[sempre de acordo com a antiga ortografia]

quinta-feira, 23 de julho de 2015




Festival de Sintra,
mais um evento na Câmara dos Cisnes


[facebook, 01.06.2015]

Na passada Sexta-feira, vindo do Grande Auditório da Gulbenkian, onde tinha assistido à récita de uma das mais célebres obras do reportório coral sinfónico de todos os tempos, o “Requiem” de Verdi, último evento da Temporada 2014/15, eis-me na Sala dos Cisnes do Palácio da Vila, assistindo a um concerto de música de câmara com peças de Lopes Graça, Stravinsky e Chostakovitch.

Ou seja, partindo de Lisboa, de um mundo musical que mobiliza meios de grande escala, naquele caso, entre orquestra, coro e solistas, mais de centena e meia de músicos em palco, a viagem para Sintra, onde uma lógica outra, igualmente para comunhão da melhor música, privilegiava um diferente tipo de partilha, de proximidade e especialíssima intimidade com os intérpretes do Quarteto Lopes Graça e com Olga Prats, aliás, como sempre acontece com a música de câmara.

De um lado para o outro, também a possibilidade de encontrar amigos e, com eles, de partilhar momentos de enriquecimento pessoal. É o melhor de nós que sempre melhora, uma taça que nunca esgotará enquanto soubermos procurar e estar atentos ao benefício da Arte em geral e da Música em particular.

Mais uma vez, que bom encontrar Margarida de Lemos, Mário João Machado, Manuel Baptista, Inês Ferro, Maria João Raposo, Rui Pereira, Domingos Linhares Quintas, Cláudio Cardoso Marques, além de Adriano Jordão, Director Artístico do Festival, num serão em que tivemos oportunidade de pôr em comum peças excelentes e, igualmente, de ouvir testemunhos muito sinceros de homenagem à Senhora Marquesa de Cadaval, em particular por parte da minha querida Olga Prats.

Concerto com obras compostas por três amigos de Dona Olga, acerca dos quais foram recordadas as melhores memórias, confirmando as pessoas absolutamente excepcionais que foram. E, repito, aquela vantagem, por mim tão ansiada, de poder escutar, além das obras em programa, concebidas por cada um dos mestres compositores, também a possibilidade de escutar a particularíssima voz de um dos instrumentos, ali a meia dúzia de metros.

Foi neste contexto que me fui mantendo em perfeito ‘estado de graça’, bebendo cada nota, cada acorde, que Isabel Pimentel ia arrancando da sua viola. Isabel Pimentel (aliás, como Cecília Branco, outro dos membros do Quarteto Lopes Graça) é segunda solista do seu naipe na Orquestra Gulbenkian, alguém que escuto constantemente no auditório da Avenida de Berna mas, muito menos vezes, em concertos de câmara. Intérprete de grande gabarito, toca um instrumento incrível, com uma ‘voz’ fabulosa, a viola que pertenceu a François Broos, o famoso violetista belga de quem foi aluna.

Atrapalhado com um pigarro na garganta, obrigando-me a conter a necessidade de tossir, corriam-me as lágrimas durante a execução do Adágio do “Quinteto com Piano” de Chostakovitch, aproveitando para dar livre curso à emoção suscitada pelos sons arrancados àquela viola que vibra entre as mãos e o coração de Isabel Pimentel.*

Como não estou a redigir um texto de crítica musical a um determinado evento e, tão somente, a alinhar umas impressões pessoais, posso dar-me a este luxo de destacar um aspecto que, pessoalmente, tanto me toca. De qualquer modo não deixaria de referir a dignidade deste evento do Festival de Sintra que, sem o envolvimento de ‘galácticos’, foi tão gratificante.

A título de ilustração, a "Suite Rústica No. 2" de Fernando Lopes Graça, a primeira das peças interpretadas pelo Quarteto Lopes Graça na Sala dos Cisnes do Palácio da Vila no passado dia 29.

https://youtu.be/_sad1KevDmk

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*Como, infelizmente, o programa geral não fornece as biografias dos membros do Quarteto Lopes Graça, permito-me eu fazê-lo, pelo menos no caso da violetista em referência.

Estudou no Conservatório Nacional de Lisboa, onde frequentou a classe de Violino da Profª. Lídia de Carvalho, tendo concluído o Curso Geral com dezanove valores. Optou então pela Viola de Arco, começando a trabalhar com François Broos, curso que terminou também com dezanove valores. Continuou posteriormente o seu aperfeiçoamento artístico sob a orientação daquele professor e estudou ainda Interpretação de Música Antiga com Santiago Kastner. Em Junho de 1988, obteve o 1º Prémio de Viola de Arco, classe superior, no Concurso da Juventude Musical Portuguesa. Tem actuado regularmente em recitais com piano, promovidos pela Fundação Calouste Gulbenkian e Juventude Musical Portuguesa e participou em diversos agrupamentos de música de câmara. Actuou também como solista com a Orquestra de Câmara de Lisboa ,La Folia, Orquestra Sinfónica da RDP e Orquestra Gulbenkian. Pertence, desde 1980, aos quadros da Orquestra Gulbenkian, onde, actualmente, desempenha funções de solista B. É a actual responsável pela Classe de Viola de Arco da Escola de Música do Conservatório Nacional e Membro do Quarteto Lopes-Graça, constituido por Professores daquela Instituição.

 
 
 
Quarteto Lopes-Graça actua na comemoração do Sindicato dos Músicos, no dia 19 de Maio de 2009. Toca a Suite Rústica nº 2, de Fernando Lopes-Graça
youtube.com
 

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