[sempre de acordo com a antiga ortografia]

terça-feira, 21 de julho de 2015

D. Henrique,
um 'Talant' que não era 'Talent'...


[facebook, 07.05.2015]

Em Sintra, o Primeiro de Maio de 2015 foi dia grande. A marcá-lo ficou a reabertura oficial da Quinta da Ribafria, evento este que acolheu um concerto pela Banda Sinfónica do Exército acerca do qual já escrevi algumas considerações, com os mais justos encómios, no âmbito do artigo que o 'Jornal de Sintra' publicará amanhã.
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Do programa do concerto aludido, constava uma peça de Jorge Salgueiro intitulada "Talent de Bien Faire". Ora bem, logo se me impôs a figura do Infante D. Henrique cujo lema de vida e ex-libris era precisamente esta douta sentença que aponta para o melhor dos propósitos.

Em 1960, efeméride de meio milénio da morte do Príncipe 'Navegador', frequentava eu o terceiro ano do Liceu Nacional D. João de Castro onde, a exemplo do que se passou em todo o país, os estudantes foram convidados à concretização de todo o tipo de trabalhos subordinados às designadas 'Comemorações Henriquinas".

Foi nessa altura que percebi o significado das palavras para as quais o meu avô já me tinha chamado a atenção, quando, uns anos antes, em visita ao mosteiro da Batalha, já as vira gravadas no túmulo do Infante. Nesta história, particularmente curioso, é o facto de sempre ter aprendido que, naquela frase, 'Talant' era escrito com dois [a].

Ora bem, a partir de certa altura, tendo começado a ver que 'talant' deixara de ser grafado como tal e substituindo-se por 'talent', com [e], a minha curiosidade de miúdo mas já preocupada com as miudezas da filologia, levou-me a indagar junto de quem me poderia ajudar. Tinha como professora de Português a Dra. Manuela Palma Carlos que me esclareceu imediatamente.

Talant, com [a], é palavra de origem provençal que aponta para um significado de 'vontade de' exercer, praticar, fazer qualquer coisa, 'com gosto'. Foi isto que me encheu de satisfação, com os meus treze anos, em que já falava e escrevia muito bem o Francês, portanto, entender uma sofisticação tão interessante, que tão bem representava e ajudava a compreender a mítica personalidade do príncipe, cujo fascínio todos reconhecemos.

Continuar a ver grafado 'Talent', como se tratasse de 'talento' é coisa que, de modo algum, corresponde à carga intencional do lema em consideração. Aquele [a] faz toda a diferença. Vejam lá como, no concerto, tudo isto me assaltou, estas memórias com mais de meio século que, às tantas, no fim da função, partilhava com o Presidente Basílio Horta e o Vice Rui Pereira...

Coisas da cultura, coisas de um saber «que não ocupa lugar», como, constantemente, recordava o meu avô desta história...


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