[sempre de acordo com a antiga ortografia]

terça-feira, 15 de setembro de 2015



15 Setembro de 1850
Nascimento de Abílio Guerra Junqueiro

(m. 7 Julho 1923)


O poeta mais popular da sua época, o mais típico representante da chamada "Escola Nova". Panfletário, a sua poesia ajudou criar o ambiente revolucionário que conduziu à implantação da República.

Da sua obra, recordaremos dois breves momentos de palavras certeiras, extraídas de "Pátria", que se colavam à realidade portuguesa coetânea e que arriscam caracterizar uma situação nacional, imutável e perene.
O primeiro dos dois excertos, que venho partilhar convosco nesta efeméride, é uma peça bastante conhecida, paradigmática da prosa junqueiriana, através da qual nos devolve o retrato acabado de um povo cuja resignação ofende a inteligência:

"(...) Um povo imbecilizado e resignado, humilde e macambúzio, fatalista e sonâmbulo, burro de carga, besta de nora, aguentando pauladas, sacos de vergonhas, feixes de misérias, sem uma rebelião, um mostrar de dentes, a energia dum coice, pois que nem já com as orelhas é capaz de sacudir as moscas; um povo em catalepsia ambulante, não se lembrando nem donde vem, nem onde está, nem para onde vai; um povo, enfim, que eu adoro, porque sofre e é bom, e guarda ainda na noite da sua inconsciência como que um lampejo misterioso da alma nacional, reflexo de astro em silêncio escuro de lagoa morta. (...)"

E, quanto ao seguinte naco da verve deste notável cultor da língua portuguesa que hoje celebramos, se bem que saibamos a que partidos se referia, como não aplicar estas linhas à actualidade?
 
"(...) Dois partidos sem ideias, sem planos, sem convicções, incapazes, vivendo ambos do mesmo utilitarismo céptico e pervertido, análogos nas palavras, idênticos nos actos, iguais um ao outro como duas metades do mesmo zero, e não se malgando e fundindo, apesar disso, pela razão que alguém deu no parlamento, de não caberem todos duma vez na mesma sala de jantar. (...)"
Guerra Junqueiro, in 'Pátria (1896)'

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Vianna da Motta, que muito admirava o poeta, compôs esta "Canção Perdida" que vos proponho numa interpretação de Ana Madalena Moreira, soprano e Lucjan Luc, pianista. Eis o texto:
Canção perdida
Alguém de mim se não lembra
Nas terras d’além do mar...
Ó Morte, dava-te a vida,
Se tu lha fosses levar!...
Ó Morte, dava-te a vida,
Se tu lha fosses levar!...

O meu amor escondi-o
Numa cova ao pé do mar...
Morre o amor, vive a saudade...
Morre o Sol, olha o luar!...
Morre o amor, vive a saudade...
Morre o Sol, olha o luar!...

Quem dá ais, ó rouxinol,
Lá para as bandas do mar?...
É o meu amor que na cova
Leva as noites a chorar!...
É o meu amor que na cova
Leva as noites a chorar!... :

Ó meu amor, dorme, dorme
Na areia fina do mar.
Que em antes da estrela d’alva
Contigo me irei deitar!...
Que em antes da estrela d’alva
Contigo me irei deitar!...


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Soprano - Ana Madalena Moreira Pianista - Lucjan Luc
youtube.com|De Ana Moreira
 

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