Grego,
hoje e sempre!
- Liberdade ou morte!
[publicado no facebook em 20.02.2016]
Sabiam que a bandeira da Grécia, além da cruz no canto superior direito, referência à religião cristã ortodoxa nacional, tem nove listas horizontais azuis e brancas, cada uma das quais correspondendo a uma sílaba da frase "Liberdade ou Morte" (Ελευθερία ή θάνατος)?
Pois, ao lembrar este novelo de símbolos, tenho presente um texto que subscrevi há precisamente quatro anos, texto que passo a transcrever. Perceberão imediatamente a sua génese como ditada por circunstâncias do momento cuja pertinência, aliás, se mantêm intacta. Rematando a leitura há uma proposta musical de um compositor que aqui não poderia faltar.
E, a propósito de Umberto Eco, uma brevíssima nota.
Não deixa de ser interessantíssimo registar, neste dia seguinte à morte do grande filólogo, que o conceito de 'obra aberta', por ele tão bem equacionado, e a designada música probabilística de Yannis Xenakis são exemplos de uma nova poética que se associa ao pós-modernismo musical.
________________________
[20 de Fevereiro de 2012]
Grego,
hoje e sempre
Neste sudoeste atlântico à esquina do Mediterrâneo - directo herdeiro de um legado que me leva milhares de anos atrás à grega radicalidade de palavras, em forma e conteúdo inculcadas na minha matriz psicossomática - o privilegiado europeu que sou, está revoltado, cansado de tantas perdas recentes. E, atónito, perplexo, não percebo porque não nos levantamos, perguntando nos democráticos areópagos de Bruxelas, Estrasburgo e de cada Parlamento nacional o que é feito da solidariedade, onde está o olhar amigo, onde pára a apregoada União Europeia…
Então é a palavra dos bacocos governantes desta Europa que vai prevalecer, quando afirmam que «nós» não somos gregos? É o cobarde tirar a água do capote, o salvar a pele de um contágio da praga que, afinal, é bem nossa, comum, que alastra e afecta tantos milhões de europeus, tão visível e evidentemente que, só mesmo os cegos por tás de cada ministro europeu com falta de sentido de Estado, querem que se não veja?
Há anos, tão grego como não só português mas também francês e inglês – apesar dos Portas, Sarkozy e Cameron afirmarem o contrário, rejeitando a estupenda sintonia e coincidência para a qual nos atiraram Maurice Schumann, Konrad Adenauer, Paul Henry Spack construtores da nova Europa que, muito miúdo, me habituei a admirar pela mão dos meus pais e avós – o privilegiado europeu que sou, vive hoje uma inquietação que não pode calar.
Grego, sim, grego. Provavelmente nunca, tanto como hoje, no seu difícil e amargo viver quotidiano, eu me confesso, confirmo e sinto tão helénico como qualquer cidadão de Atenas ou de Tessalónica. Eu estou e ando por ali, plasmado naquela raiva que alastra pelas ruas da capital, na Sintagma, em frente ao Parlamento. Eu também atiro pedras, recuso esta fornada de humilhações impostas por quem pretende sufocar-me com as receitas da sua gritante ignorância.
Não troco aquela inteireza da revolta do ‘politikós’, meu irmão helénico que sofre o que não deve, pela ordinária moleza de uma conversa de medíocres ministros das finanças, de submissão gasparina à sobranceria tolerante de um Wolfgang Schäuble que só pode conduzir ao descalabro e à descaracterização de um povo que, como o nosso, gosta de se afirmar destemido, desassombrado, orgulhoso.
Não pode prevalecer o discurso que temos escutado. É a palavra do fraco rei que faz fraca a forte gente. É a palavra da ignorância, da falta de lucidez, de quem não tem e, implicitamente, pretende transmitir aos demais, a fibra indispensável à adesão a uma luta que é preciso combater para honrar o europeu caminho feito em direcção à União, à Democracia, à luz da Liberdade, da Igualdade e da Fraternidade, a magnífica tríade cultural que nos define e que tanto deve à herança helénica.
PS:
Muita da melhor música contemporânea europeia também 'fala grego', como a de Iannis Xenakis, a par do que melhor têm feito outros grandes nomes como Boulez, Kurtag ou Ligetti. Ouçam esta peça, de recorte muito sofisticado, cujo título Akrata muito tem a ver com alguma da matéria supra.
De algum modo, pode referir-se 'àquele que não tem força, ao débil, ao que não tem domínio sobre alguma coisa' ou também 'ao sistema político da acracia, àquele que nega obediência a qualquer autoridade, anarquia'. De facto, a Música grega continua a fazer os melhores caminhos, aliás como toda a produção cultural helénica. E, para que saibam, o cidadão médio grego consome quatro vezes mais bens culturais que o português.
Eis a peça musical.
Boa Audição!
https://youtu.be/jlim9JCGnGc
hoje e sempre!
- Liberdade ou morte!
[publicado no facebook em 20.02.2016]
Sabiam que a bandeira da Grécia, além da cruz no canto superior direito, referência à religião cristã ortodoxa nacional, tem nove listas horizontais azuis e brancas, cada uma das quais correspondendo a uma sílaba da frase "Liberdade ou Morte" (Ελευθερία ή θάνατος)?
Pois, ao lembrar este novelo de símbolos, tenho presente um texto que subscrevi há precisamente quatro anos, texto que passo a transcrever. Perceberão imediatamente a sua génese como ditada por circunstâncias do momento cuja pertinência, aliás, se mantêm intacta. Rematando a leitura há uma proposta musical de um compositor que aqui não poderia faltar.
E, a propósito de Umberto Eco, uma brevíssima nota.
Não deixa de ser interessantíssimo registar, neste dia seguinte à morte do grande filólogo, que o conceito de 'obra aberta', por ele tão bem equacionado, e a designada música probabilística de Yannis Xenakis são exemplos de uma nova poética que se associa ao pós-modernismo musical.
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[20 de Fevereiro de 2012]
Grego,
hoje e sempre
Neste sudoeste atlântico à esquina do Mediterrâneo - directo herdeiro de um legado que me leva milhares de anos atrás à grega radicalidade de palavras, em forma e conteúdo inculcadas na minha matriz psicossomática - o privilegiado europeu que sou, está revoltado, cansado de tantas perdas recentes. E, atónito, perplexo, não percebo porque não nos levantamos, perguntando nos democráticos areópagos de Bruxelas, Estrasburgo e de cada Parlamento nacional o que é feito da solidariedade, onde está o olhar amigo, onde pára a apregoada União Europeia…
Então é a palavra dos bacocos governantes desta Europa que vai prevalecer, quando afirmam que «nós» não somos gregos? É o cobarde tirar a água do capote, o salvar a pele de um contágio da praga que, afinal, é bem nossa, comum, que alastra e afecta tantos milhões de europeus, tão visível e evidentemente que, só mesmo os cegos por tás de cada ministro europeu com falta de sentido de Estado, querem que se não veja?
Há anos, tão grego como não só português mas também francês e inglês – apesar dos Portas, Sarkozy e Cameron afirmarem o contrário, rejeitando a estupenda sintonia e coincidência para a qual nos atiraram Maurice Schumann, Konrad Adenauer, Paul Henry Spack construtores da nova Europa que, muito miúdo, me habituei a admirar pela mão dos meus pais e avós – o privilegiado europeu que sou, vive hoje uma inquietação que não pode calar.
Grego, sim, grego. Provavelmente nunca, tanto como hoje, no seu difícil e amargo viver quotidiano, eu me confesso, confirmo e sinto tão helénico como qualquer cidadão de Atenas ou de Tessalónica. Eu estou e ando por ali, plasmado naquela raiva que alastra pelas ruas da capital, na Sintagma, em frente ao Parlamento. Eu também atiro pedras, recuso esta fornada de humilhações impostas por quem pretende sufocar-me com as receitas da sua gritante ignorância.
Não troco aquela inteireza da revolta do ‘politikós’, meu irmão helénico que sofre o que não deve, pela ordinária moleza de uma conversa de medíocres ministros das finanças, de submissão gasparina à sobranceria tolerante de um Wolfgang Schäuble que só pode conduzir ao descalabro e à descaracterização de um povo que, como o nosso, gosta de se afirmar destemido, desassombrado, orgulhoso.
Não pode prevalecer o discurso que temos escutado. É a palavra do fraco rei que faz fraca a forte gente. É a palavra da ignorância, da falta de lucidez, de quem não tem e, implicitamente, pretende transmitir aos demais, a fibra indispensável à adesão a uma luta que é preciso combater para honrar o europeu caminho feito em direcção à União, à Democracia, à luz da Liberdade, da Igualdade e da Fraternidade, a magnífica tríade cultural que nos define e que tanto deve à herança helénica.
PS:
Muita da melhor música contemporânea europeia também 'fala grego', como a de Iannis Xenakis, a par do que melhor têm feito outros grandes nomes como Boulez, Kurtag ou Ligetti. Ouçam esta peça, de recorte muito sofisticado, cujo título Akrata muito tem a ver com alguma da matéria supra.
De algum modo, pode referir-se 'àquele que não tem força, ao débil, ao que não tem domínio sobre alguma coisa' ou também 'ao sistema político da acracia, àquele que nega obediência a qualquer autoridade, anarquia'. De facto, a Música grega continua a fazer os melhores caminhos, aliás como toda a produção cultural helénica. E, para que saibam, o cidadão médio grego consome quatro vezes mais bens culturais que o português.
Eis a peça musical.
Boa Audição!
https://youtu.be/jlim9JCGnGc
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