[sempre de acordo com a antiga ortografia]

sexta-feira, 5 de fevereiro de 2016



Mozartwoche, 2016
René Capuçon e Kit Armstrong


[publicado no facebook em 31.01.2016]

Nestes dois últimos dias, Quinta e Sexta, dias 29 e 30, 8 Sonatas de Mozart foram apresentadas perante casa esgotada, em concertos às três da tarde, na Grosse Saal do Mozarteum, por Renaud Capuçon, violino, e Kit Armstrong, piano.
 
Bem, estava previsto que fosse Mennahem Pressler - a lenda viva do Beaux Arts Trio, lembram-se com certeza, a emparceirar nesta aventura. mas, com os seus 93 anos, é natural que tivesse tido algum problema. Com programação anunciada com tanta antecedência, estas situações não são tão raras como isso.

Muito poderia partilhar acerca destes dois piquenos, nomeadamente Capuçon, que já me tem consumido algum trabalho em anteriores edições da Mozartwoche. Mas, como estou «numa de economia» devido aos problemas da vista, apenas me reservo, numa referência a Armstrong que tem como mentor, nada mais nada menos do que Alfred Brendel.

KA, hoje com 35 anos, conheceu AB aos 13. Desde então tem gozado da extraordinária mais-valia do ensino, aconselhamento constante, tornando-se um «depositante» do legado do grande pianista que, não lhe nega os maia rasgados elogios. Reparem:

"(...) having the perception of the great piano works, as a unity of emotion and understanding, with a fresh and sophisticated approach (...)" Isto, escrito por quem subscreve. é um 'cartão de visita' assombroso. Mas, se quiserem aceder a "Set the Piano on Stool of Fire", pelo realizador Inglês Mark Kidel, compreenderão, então, o que é a estupenda relação de entendimento entre os dois pianistas. [Com cerca de 10 minutos, eis um trailer elucidativo https://youtu.be/_m8WGZfSdeY].

Voltemos ao palco da Grosse Saal do Mozarteum. Embora tenha assistido aos dois eventos, referirei apenas o de ontem. durante o qual apresentaram as Sonatas KV. 301, 302, 296 e 454, tendo ainda KA tocado o Adagio em Lá menor KV. 540. Para o que ali aconteceu não há rankings, nem cinco estrelas, nem coisa que se lhes assemelhe.
 
Um envolvimento ímpar, um esperar e gozar com a participação do outro nas geniais peças que tinham entre mãos, horas, muitas horas de cumplicidade prévia para que pudessem resultar naquele ramalhete de Beleza que nos deixou no mais belo desassossego, em que as próprias categorias de tempo e espaço ficam em causa. Um enorme privilégio, em suma. Perante estes e outros, muitos momentos que tais, fico sempre na dúvida se, há dezenas de anos, mereço tanto...

PS:
É, também, depois destes momentos tão especiais, que penso nos meus amigos de Sintra, por exemplo, Fernando Morais Gomes, João Rodil, Marco Almeida João F Santos, Emilia Reis, Ana Margarida Oliveira Martins, Helena Vaz Gomes, João De Mello Alvim, Sergio Gonçalves, Maria Joao Forjaz, Maria João Raposo, Rui Pereira, Mário João Machado e tantos mais.

Quando me pedem opinião sobre o Festival de Sintra, o que eu quero recordar, são momentos como estes, de especialíssima elevação, por exemplo, vividos na Quinta da Piedade. Nestes termos, o que eu tenho a agradecer à Senhora Marquesa de Cadaval não tem expressão. É um património impossível de reduzir ao melhor texto.
 
De Salzburg, o melhor abraço para todos.
 

Renaud Capucon und Kit Armstrong während ihres Konzerts am 29.1. im Großen Saal der Stiftung Mozarteum

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