[sempre de acordo com a antiga ortografia]

terça-feira, 5 de janeiro de 2016



Cá por casa,
manhã de selecta bicharada



[publicado no facebook em 03.01.2016]


Perfeitamente rendida ao fascínio da leitura, a Ana Maria está a devorar as páginas de "On Cats". Uma vez por outra, chama-me a partilhar deliciosos excertos que, amantes dos gatos, com gatos em casa há dezenas de anos, tão bem reconhecemos na pena de Doris Lessing.

Bem a propósito, há pouco, ao pequeno almoço, enquanto o 'Miró' se aninhava ao colo da dona, mal lhe concedendo espaço para pegar na xícara, cena matinal recorrente, pegava eu em "Os Dias do Corvo" à procura da página que já tinha seleccionado para partilhar convosco.

Entretanto, nem o felino nem o corvídeo acusaram incompatibilidade alguma durante a conversa e leitura do texto do meu querido amigo João Rodil que passo a reproduzir:
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"Deixei um bilhete ao corvo a dizer que ia à Procuradoria-Geral da República com o Fernando Morais Gomes, meu amigo e um dos raros advogados cultos do país. Quando cheguei a casa encontrei-o num estado lastimável. Nervoso, as asas a tremerem, bico torto e rosto fechado.
O que é que tens? Estás doente?
Não... É só nervos.
Porquê?
Porra, meu! Vais à Procuradoria com um advogado atrás, e ainda perguntas porquê! Eu é que pergunto. Vais preso? Estás metido nalguma alhada?
Não, não. Está tudo bem...
Está tudo bem?! E deixas-me aqui neste estado de ansiedade? Não sabes que entro em pânico com tudo o que respeita à justiça portuguesa? Não sabes, por acaso, que a considero mais torturadora e vil do que a Gestapo? Está tudo bem, dizes tu!
Ó meu, não fui lá por causa de algumproblema com a justiça. Eu e o Morais fomos à Procuradoria assinar um protocolo cultural. É para fazermos coisas em conjunto, nós e a associação deles.
Pronto! Já te passaste para o lado de lá. Já és um membro da corja. Já estás completamente corrompido. Agora és amiguinho deles, hein?!"


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Agora, digam lá que não fiz bem? Que tal este naco de prosa? Sabem que mais? O melhor é não perderem tempo. Contactem o João Rodil. É que, da primeira edição, já não devem restar muitos exemplares. E, primeira edição de obra de um amigo, é coisa ainda mais histórica...



 

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