[sempre de acordo com a antiga ortografia]

domingo, 16 de agosto de 2015


16 de Agosto de 1900
Paris, morte de Eça de Queirós



Lembremo-lo. Sem fotos, sem gravuras ou quaisquer suportes visuais ou audiovisuais. Apenas a sua Arte. É, em Os Maias que, como todos sabemos, Sintra está mais presente.

Com a devida vénia ao meu querido amigo João Rodil, que conhece os excertos selecionados de cor e salteado, no contexto da ímpar divulgação da prosa queirosiana que tem promovido ao longo de dezenas de anos em passeios inesquecíveis, partilharei convosco algumas das mais belas linhas que já se escreveram sobre Sintra.

Tão conhecido é o seu enquadramento que não vos ofenderia se identificasse cada um dos famosíssimos excertos. Só acerca do último me permitirei o mais apropositado dos conselhos...

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"(...) E foi o que mais lhe agradou - este maciço e silencioso palácio, sem florões e sem torres, patriarcalmente assentado entre o casario da vila, com as suas belas janelas manuelinas que lhe fazem um nobre semblante real, o vale aos pés, frondoso e fresco, e no alto as duas chaminés colossais, disformes, resumindo tudo, como se essa residência fosse toda ela uma cozinha talhada às proporções de uma gula de rei que cada dia come todo um reino… (...)"
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“(...) No vão do arco, como dentro de uma pesada moldura de pedra, brilhava, à luz rica da tarde, um quadro maravilhoso, de uma composição quase fantástica, como a ilustração de uma bela lenda de cavalaria e de amor. Era no primeiro plano o terreiro, deserto e verdejando, todo salpicado de botões amarelos; ao fundo, o renque cerrado de antigas árvores, com hera nos troncos, fazendo ao longo da grade uma muralha de folhagem reluzente, e, emergindo abruptamente dessa copada linha de bosque assoalhado, subia no pleno resplendor do dia, destacando-se vigorosamente num relevo nítido sobre o fundo do céu azul-claro, o cume airoso da serra, toda cor de violeta-escura, coroada pelo Palácio da Pena, romântico e solitário no alto, com o seu parque sombrio aos pés, a torre esbelta perdida no ar, e as cúpulas brilhando ao sol como se fossem feitas de ouro… (...)"

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“(...) os muros estavam cobertos de heras e de musgos: através da folhagem, faiscavam longas flechas de sol. Um ar subtil e aveludado circulava, rescendendo às verduras novas; aqui e além, nos ramos mais sombrios, pássaros chilreavam de leve; e naquele simples bocado de estrada, todo salpicado de manchas de sol, sentia-se já, sem se ver, a religiosa solenidade dos espessos arvoredos, a frescura distante das nascentes vivas, a tristeza que cai das penedias e o repouso fidalgo das quintas de Verão… (...)"
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“(...) Ega ia largar atarantadamente o embrulho, para apertar a mão que Maria Eduarda lhe estendia, corada e sorrindo. Mas o papel pardo, mal atado, desfez-se; e uma provisão fresca de queijadas de Sintra rolou, esmagando-se, sobre as flores do tapete. Então todo o embaraço findou através de uma risada alegre. (...)”

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E, depois desta «canseira» de leituras do mais fino recorte, aqui fica o anunciado e prometido conselho da introdução. Passem pela Piriquita a comprar as queijadas que vos apetecer. Naturalmente, o Fernando e sua mulher Julia Cunha agradecem a preferência pela centenária casa da família... Podem comer logo uma ou duas mas, vão por mim, guardem algumas para uma merenda. Qualquer Collares, tinto ou branco, acompanhará divinamente. E, quanto mais não seja, assim - leitura, queijada e líquido acompanhamento - tudo fica por Sintra...


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