2015, Salzburg, XXI
Marc Minkowski,
Música, Memória & Responsabilidade
[facebook, 30.01.2015]
No passado dia 27, ainda outro evento marcante, por ocasião da passagem do aniversário de Mozart. Reporto-me ao concerto das 19,30 na Grosse Saal do Mozarteum, em que, dirigindo Les Musiciens du Louvre Grenoble, Mar Minkowski nos trouxe um programa muito interessante.
Teve o condão especialíssimo de propiciar a audição, em simultâneo, de dois dos instrumentos que pertenceram ao próprio Mozart e que ele tocou em diferentes períodos da vida. Em primeiro lugar, o Pianoforte da oficina de Anton Gabriel Walter, de cinco oitavas, que deve ter sido construído em 1782, comprado pelo compositor antes de 1785 para tocar nos vários auditórios em que se fazia ouvir em Viena.
A outra «vedeta instrumental» em presença foi um dos seus violinos, o último que utilizou. É da manufactura de Pietro antonio Dalla Costa, de Treviso, cidade que bem conheço, a poucos quilómetros a Norte de Veneza. Constanze vendeu o violino, instrumento este que sempre manteve uma nota relativa à compra, por Johann Anton André: “Este violino é do espólio de Mozart e Mozart sempre nele tocou. Comprei-o à viúva Mozart”.
Tocados, respectivamente, por Franceco Corti e Thibault Noally - ambos membros da orquestra fundada e dirigida por Minkowski, sendo Noally o concertino – soaram estupenda e emotivamente. Não esqueçamos que, há mais de dois séculos e meio, não se apresentavam em concerto público com estas características. Pois bem, não deixa de ser fantástico confirmar, em especial no que se refere ao pianoforte, que som «produzido» tinha Mozart na cabeça pois, de facto, nada tinha a ver com o dos posteriores pianos.
Antes de começar o concerto, Marc Mikowski lembrou que, à efeméride do aniversário de Mozart, se vivia outra, já que neste mesmo dia de 1945, acontecia a libertação do campo de extermínio – já a designação é um horror!... – de Auschwitz-Birkenau. Campos de extermínio, campos de concentração, campos de trabalho. “Arbeit macht frei”, lembram-se? Entretanto, irreversível, o escândalo continua a desafiar a explicação. Porque o Homem, na realidade, foi capaz, é capaz.
Marc Minkowski lembrou e pediu um minuto de silêncio. Assim se fez. Aqui, «a coisa» rondou muito próxima. Ainda ontem, passei pela placa aposta numa fachada do claustro da igreja dos Franciscanos, onde está gravada a informação de que ali funcionaram os serviços da Gestapo.
Em programa, o “Concerto em Lá Maior para Piano e Orquestra” KV. 488, o “Concerto em Lá Maior para Violino e Orquestra” KV. 219 e a Sinfonia No. 9 em Dó Maior” D 944 de Franz Schubert. No palco da Grosse Saal do Mozarteum, não é fácil alojar o conjunto enorme de músicos necessários. E, na preparação do espaço, todos colaboram, inclusive o próprio Maestro, que põe uma cadeira aqui ou ali, uma estante, as partituras, etc.
Interpretações de alta qualidade. Achei que Thibault Noally não estaria nos seus dias mais propícios. Alguma precipitação em cordas duplas e cruzadas foram por demais evidentes mas, de modo algum, comprometendo o resultado. Mas, decisivamente grandiosa, a execução da ‘Grande’, no epíteto que ganhou a Sinfonia de Schubert.
Aliás, o que está a acontecer na Mozartwoche, em relação à obra sinfónica de Schubert é das melhores iniciativas desta edição do Festival já que nos permite ouvir todas as Sinfonias do compositor por grandes orquestras, maestros e intérpretes.
Eis uma proposta, precisamente, na interpretação de Les Musiciens du Louvre Grenoble sob a direcção de Marc Minkowski.
Boa Audição!
http://youtu.be/-dteT1zm9Ho
Marc Minkowski,
Música, Memória & Responsabilidade
[facebook, 30.01.2015]
No passado dia 27, ainda outro evento marcante, por ocasião da passagem do aniversário de Mozart. Reporto-me ao concerto das 19,30 na Grosse Saal do Mozarteum, em que, dirigindo Les Musiciens du Louvre Grenoble, Mar Minkowski nos trouxe um programa muito interessante.
Teve o condão especialíssimo de propiciar a audição, em simultâneo, de dois dos instrumentos que pertenceram ao próprio Mozart e que ele tocou em diferentes períodos da vida. Em primeiro lugar, o Pianoforte da oficina de Anton Gabriel Walter, de cinco oitavas, que deve ter sido construído em 1782, comprado pelo compositor antes de 1785 para tocar nos vários auditórios em que se fazia ouvir em Viena.
A outra «vedeta instrumental» em presença foi um dos seus violinos, o último que utilizou. É da manufactura de Pietro antonio Dalla Costa, de Treviso, cidade que bem conheço, a poucos quilómetros a Norte de Veneza. Constanze vendeu o violino, instrumento este que sempre manteve uma nota relativa à compra, por Johann Anton André: “Este violino é do espólio de Mozart e Mozart sempre nele tocou. Comprei-o à viúva Mozart”.
Tocados, respectivamente, por Franceco Corti e Thibault Noally - ambos membros da orquestra fundada e dirigida por Minkowski, sendo Noally o concertino – soaram estupenda e emotivamente. Não esqueçamos que, há mais de dois séculos e meio, não se apresentavam em concerto público com estas características. Pois bem, não deixa de ser fantástico confirmar, em especial no que se refere ao pianoforte, que som «produzido» tinha Mozart na cabeça pois, de facto, nada tinha a ver com o dos posteriores pianos.
Antes de começar o concerto, Marc Mikowski lembrou que, à efeméride do aniversário de Mozart, se vivia outra, já que neste mesmo dia de 1945, acontecia a libertação do campo de extermínio – já a designação é um horror!... – de Auschwitz-Birkenau. Campos de extermínio, campos de concentração, campos de trabalho. “Arbeit macht frei”, lembram-se? Entretanto, irreversível, o escândalo continua a desafiar a explicação. Porque o Homem, na realidade, foi capaz, é capaz.
Marc Minkowski lembrou e pediu um minuto de silêncio. Assim se fez. Aqui, «a coisa» rondou muito próxima. Ainda ontem, passei pela placa aposta numa fachada do claustro da igreja dos Franciscanos, onde está gravada a informação de que ali funcionaram os serviços da Gestapo.
Em programa, o “Concerto em Lá Maior para Piano e Orquestra” KV. 488, o “Concerto em Lá Maior para Violino e Orquestra” KV. 219 e a Sinfonia No. 9 em Dó Maior” D 944 de Franz Schubert. No palco da Grosse Saal do Mozarteum, não é fácil alojar o conjunto enorme de músicos necessários. E, na preparação do espaço, todos colaboram, inclusive o próprio Maestro, que põe uma cadeira aqui ou ali, uma estante, as partituras, etc.
Interpretações de alta qualidade. Achei que Thibault Noally não estaria nos seus dias mais propícios. Alguma precipitação em cordas duplas e cruzadas foram por demais evidentes mas, de modo algum, comprometendo o resultado. Mas, decisivamente grandiosa, a execução da ‘Grande’, no epíteto que ganhou a Sinfonia de Schubert.
Aliás, o que está a acontecer na Mozartwoche, em relação à obra sinfónica de Schubert é das melhores iniciativas desta edição do Festival já que nos permite ouvir todas as Sinfonias do compositor por grandes orquestras, maestros e intérpretes.
Eis uma proposta, precisamente, na interpretação de Les Musiciens du Louvre Grenoble sob a direcção de Marc Minkowski.
Boa Audição!
http://youtu.be/-dteT1zm9Ho
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