[sempre de acordo com a antiga ortografia]

quarta-feira, 22 de julho de 2015



O que a casa gasta

[facebook, 19.05.2015]

Há poucas horas, um incêndio em Lisboa, na zona de Campolide. Barracas abandonadas, casas clandestinas, ruínas a esmo, terrenos por limpar, ervas altas, mato espontâneo, uma serração desactivada, materiais comburentes, bilhas de gás por perto, oficinas de automóveis à mistura com a natural economia paralela. Arderam habitações, automóveis.

A poucos metros uma grande estação de comboios cujo «arranjo» nós, utentes da linha de Sintra, bem conhecemos... Ainda... muito perto, dominando o cenário, aquela estupenda arcaria do Aqueduto sonhado pelo 'Magnífico' megalómano, a obra de construção mais assassina da Europa setecentista. A porcaria mais desalmada, enfim, em boa harmonia com o suprassumo civilizacional.

Institucionalizada, bem grudada, a «cultura do desleixo» em toda a exuberância. Vive-se e convive-se bem, em Lisboa, com estes testemunhos fétidos, com a insegurança de perigos iminentes. Desvergonhados dos lixos, das sobras imundas de subúrbio afavelado, nada nos move à mudança, nada nos comove ao passo que cumpre.

Foi um incêndio, limitadito, sem significativa escala. Mas podia ter sido um horror. E o descuido que espreita a inundação, a cratera aberta no pavimento da avenida ou o desabamento de prédio devoluto há duas gerações? Podia ter sido o raio que nos partisse, a desgraça a sério.

De uma coisa podem ter a certeza. Com a grandiloquência habitual, alguém se encarregaria de enterrar os mortos e cuidar dos vivos. Um qualquer e providencial Sebastião José estaria e estará sempre à altura.

Sem comentários: