – que não estava sob a jurisdição do Príncipe-Arcebispo Hieronymus Joseph Franz de Paula, Conde de Colloredo von Wallsee und Melz*, com quem se tinha incompatibilizado dois anos antes – a sua Missa em Dó menor, KV 427.
Foi precisamente nessa ocasião que Constanze cantou uma das partes de soprano, ela que, pela primeira vez, aparecia na cidade para ser apresentada ao sogro Leopold, à cunhada Nannerl, aos amigos e conhecidos e, enfim, à sociedade salisburguense em geral.
Adoro ir àquela igreja. Ali há um pouco mais de sossego do que nas outras vizinhas, é possível um certo recolhimento em algumas horas onde, pura e simplesmente, ninguém aparece. E, coisa que não acontece apenas comigo, pois já tenho partilhado e confirmado a impressão com amigas e amigos, é lá que se sente uma especial presença de Wolfgang Mozart.
Remonta ao século VII. Mas só quinhentos anos mais tarde, em 1147, é que acontece a sagração do templo, data que também não preciso de confirmar porque, bem a meio da nave principal, sempre passo sobre o túmulo do seu Abade Balderico que morreu, justamente, naquele ano.
Na nave lateral direita, o túmulo de São Ruperto, o primeiro Bispo de Salzburg, primeiro Abade de São Pedro e patrono da cidade. E, quem põe em causa que foi sob a sua estupenda proteção e bênção que Salzburg atingiu um dos mais altos patamares da cultura e civilização europeias?… Ah grande santo!
Pois lá fui à Missa. Católico como ele, encomendei sua alma ao Senhor Jesus. Como M:. M:. e MQI, tenho-o na mesma conta de todos quantos, mais e menos ilustres, já passaram ao Oriente Eterno com a convicção – que ele próprio confirmou em carta a seu pai – de que a Morte é a nossa melhor amiga. E, como melómano, apenas me resta este culto de subordinada e canina dependência da sua suprema criatividade, cuja expressão superficial conhecem os meus amigos…
É neste compósito contexto que, agora, abandonando o tom algo jocoso, vos proponho a audição da Missa em Dó menor, KV. 427, um dos legados máximos da música sacra de todos os tempos. Vai interpretada pelas vozes solistas de Miah Persson: soprano, Ann Hallenberg: contralto, Helge Rønning: tenor, Peter Mattei: barítono, Royal Stockholm Philharmonic Orchestra & Monteverdi Choir, sob a direcção de Sir John Eliot Gardiner.
E, já agora, a notícia em primeira mão de que, precisamente, este Maestro e os English Baroque Soloists, Monteverdi Choir e Solistas do Monteverdi Choir estarão na Mozartwoche de 2016, às 19.30 do dia 23 de Janeiro, no Grosses Festspielhaus, para interpretarem não só esta peça sublime mas também o Requiem KV. 626.
Boa audição!
____________________
*Normalmente, referimo-nos a este prelado, que tão má relação teve com o compositor – convenhamos que até com alguma razão - como «o Colloredo». Mas eu adoro declinar o seu nome próprio e o título nobiliárquico. Confessem que tem outro chic…
http://youtu.be/TGCUPyrk4Eg
À Missa,
por Mozart
[facebook, 30.01.2015]
No dia 27 também fui à Missa. Em memória de Mozart, naturalmente. Não pensem, contudo, que fui assistir a alguma cerimónia oficial de sufrágio. Que eu saiba, entidade alguma promove tal atitude. Por isso, trato eu da questão. Escolho a igreja de São Pedro onde, de certeza absoluta, sei que Wolfgang Mozart ali viveu, pelo menos, um dia de grande júbilo.
De facto, em 26 de Outubro de 1783, data que todos os verdadeiros mozartianos sabem de cor, Amadé apresentou, nesta Abadia – que não estava sob a jurisdição do Príncipe-Arcebispo Hieronymus Joseph Franz de Paula, Conde de Colloredo von Wallsee und Melz*, com quem se tinha incompatibilizado dois anos antes – a sua Missa em Dó menor, KV 427.
Foi precisamente nessa ocasião que Constanze cantou uma das partes de soprano, ela que, pela primeira vez, aparecia na cidade para ser apresentada ao sogro Leopold, à cunhada Nannerl, aos amigos e conhecidos e, enfim, à sociedade salisburguense em geral.
Adoro ir àquela igreja. Ali há um pouco mais de sossego do que nas outras vizinhas, é possível um certo recolhimento em algumas horas onde, pura e simplesmente, ninguém aparece. E, coisa que não acontece apenas comigo, pois já tenho partilhado e confirmado a impressão com amigas e amigos, é lá que se sente uma especial presença de Wolfgang Mozart.
Remonta ao século VII. Mas só quinhentos anos mais tarde, em 1147, é que acontece a sagração do templo, data que também não preciso de confirmar porque, bem a meio da nave principal, sempre passo sobre o túmulo do seu Abade Balderico que morreu, justamente, naquele ano.
Na nave lateral direita, o túmulo de São Ruperto, o primeiro Bispo de Salzburg, primeiro Abade de São Pedro e patrono da cidade. E, quem põe em causa que foi sob a sua estupenda proteção e bênção que Salzburg atingiu um dos mais altos patamares da cultura e civilização europeias?… Ah grande santo!
Pois lá fui à Missa. Católico como ele, encomendei sua alma ao Senhor Jesus. Como M:. M:. e MQI, tenho-o na mesma conta de todos quantos, mais e menos ilustres, já passaram ao Oriente Eterno com a convicção – que ele próprio confirmou em carta a seu pai – de que a Morte é a nossa melhor amiga. E, como melómano, apenas me resta este culto de subordinada e canina dependência da sua suprema criatividade, cuja expressão superficial conhecem os meus amigos…
É neste compósito contexto que, agora, abandonando o tom algo jocoso, vos proponho a audição da Missa em Dó menor, KV. 427, um dos legados máximos da música sacra de todos os tempos. Vai interpretada pelas vozes solistas de Miah Persson: soprano, Ann Hallenberg: contralto, Helge Rønning: tenor, Peter Mattei: barítono, Royal Stockholm Philharmonic Orchestra & Monteverdi Choir, sob a direcção de Sir John Eliot Gardiner.
E, já agora, a notícia em primeira mão de que, precisamente, este Maestro e os English Baroque Soloists, Monteverdi Choir e Solistas do Monteverdi Choir estarão na Mozartwoche de 2016, às 19.30 do dia 23 de Janeiro, no Grosses Festspielhaus, para interpretarem não só esta peça sublime mas também o Requiem KV. 626.
Boa audição!
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*Normalmente, referimo-nos a este prelado, que tão má relação teve com o compositor – convenhamos que até com alguma razão - como «o Colloredo». Mas eu adoro declinar o seu nome próprio e o título nobiliárquico. Confessem que tem outro chic…
http://youtu.be/TGCUPyrk4Eg
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