[sempre de acordo com a antiga ortografia]

terça-feira, 1 de dezembro de 2015



30 de Novembro de 1935
Morte de Fernando Pessoa


[publicado no facebook em 30.11.2015]

Para assinalar a efeméride, a minha partilha de hoje articula o poema 'Não sei se é Sonho, se Realidade', cuja transcrição aqui vos deixo, com a música, tão afim, de Fernando Lopes Graça, subordinada ao título 'Canção Segunda' de "Três Canções de Fernando Pessoa" (1947-50).
Interpretação soberba de Ana Maria Pinto, soprano, e do pianista Nuno Vieira de Almeida.

NÃO SEI SE É SONHO, SE REALIDADE
 
Não sei se é sonho, se realidade,
Se uma mistura de sonho e vida,
Aquela terra de suavidade
Que na ilha extrema do sul se olvida.
É a que ansiamos. Ali, ali
A vida é jovem e o amor sorri


Talvez palmares inexistentes,
Áleas longínquas sem poder ser,
Sombra ou sossego dêem aos crentes
De que essa terra se pode ter
Felizes, nós? Ali, talvez, talvez,
Naquela terra, daquela vez,


Mas já sonhada se desvirtua,
Só de pensá-la cansou pensar;
Sob os palmares, à luz da lua,
Sente-se o frio de haver luar
Ah, nesta terra também, também
O mal não cessa, não dura o bem.


Não é com ilhas do fim do mundo,
Nem com palmares de sonho ou não,
Que cura a alma seu mal profundo,
Que o bem nos entra no coração.
É em nós que é tudo. É ali, ali,
Que a vida é jovem e o amor sorri.


© FERNANDO PESSOA
20-8-1933
In Poesias, 1942
Ed. Ática, Lisboa


Boa Audição!
 
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