[sempre de acordo com a antiga ortografia]

sexta-feira, 4 de dezembro de 2015



Eça de Queiroz,
opinião incontestável
 
 
 
Como sabem, todos os dias, faço uma caminhada de seis quilómetros através de percursos sempre de grande privilégio. Um deles coincide, precisamente, com o dos passos de Eça de Queiroz quando, em Sintra, passava as suas temporadas com a família, obrigado que era a palmilhá-lo para ir e voltar a casa.
 
Refiro-me, como sabem os meus amigos e vizinhos, ao Caminho dos Castanhaes onde, hoje mesmo, acabei de passar pela pequena quinta que ele alugava. De lamentar, no entanto, que caminho tão especialmente cativante, belíssimo em qualquer altura do ano, tão apetecível no Outono, permaneça, há tantos anos, em estado de degradação incompatível, com as memórias e a dignidade do lugar.

Quase todo em terra batida, no Inverno, sem uma drenagem capaz das águas das chuvas, chega a ficar parcialmente intransitável. É um dos percursos entre quintas, com tal carga de características, reais e virtuais, que bem poderia ser um dos mais procurados desta terra. Assim houvesse gente à altura...

"Tudo em Sintra é divino. Não há cantinho que não seja um poema"[Eça de Queirós, Os Maias, 1888]

Pois é. Entretanto, desconhecendo o que seja e - pasme-se! - até onde possa ficar o Caminho dos Castanhaes, afinal tão próximo do Centro Histórico, não deixam os «responsáveis» de continuar a promover a campanha nos termos da qual Sintra é vendida como um 'produto', repleto de slôganes, com a marca de "capital do romantismo"...

É por estas e por outras que, muito dificilmente, alguém poderá surpreender-se com a opinião de um Lord Southey que, há cerca de duzentos anos, afirmava: "Cintra is too good a place for the Portuguese; it is only fit for us Goths, for German or English»..."

Se tudo em Sintra é divino e não há cantinho que não seja um poema, até parece haver quem esteja apostado em demonstrar o oposto. 'Ele' há gente para tudo!
 
 
 
 
“Tudo em Sintra é divino. Não há cantinho que não seja um poema.”
Eça de Queirós, Os Maias, 1888
Credits PSML - Wilson Pereira
 

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