[sempre de acordo com a antiga ortografia]

sexta-feira, 31 de julho de 2015



Ao pontapé na gramática!...
 
[facebook, 20.07.2015]
 
"(...) Mas não era preciso humilhar e punir a Grécia por se ter endividado e ter eleito um governo que ousou pôr em causa a política do Eurogrupo e dos sagrados interesses dos credores (...)"
 
['O princípio do fim da Europa', Miguel de Sousa Távares, Expresso, primeiro caderno, pág. 9, 18.07.2015]
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ter eleito? Nunca!
Correctamente >> ter elegido



Nada agradável o reparo que me traz. 'Eleger' é um dos verbos portugueses de duplo particípio passado, daqueles que, na formação dos tempos compostos, utilizam a forma regular (em -ado ou -ido), geralmente com os auxiliares ter e haver; e a forma irregular, mais curta, também chamada 'forma erudita' por provir do latim, habitualmente utilizada com os auxiliares ser e estar. No caso vertente, portanto, 'ter elegido'.

Vem a propósito lembrar que MST, repetitivo autor de proezas que tais, tem sido um feroz opositor do Acordo Ortográfico e, naturalmente, da sua entrada em vigor. É um dos mais conhecidos porta-estandartes da causa que, como sabem, também me tem mobilizado há anos a esta parte. E que bom é poder senti-lo «cúmplice» na luta contra o famigerado AO!

Ora bem, quem, como é o seu caso, tomou atitude tão capaz, implicitamente se posicionou no patamar dos preocupados com a correccão linguística que, como todos sabemos, além da ortografia, contempla outros terrenos igualmente importantes. É por isso que o mesmo MST não pode incorrer em flagrantes falhas noutros domínios em que também está em causa a correccão da expressão, como bem patente ficou na epígrafe destes breves parágrafos.
 
Se qualquer vulgar comunicador deve evitar incorrecções de discurso, tanto no registo oral como no escrito, então, por maioria de razão, se torna absolutamente imperdoável que um comunicador de referência nelas incorra e com a agravante de tal acontecer num semanário com as marcas de exigência que o Expresso reivindica.

Bons tempos aqueles em que as redacções dos órgãos da imprensa contavam com uns anónimos colaboradores que, na minha modesta opinião, continuam indispensáveis. Refiro-me aos 'revisores', pacientes, diligentes ‘correctores’ dos textos que, tantas vezes, levando a chancela de conhecidos escritores e jornalistas, carecem de uma intervenção que apenas assegura o «controlo de qualidade» do ‘produto’.

Na realidade, só num contexto humorístico, se poderia considerar que tais trabalhadores terão sido substituídos pelas ‘correctoras’ ferramentas do 'word'...
 
 

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