[sempre de acordo com a antiga ortografia]

sábado, 2 de janeiro de 2016



Fachada do 'Central',
paradigma da «cultura do desleixo»


[publicado no facebook em 31.12.2015]


Precisamente. Fez ontem um ano que a Alagamares Cultura, na sua condição de associação de defesa do património de Sintra, protagonizava, num órgão de comunicação social de grande circulação, a denúncia pública em primeira mão, da ofensa ao património perpetrada na fachada do 'Central'.

Com base no testemunho de Fernando Morais Gomes, Presidente da Direcção, muito bem documentado relativamente aos bens patrimoniais em questão, nas declarações ao jornal 'Publico' de 30.12.2014, escrevia eu:
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"Que boa notícia! Vamos lá a ver se, afinal, Sintra não é o terreno conquistado de uma série de senhores que, imunes e impunes, se permitem intervir em zonas críticas como os DDT, ou seja «Donos Disto Tudo» locais. Como bem sabemos, não se trata apenas deste senhor, dono do Central, do Paris, da esplanada debruçada sobre a praça de táxis onde os clientes apanham com fumo dos escapes enquanto bebericam ou manducam, da loja dos vinhos e de não sei que mais... (...)
Vamos lá a ver se esta decisão de embargo da descaracterização da fachada do Central é mesmo algo de consequente. Vai sendo tempo."
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Em 2 de Janeiro de 2015, na minha qualidade de dirigente da Canaferrim - Associação Cívica e Cultural, subordinado ao título "Sintra, Hotel Central - quem explica?", continuava eu as referências ao caso em apreço, pelo que passo a citar:

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"(...) Reparem que a descarecterização da fachada é apenas um dos factores de análise do evento. Está em causa não só a peça que a fachada é, superfície azulejar dotada de singulares marcas de identidade, mas também, isso sim, o conjunto em que se integra. Ou seja, ter decidido alterar uma parte resultou na alteração do todo.

Uma nobre praça funciona como uma unidade inviolável. Quem não aprendeu e desconhece que assim é e, portanto, não tem esta perspectiva, pura e simplesmente não deveria assumir as funções técnicas em que está investido. Refiro-me ao perfil técnico, dos pareceres, conselhos e opiniões que estão a montante da decisão porque, competindo esta ao político, cumpre que se defenda para que não incorra em erros grosseiros que, ao fim e ao cabo, a instância técnica pode e deve obviar.

Muito bem actuou a Alagamares, através de protesto apresentado à Câmara Municipal de Sintra e à Comissão Nacional da Unesco, atitude em que contou com o aplauso da Canaferrim, Associação Cívica e Cultural. Perante os protestos gerais e a repercussão na imprensa, nomeadamente, no jornal ‘Público’, a autarquia emendou a mão, é verdade, mas os cidadãos - que não podem deixar de manifestar agrado por tão rápida actuação da Câmara depois do erro inicial – ainda têm direito a perceber como foi isto possível."
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Enfim, em qualquer civilizado lugar, seria de esperar que, um ano passado sobre as oficiais denúncia e queixa, os cidadãos já tivessem aguma resposta. Com as instâncias dos poderes local e central funcionando à lusa «celeridade» e com o «rendimento» que se sabe, incapaz o poder judicial de apreciar e decidir uma causa em tempo oportuno, também neste caso, o que prevalece não podia deixar de ser aquela que Jorge sampaio tão bem qualifica como «cultura do desleixo».

Mais. Diariamente passando pelo local, tenho percebido que o responsável pelo desmando vai sofisticando a obra. Cada vez mais expedita em soluções de conforto, a esplanada prospera. Mandando às urtigas as queixas dos cidadãos - que, na perspectiva do proprietário, não passarão de empecilhos aos seus objectivos de grande empresário da hotelaria e restauração sintrense, afinal e tão somente preocupado em «bem servir» - o 'agente económico' confia na proverbial inércia e na habitual inépcia das instituições.

Que pena! A poucas horas do início de um Novo Ano, que nos desafia à preservação do ânimo e da esperança, é lamentável que, entre tantas mais, ainda tenhamos de registar em Sintra, esta nódoa de manifesta, simbólica e tão decisiva descrença.

Apesar de tão preocupantes sinais, não posso deixar de confiar naquela que sei ser a «vontade de acertar» da Câmara Municipal de Sintra Sintra. A meio do mandato do seu executivo, por mais que espreite a tentação, não é altura de fazer avaliações definitivas.

Como cidadãos atentos, membros activos que somos das locais associações cívicas e culturais, cumpre-nos chamar a atenção e cooperar na resolução das questões. É o que continuaremos a fazer, não tenho a menor dúvida, quer a nível individual quer colectivamente.
 

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