[sempre de acordo com a antiga ortografia]

quarta-feira, 22 de julho de 2015




Morreu esta manhã.
Até já Mara Nobre Franco
 
[facebook, 19.05.2015]
 
Querida amiga! Fosse para onde fosse, em especial, na Alemanha e na Áustria, países onde me desloco com maior frequência, não havia lugar donde não lhe enviasse um postal. À antiga maneira... Como ela gostava desse mimo! Por exemplo, sabendo que eu ia para Salzburg, em datas sempre mais ou menos constantes, esperava as minhas palavras com alguma asidade...
 
Em Salzburg, precisamente, onde a arte moderna e contemporânea é tão cultivada, uma das minhas mais gratas «obrigações» era – que horror o verbo no passado!... - o contacto com a Maria, uma das figuras que, em Portugal, pontificou como galerista, directora de museu, divulgadora da Arte, uma grande senhora das Artes e das Letras, tão discreta, é verdade, tão discreta como eficaz.

Deixem-me recordar. No dia de dizer coisas à Maria, eu subia o Mönchsberg, até ao Museum der Moderne. Passava por lá o dia e, no fim da visita, escolhia a reprodução da obra que me parecia mais representativa da exposição que, na altura, atraía a atenção, escrevia a minha mensagem e descia à Altstadt, à estação dos correios, para o envio. Claro que comunicávamos por telefone, por mail, mas aquela era uma gracinha que fazia parte das nossas private jokes

Sintra deve-lhe imenso. Mas percebo perfeitamente que, morrendo hoje, seja perfeitamente desconhecido o papel da Maria nestas paragens, ela que pôs esta terra nos circuitos mundiais da Arte Moderna. Percebo, ponto final, nem sequer me detenho em considerações justificativas. Não vale a pena. Para isso necessário seria ter interlocutor e, na verdade, infelizmente, não tenho.

Ao contrário do que alguns poderiam ser levados a pensar, jamais diria eu que Sintra não mereceu Maria Nobre Franco. Não. Sintra, que, em todos os domínios, merece o melhor, teve a melhor e a mais devotada das servidoras, como Directora do Sintra Museu de Arte Moderna – Colecção Berardo, durante onze anos, desde a sua instalação até 2008.
 
Tínhamos várias paixões em comum mas a mais forte era por Clara Haskil, a grande pianista mozartiana, talvez a maior de todos os tempos. Em memória de ambas, este momento excepcional do Concerto para Piano No. 27, em Si bemol Maior, KV 595. Com Haskil a Orquestra do Estado da Baviera sob a direcção de Ferenc Fricsay.

https://youtu.be/9em2RjHdIOc

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Que vazio, minha amiga!
A nossa é uma idade em que forçoso é habituar-nos às 'despedidas', se bem que saibamos serem ausências de pouca dura. A exemplo do que tenho dito a alguns amigos comuns, recém partidos, a si, as mesmas palavras: Isto é um instante, Maria, até já…


 
 
 
 
 
Galerista e primeira directora do Museu Berardo morreu esta manhã em Cascais.
publico.pt
 
 

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