"Utopia",
Thomas More,
Gilbert & Sullivan
ou o «encontro» do santo com os maçons…
[publicado no facebook em 04.01.2016]
Em 2016, prestes a comemorar 500 anos da publicação de “Utopia”, eis uma pequena referência aThomas More, o autor, que pisou e ultrapassou os limites da humana condição pagando, com a vida, a intransigência na defesa da sua dignidade.
Que magnífico exemplo! Como ele, também Giordano Bruno. Infelizmente, longe deles, Galileo Galilei que, para salvar a pele, não hesitou em negar a absoluta e radical verdade daquilo que a Ciência lhe tinha permitido descobrir… E, no entanto, quem sou eu para lhe atirar seja que pedra for?
Sabem todos os que foram e têm sido meus alunos e formandos que, enquanto professor e formador, jamais perco a oportunidade de apontar o grande humanista como paradigma do Homem. Este fiel servidor do Rei, mas de Deus em primeiro lugar, acabou por ser canonizado pela Santa Igreja Católica Apostólica Romana, em 1935.* Dessa vez, andou bem a mesma Igreja que bem pode penitenciar-se de pecados e pecadilhos em conhecidos processos de beatificação e canonização…
O autor de "Utopia" beneficiou do «testemunho» de Rafael Hitlodeu – fascinante personagem relacionada com as descobertas portuguesas, eventual acompanhante de Americo Vespucio nas suas viagens e explorações – fictício relato, com base no qual concebe esta obra máxima da literatura universal, mundividência radical mas possível, lugar alcançável se e quando o Homem quiser…
A propósito, recomendaria a edição fac-similada da "Utopia", com uma Introdução brilhante do saudoso Prof. Doutor José Vitorino de Pina Martins, tradução e notas do meu amigo, contemporâneo na entrada da Faculdade de Letras em 1965 e companheiro da ACLUS, Prof. Doutor Aires A. Nascimento, publicada pela Fundação Gulbenkian em 2006, que qualquer boa biblioteca doméstica não pode dispensar.
Ainda uma curiosidade acerca de São Thomas More, nem mais nem menos, que patrono dos estadistas e políticos, bem se podendo percebe a razão se nos lembrarmos de que ele foi Lord Chanceler do Reino, algo de coincidente com a figura de um Primeiro Ministro dos tempos modernos. Em Portugal, infelizmente, estadistas não há. Mas, quanto aos políticos, alguns afirmando-se tão católicos, bem podiam organizar umas peregrinações a Londres e fazer umas novenas...
Há muita documentação audiovisual inspirada na figura de Thomas More. Ainda hoje, costumo recorrer a "A man for all seasons" filme de Fred Zinnemann, inspirado na peça de teatro de Robert Bolt, em que o actor Paul Scolfield, há dez anos falecido, desempenha um papel extraordinário. Aconselho vivamente. Ainda mais uma curiosidade cultural, esta do mundo da pintura, para referir que o mais célebre quadro retratando Thomas More é da autoria de Hans Holbein, o mesmo que ilustra este texto.
[A propósito, em http://youtu.be/zbZfh-5QsAw o trailler do filme que, datado de 1966, continua perfeitamente acessível]
Utopia em divertido registo
Como sabem, raramente, consigo alinhar umas frases sem as articular com o mundo da música. Assim sendo, neste caso, logo relacionei a “Utopia” do More com “Utopia, Limited or the Flowers of Progress”, engraçadíssima ópera de Gilbert & Sullivan, que levou George Bernard Shaw a afirmar que se tratava da ópera do Savoy de que mais tinha gostado. Exige recursos avultadíssimos de montagem, não será uma obra-prima mas é muitíssimo bem disposta.
Não por acaso, já que a utopia é lugar geométrico por excelência da Augusta Ordem Maçónica, eis que Sir Arthur Sullivan e Sir William Schwenck Gilbert, da famosa dupla Gilbert & Sullivan, foram conhecidos maçons. Já agora, no meio destes três, eu, cristão católico como o primeiro, e Pedreiro Livre, Irmão dos outros dois… Pois fiquem sabendo que não há qualquer incompatibilidade – veja-se, por exemplo, o famoso caso do Irmão Mozart, tal como eu, católico e Maçon, que toda a gente tem na ponta da língua – e como todos coabitamos em paz e harmonia…
Finalmente, vos deixo com dois momentos muito bem dispostos da citada ópera. Ouvirão uma ária, cuja letra é a única coisa que se vê no écran, pedindo que e reparem como se adequa aos tempos de crise por que passamos. Como sempre, crise, enfim, só para alguns… [I]
Seguidamente, filmada durante a 18ª edição do Festival Gilbert & Sullivan, em Buxton, na Buxton Opera House, Inglaterra, em 2011, assistirão a uma cena igualmente divertidíssima da mesma peça [II].
Boa Audição!
http://youtu.be/H4euNhxbGWs UTOPIA LIMITED Mr. Goldbury's Song (Gilbert & Sullivan) www.youtube.com [I]
https://youtu.be/mF2d0_w6MTc [II]
Thomas More,
Gilbert & Sullivan
ou o «encontro» do santo com os maçons…
[publicado no facebook em 04.01.2016]
Em 2016, prestes a comemorar 500 anos da publicação de “Utopia”, eis uma pequena referência aThomas More, o autor, que pisou e ultrapassou os limites da humana condição pagando, com a vida, a intransigência na defesa da sua dignidade.
Que magnífico exemplo! Como ele, também Giordano Bruno. Infelizmente, longe deles, Galileo Galilei que, para salvar a pele, não hesitou em negar a absoluta e radical verdade daquilo que a Ciência lhe tinha permitido descobrir… E, no entanto, quem sou eu para lhe atirar seja que pedra for?
Sabem todos os que foram e têm sido meus alunos e formandos que, enquanto professor e formador, jamais perco a oportunidade de apontar o grande humanista como paradigma do Homem. Este fiel servidor do Rei, mas de Deus em primeiro lugar, acabou por ser canonizado pela Santa Igreja Católica Apostólica Romana, em 1935.* Dessa vez, andou bem a mesma Igreja que bem pode penitenciar-se de pecados e pecadilhos em conhecidos processos de beatificação e canonização…
O autor de "Utopia" beneficiou do «testemunho» de Rafael Hitlodeu – fascinante personagem relacionada com as descobertas portuguesas, eventual acompanhante de Americo Vespucio nas suas viagens e explorações – fictício relato, com base no qual concebe esta obra máxima da literatura universal, mundividência radical mas possível, lugar alcançável se e quando o Homem quiser…
A propósito, recomendaria a edição fac-similada da "Utopia", com uma Introdução brilhante do saudoso Prof. Doutor José Vitorino de Pina Martins, tradução e notas do meu amigo, contemporâneo na entrada da Faculdade de Letras em 1965 e companheiro da ACLUS, Prof. Doutor Aires A. Nascimento, publicada pela Fundação Gulbenkian em 2006, que qualquer boa biblioteca doméstica não pode dispensar.
Ainda uma curiosidade acerca de São Thomas More, nem mais nem menos, que patrono dos estadistas e políticos, bem se podendo percebe a razão se nos lembrarmos de que ele foi Lord Chanceler do Reino, algo de coincidente com a figura de um Primeiro Ministro dos tempos modernos. Em Portugal, infelizmente, estadistas não há. Mas, quanto aos políticos, alguns afirmando-se tão católicos, bem podiam organizar umas peregrinações a Londres e fazer umas novenas...
Há muita documentação audiovisual inspirada na figura de Thomas More. Ainda hoje, costumo recorrer a "A man for all seasons" filme de Fred Zinnemann, inspirado na peça de teatro de Robert Bolt, em que o actor Paul Scolfield, há dez anos falecido, desempenha um papel extraordinário. Aconselho vivamente. Ainda mais uma curiosidade cultural, esta do mundo da pintura, para referir que o mais célebre quadro retratando Thomas More é da autoria de Hans Holbein, o mesmo que ilustra este texto.
[A propósito, em http://youtu.be/zbZfh-5QsAw o trailler do filme que, datado de 1966, continua perfeitamente acessível]
Utopia em divertido registo
Como sabem, raramente, consigo alinhar umas frases sem as articular com o mundo da música. Assim sendo, neste caso, logo relacionei a “Utopia” do More com “Utopia, Limited or the Flowers of Progress”, engraçadíssima ópera de Gilbert & Sullivan, que levou George Bernard Shaw a afirmar que se tratava da ópera do Savoy de que mais tinha gostado. Exige recursos avultadíssimos de montagem, não será uma obra-prima mas é muitíssimo bem disposta.
Não por acaso, já que a utopia é lugar geométrico por excelência da Augusta Ordem Maçónica, eis que Sir Arthur Sullivan e Sir William Schwenck Gilbert, da famosa dupla Gilbert & Sullivan, foram conhecidos maçons. Já agora, no meio destes três, eu, cristão católico como o primeiro, e Pedreiro Livre, Irmão dos outros dois… Pois fiquem sabendo que não há qualquer incompatibilidade – veja-se, por exemplo, o famoso caso do Irmão Mozart, tal como eu, católico e Maçon, que toda a gente tem na ponta da língua – e como todos coabitamos em paz e harmonia…
Finalmente, vos deixo com dois momentos muito bem dispostos da citada ópera. Ouvirão uma ária, cuja letra é a única coisa que se vê no écran, pedindo que e reparem como se adequa aos tempos de crise por que passamos. Como sempre, crise, enfim, só para alguns… [I]
Seguidamente, filmada durante a 18ª edição do Festival Gilbert & Sullivan, em Buxton, na Buxton Opera House, Inglaterra, em 2011, assistirão a uma cena igualmente divertidíssima da mesma peça [II].
Boa Audição!
http://youtu.be/H4euNhxbGWs UTOPIA LIMITED Mr. Goldbury's Song (Gilbert & Sullivan) www.youtube.com [I]
https://youtu.be/mF2d0_w6MTc [II]
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