[sempre de acordo com a antiga ortografia]

quinta-feira, 4 de junho de 2015





Viena, 3 de Abril de 1897,
morte de Johannes Brahms (n. 1833)


[facebook, 03.04.2015]

Hoje, Sexta-Feira Santa, na efeméride brahmsiana, o justo e adequado contexto à reflexão sobre


A EFÉMERA PASSAGEM DOS DIAS E O IMPERATIVO DO DESPOJAMENTO
________________


Porque toda a carne é como a erva, e toda a glória do homem como a flor da erva.
A erva seca e a flor cai.

 
1. São Pedro 1, 24
_________________


A transitoriedade e o carácter efémero da vida constituem matizes de um mesmo quadro de referência, nos termos do qual o apelo ao lúcido e inevitável despojamento da matéria é coisa absolutamente decisiva, para ser atendida e posta em prática em todos os tempos, de tal modo que prevaleça o espírito e que, liberto este das amarras dos bens tangíveis, possa aceder à Arte, à Beleza, ao Conhecimento, como sublimes atributos da própria ideia da divindade.

A propósito, sim

Por uma série de afinidades e conotações, não consigo deixar de relacionar a reflexão que convosco partilho com uma peça fundamental do romantismo alemão musical tardio. Trata-se de “Ein deutsches Requiem”, op. 45 de Johannes Brahms obra datada de 1868, que, apesar do título, não reveste a forma da canónica missa que, muito naturalmente, se associa ao conceito de requiem.

Neste caso, Brahms procedeu a uma tão livre como criteriosa selecção de estratos da Bíblia, traduzidos para alemão, que, nada tendo a ver com o latino ordinário da missa de defuntos, nos remetem para uma visão despojada, necessariamente mais serena da existência humana, talvez mais próxima da mundividência cristã protestante, ainda que o compositor não fosse crente.

Para nós, cristãos, hoje é dia especial de celebração da Vida, em são convívio com a ideia e a realidade da Morte, indispensável à superação e à síntese que resulta da dicotomia. O homem crente que sou, conjuga-as no trilho de uma hegeliana síntese triádica, em que ambas se articulam com a Música, a Arte que me é mais próxima e que, como toda a Arte, mais me aproxima do sublime.

Se puderem, acompanhem-me numa audição de “Ein deutsches Requiem”. Pode não ser hoje mas não deixem de o fazer. Hão-de compreender, estou certo, a razão de vo-lo aconselhar, como mais uma peça do puzzle que muitos de nós vamos jogando ao longo da vida, na tentativa de nos libertarmos do acessório. Acompanhem a audição com os textos bem presentes. Indispensável!
_______________

Deixo-vos com uma gravação de absoluta referência:

Barítono -- Dietrich Fischer-Dieskau
Soprano -- Elisabeth Schwarzkopf
Coro -- Philharmonia Chorus Londres
Maestro -- Otto Klemperer
Orquestra -- Philharmonia Orchestra Londres
Orgão -- Ralph Downes


I. "Selig sind, die da Leid tragen"
II. "Denn alles Fleisch, es ist wie Gras"
III. "Herr, lehre doch mich"
IV. "Wie lieblich sind diene Wohnungen"
V. "Ihr habt nun Traurigkeit"
VI. "Denn wir haben hier kleine bleibende Statt"
VII. "Selig sind die Toten


Boa audição!

-------------------------------TEXTOS---------------------------
---------------------------Original Alemão----------------------

Selig sind, die da Leid tragen,
denn sie sollen getröstet werden. Matthäus 5:4

Die mit Tränen säen,
werden mit Freuden ernten.
Sie gehen hin und weinen
und tragen edlen Samen,
und kommen mit Freuden
und bringen ihre Garben. Psalm 126:5-6
Denn alles Fleisch, es ist wie Gras
und alle Herrlichkeit des Menschen
wie des Grases Blumen.
Das Gras ist verdorret
und die Blume abgefallen. I Petrus 1:24

So seid nun geduldig, liebe Brüder,
bis auf die Zukunft des Herrn.
Siehe, ein Ackermann wartet
auf die köstliche Frucht der Erde
und ist geduldig darüber,
bis er empfahe den Morgenregen und Abendregen.
So seid geduldig. Jakobus 5:7

Aber des Herrn Wort bleibet in Ewigkeit. I Petrus 1:25
Die Erlöseten des Herrn werden wieder kommen
und gen Zion kommen mit Jauchzen.
Freude, ewige Freude
wird über ihrem Haupte sein;
Freude und Wonne werden sie ergreifen,
und Schmerz und Seufzen wird weg müssen. Jesaja 35:10
Herr, lehre doch mich,
daß ein Ende mit mir haben muß,
und mein Leben ein Ziel hat,
und ich davon muß.
Siehe, meine Tage sind
einer Handbreit vor dir,
und mein Leben ist wie nichts vor dir.

Ach, wie gar nichts sind alle Menschen,
die doch so sicher leben.
Sie gehen daher wie ein Schemen,
und machen ihnen viel vergebliche Unruhe;
sie sammeln, und wissen nicht,
wer es kriegen wird.
Nun, Herr, wes soll ich mich trösten?
Ich hoffe auf dich. Psalm 39:5-8

Der Gerechten Seelen sind in Gottes Hand,
und keine Qual rühret sie an. Weisheit Salomos 3:1
Wie lieblich sind deine Wohnungen,
Herr Zebaoth!
Meine Seele verlanget und sehnet sich
nach den Vorhöfen des Herrn;
mein Leib und Seele freuen sich
in dem lebendigen Gott.
Wohl denen, die in deinem Hause wohnen,
die loben dich immerdar. Psalm 84:1,2,4
Ihr habt nun Traurigkeit;
aber ich will euch wiedersehen
und euer Herz soll sich freuen,
und eure Freude soll niemand von euch nehmen. Johannes 16:22

Ich will euch trösten,
wie einen seine Mutter tröstet. Jesaja 66:13

Sehet mich an: Ich habe eine kleine Zeit
Mühe und Arbeit gehabt
und habe großen Trost funden. Sirach 51:35
Denn wir haben hie keine bleibende Statt,
sondern die zukünftige suchen wir. Hebräer 13:14

Siehe, ich sage euch ein Geheimnis:
Wir werden nicht alle entschlafen,
wir werden aber all verwandelt werden;
und dasselbige plötzlich, in einem Augenblick,
zu der Zeit der letzen Posaune.
Denn es wird die Posaune schallen,
und die Toten werden auferstehen unverweslich,
und wir werden verwandelt werden.
Dann wird erfüllet werden das Wort, das geschrieben steht:
Der Tod ist verschlungen in den Sieg.
Tod, wo ist dein Stachel?
Hölle, wo ist dein Sieg? I Korinther 15:51-55

Herr, du bist würdig,
zu nehmen Preis und Ehre und Kraft,
denn du hast alle Dinge geschaffen,
und durch deinen Willen haben sie das Wesen
und sind geschaffen. Offenbarung 4:11
Selig sind die Toten, die in dem Herren sterben, von nun an.
Ja der Geist spricht, daß sie ruhen von ihrer Arbeit;
denn ihre Werke folgen ihnen nach. Offenbarung 14:13

---------------------------Versão Portuguesa---------------------------
Felizes os que choram, pois serão consolados. (Mt 5.4)
Os que com lágrimas semeiam, com júbilo ceifarão.
Quem sai assim, andando e chorando, quando semeia, levando boa semente,
Volta com júbilo trazendo os seus feixes. (Sl. 126.5 e 6)
Pois toda carne é como a erva e toda glória do homem como a flor da erva.
Secou-se a erva e as flores já caíram. (1.Pedro 1.2,4 e 6)

Pois sede pacientes, caros irmãos, até a vinda do Senhor. Eis que o lavrador
espera o precioso fruto da terra e é paciente e aguarda até que receba
a chuva temporã e serôdia. (Tiago 5.7)

Mas a palavra fica pra sempre. (1.Pedro 1.25)
Resgatados do Senhor voltarão e virão a Sião com alegria.
Gozo eterno sobre as cabeças haverá. Gozo e alegria terão alcançados,
e dor, gemido, fugiu deles.(Isaías 35.10)
Deus, dá-me a conhecer que a vida é passadiça, e tem um objetivo: que eu partirei.
Vede, os meus dias são como um palmo prá Ti,
E a vida não é nada prá Ti.


Pura vaidade é todo homem por mais firme que viva.
Andando aqui como a sombra, andando em vão e totalmente irrequieto,
Ajuntam sem saber quem recolherá.

Senhor, de quem vem consolo? Espero em Ti. (Salmo 39.5 até 7)
As almas dos justos ‘stão na mão de Deus, nenhum tormento os afetará.
(Sabedoria 3.1)
Quão amáveis (são) teus tabernáculos, Senhor dos exércitos.
A minha alma suspira e anseia pelos átrios do Senhor.

Meu coração exultará ao meu Senhor, que é vivo.
Felizes são os que moram em teu templo,
que louvam-te sem parar!
Quão amáveis teus tabernáculos!
Vós tendes tristeza, mas eu quero ver-vos outra vez, e vosso coração se alegrará.
E a vossa alegria ninguém pode tirar-vos. (João 16:22)

Consolarei como uma mãe consola os filhos. (Isaías 66:13)
Vede a mim. Tive um breve tempo que labutei e trabalhei e achei consolo grande.
(Siraque, 51.27 ou 35)

Não temos lugar permanente aqui, porém, o que há de vir buscamos. (Hebr. 13.14)
Eis que vos digo um mistério: Nem todos dormiremos. Seremos todos transformados,
E isto já, num instante, muito de subido, ao tocar da última trombeta.
A trombeta soará e os mortos serão ressuscitados gloriosos, e nós seremos transformados. (1.Cor. 15.51 e 52)

Então se cumprirá a palavra que está escrita: A morte é tragada pela vitória.
Onde está sua vitória, morte? Onde está seu aguilhão? (1.Cor. 15.54s)

Deus, tu és digno de toda honra, glória e poder,
pois tu criaste todas as coisas, e por tua vontade elas existem e são criadas.
(Apocalipse 4.11)
Felizes os mortos, que morrem no Senhor, de agora.
Diz o espírito:
Que descansem de seu trabalho, pois suas obras seguirão-lhes.
Felizes os mortos, que morrem no Senhor, deste agora.
(Apocalipse 14.13)

 
 

Sem comentários: