[sempre de acordo com a antiga ortografia]

segunda-feira, 10 de agosto de 2015



10 de Agosto de 1788
Efeméride mozartiana
 
 
Viena: Composição da Sinfonia No. 41, em Dó Maior KV. 551, Sinfonia Jupiter
 

Desde o seu primeiro andamento, esta sinfonia é a continuação da precedente e, tal como já dei a entender, «resolve» as preocupações que a outra tinha expressado. O pathos e a ansiedade são agora ultrapassados. Trata-se de uma sinfonia de equilíbrio e ordem, de uma autêntica arquitectura em que, com base nas suas próprias convicções, Mozart cria uma obra cuja grandeza apenas reflecte um ideal. É uma sinfonia «de realização», não de especulação.


O tranquilo diálogo do segundo andamento, um ‘Andante cantabile’ é deliberadamente diferente do segundo andamento da Sinfonia No. 40. Nenhuma ansiedade nem sombra de qualquer espécie. Sem pausas mas sem tensão, a partitura empurra o ouvinte em direcção à plena luz, como Tamino fará em relação à luz da sua iniciação.

Insisto na necessidade de sempre ter presente que Mozart compõe as três sinfonias num curtíssimo período, em pleno Verão de 1788, um tempo durante o qual mal sai de casa que importa relacionar com o texto da carta ao seu Irmão Maçon Puchberg . Neste contexto, para tentar entender a unidade de pensamento da trilogia, preciso é que relacionemos o último movimento desta ‘Jupiter’ com o primeiro andamento da Sinfonia No. 39 já que, assim procedendo conseguimos imaginar como, na sua oposição, mutuamente se complementam.

Para rematar a obra, Mozart regressa ao símbolo da dualidade e da oposição. Começando no caos inicial dos ritmos quebrados, na violência dos batimentos – numa palavra, em tudo o que o princípio deste tríptico tem a ver com escuridão, ansiedade e desordem – Mozart vai guiar-nos para a luz, força e beleza.

Em conclusão, não é difícil que, neste compósito e complexo dispositivo sinfónico, possamos ler um percurso maçónico em que, entre outros, tivemos um vislumbre da claridade da esperança através da transparência do primeiro tema da Sinfonia No. 39, seguindo-se a escuridão da No. 40, num combate sem tréguas, escorregando pelo desânimo, até à estonteante luz da última sinfonia.

Interpretação paradigmática de Concentus Musicus Wien sob direcção de Nikolaus Harnoncourt.


Boa Audição!
 
 
 
 
 
 
__ • Mozart: Symphony no. 41 in C major, KV. 551 __ Concentus Musicus Wien Conducted by Nikolaus...
 
 

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