[sempre de acordo com a antiga ortografia]

domingo, 20 de dezembro de 2015


Barroco esmagador!

Querem mesmo que partilhe convosco uma das minhas obras preferidas dentre aquelas que considero como as 10 obras máximas da História da Música de todos os tempos e latitudes?

Naturalmente, tanto para aqueles que me conhecem pessoalmente, bem como para todos quantos me acompanham, há já alguns anos, via facebook e blogue, não constituirá novidade que, desde logo, considere a "MISSA SALISBURGENSIS" como indiscutível peça do ESPLENDOR MÁXIMO DO BARROCO.

Permitam-me que passe a citar:

“ (…) É [a Missa Salisburgensis de Heinrich Ignaz Franz von Biber] talvez o Monte Evereste da Música (…) uma obra a 53 vozes, duas pequenas orquestras e vários conjuntos de músicos e com uma construção verdadeiramente extraordinária (…) obra de grande força e diversidade e, depois de ter feito há muitos anos outras missas de Biber, esta foi uma experiência quase cósmica (…)”
[Jordi Saval, Expresso, 1 de Agosto de 2015]

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Há uns bons anos, ofereci a Missa Salisburgensis de Heinrich Ignaz Franz von Biber (1644-1704) ao José Leonardo de Freitas e Barros, oferta essa que, agora, uma vez tornada pública, carece do devido enquadramento. Não o faço pela primeira vez mas, como muito me apraz, repito a narrativa de um episódio, especialmente entendível por melómanos.

Primeiramente, acerca do amigo, dir-vos-ei do nosso relacionamento de quase quatro décadas, enquanto professores, meu colega durante vários anos no Ministério da Educação, maestro de coros, um melómano com todas as letras, com quem viajei para Salzburg, Viena e outras paragens.

Se acrescentar que jamais me teria tornado no técnico que fui, e também numa melhor pessoa, sem o conselho próximo do José Leonardo, por exemplo, no campo da utilização óptima dos meios audiovisuais ao serviço dos melhores objectivos da didáctica e da pedagogia, da animação cultural e da formação, pois digo-vos tudo, da sua comovente disponibilidade para a partilha, com aquela humildade comum aos que sabem imenso.

Sob a sua batuta, cantei em dois coros, sempre fazendo peças exigentes e enriquecedoras não só no estrito domínio musical, como intérprete, mas também humanamente. Claro que o meu reconhecimento é enorme e a amizade que nos une não tem medida. É, felizmente, alguém cuja opinião continuo a beneficiar continuadamente, em especial, quase todas as semanas, nos nossos encontros na Gulbenkian.

Ora regressemos à oferta aludida. Naturalmente, ao escolher um disco seja para quem for, se tento que a obra registada convenha à pessoa, então, para o José Leonardo, preocupo-me com que a peça honre e, tanto quanto possível, se enquadre entre os valores perenes que ambos cultivamos e nos animam a Vida.

Foi assim que se me impôs a Missa Salisburgensis. Preciso é explicar que, só muito lateralmente, esta Missa de Salzburgo, obra composta por aquele que foi um dos mais notáveis e célebres Mestres-Capela da Catedral da cidade à qual, como sabem, estou tão intimamente ligado - aliás, numa relação em que consegui envolver este meu querido amigo - só muito lateralmente, escrevia, é que a designação da peça e a relação com o burgo terão sido importantes para a minha escolha.

Não, fundamental, essencialmente, foi a música, a sua excepcional qualidade, o facto de ser uma obra-prima e menos conhecida do que seria suposto. E fui tão feliz na escolha qua a Ana Ferrão, mulher do meu amigo, professora de música da Escola Superior de Educação de Lisboa, pessoa com quem também me entendo especialmente bem nos nossos envolvimentos no universo musical, me cumulou com palavras que jamais esquecerei acerca da minha opção por uma obra que, para ela, foi uma descoberta que passou a ser vital.

Naquela manhã de Agosto, ao ler a Revista do Expresso, detive-me num artigo de Nuno Galopim, subordinado à epígrafe “A cultura é o capital europeu mais importante”, citação extraída de uma troca de impressões com Jordi Saval, a propósito de ter sido distinguido com o 'Prémio Europeu Helena Vaz da Silva', prémio que recebeu no passado dia 12 de Outubro em cerimónia na Fundação Gulbenkian. Eis outro excerto sobre a opinião do grande músico catalão acerca desta obra de Biber:

“(…) É talvez o Monte Evereste da Música (…) uma obra a 53 vozes, duas pequenas orquestras e vários conjuntos de músicos e com uma construção verdadeiramente extraordinária (…) obra de grande força e diversidade e, depois de ter feito há muitos anos outras missas de Biber, esta foi uma experiência quase cósmica (…)”.

Os leitores que, no blogue sintradoavesso, há cerca de oito, e, no facebook, há seis anos me acompanham as madurezas melómanas, sabem como sou afecto a Biber. De facto, em Salzburg, conheço-lhe todos os passos, soletro e declino as obras, enfim, um devoto absolutamente rendido.
Vou à sua campa, no cemitério St. Peters, para a homenagem possível, rezando-lhe por alma, «ouvindo» o Gloria da Missa Salisburgensis. Naturalmente, não posso estar mais de acordo com Saval e, como sempre, o que me dá gozo é poder partilhar o que me empolga. Portanto, eis a obra, uma das mais espantosas páginas da Cultura Europeia! Sem mais palavras.

Espero que seja do vosso agrado. É, acreditem, o melhor presente de Natal que hoje vos poderia trazer. Trata-se de uma gravação registada na Konzerthaus de Vienna, em 18 de Janeiro deste ano de 2015. Eis os intérpretes:

Hanna Bayodi-Hirt, soprano
Marianne Beate Kielland, mezzo-soprano
Pascal Bertin, contratenor
David Sagastume, contratenor
Nicholas Mulroy, tenor
Lluis Vilamajó, tenor
Daniele Carnovich, barítono
Antonio Abete, baixo


La Capella Reial de Catalunya
Le Concert des Nations
Hespèrion XXI


Direcção de Jordi Savall

I. Kyrie (0:00)
II. Gloria (6:44)
III. Credo (16:17)
IV. Sanctus - Benedictus (31:40)
V. Agnus Dei (36:36)


Boa Audição!
 
 
Heinrich Ignaz Franz Biber von Bibern (1644-1704) Missa Salisburgensis Hanna Bayodi-Hirt, soprano…
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