Noite de triunfos
Se quisesse dizer-vos quantas vezes terei assistido a interpretações ao vivo – para este rol não contam as gravações, coisa de um mundo outro – da Sinfonia no. 3, em Lá menor de Felix Mendelssohn Bartholdy, a verdade é que, de memória, não seria capaz. Mesmo recorrendo ao meu diário de melómano, sem índice (!!!!), levaria muito tempo até chegar a uma conclusão.
Muitas vezes a ouvi tocada pelas melhores orquestras do mundo, alemãs, austríacas, britânicas, francesas, italianas, suecas, americanas, espanholas, portuguesa. Sim, no singular, porque só há uma portuguesa capaz de a fazer com a necessária sofisticação. Trata-se de uma das peças sinfónicas que mais presente está no repertório do período romântico das melhores salas de concerto. Por isso, todas se apuram ao máximo.
Como eu, há imensa gente que a conhece nota a nota, acorde a acorde, compasso a compasso, gente que estremece, de alto a baixo, se alguma coisa, fugindo ao ícone, não tem justificação plausível. Isto para vos dizer que cheguei a casa «de alma lavada», depois de ter assistido a uma leitura que, seriamente, estará entre as melhores dez que tive o privilégio de presenciar e que, na comparação, envolve nomes como Karajan, Abbado, Harnoncourt, Solti, Norrington, Rattle, Gardiner, Chailly e outroa deste calibre.
Como já tinha anunciado, era a última apresentação da Orquestra Filarmónica de Viena que, de acordo com o figurino habitual na Mozartwoche, aqui faz sempre três concertos, no Grosses Festspielhaus. Claro que são os mais caros – preços entre 90 e 220 Euros - mas, também, os mais disputados.
Quem é que, em dez dias, pode dar-se ao luxo de perder qualquer destas hipóteses de assistir, ao vivo, a eventos que têm como protagonista aquela fabulosa orquestra que todo o mundo pára para ver e ouvir no primeiro dia do ano Enfim, até há e até quem pague muito mais para viver outras «experiências preformativas»…[Repararam na expressam 'pára para'? Foi de propósito, para gozar com o famigerado AO...]
Bem, foi um tremendo triunfo, com aplausos tão calorosos que fizeram lembrar os tempos de Karajan, Abbado e outros que, depois de sucessivas e imparáveis chamadas, segredavam ao concertino para que liderasse a saída da orquestra do palco… Heras-Casado é um jovem maestro, lançadíssimo, cujo nível foi reconhecido, ao mais alto nível, por Boulez, Abbado, Eötwös e que, só aqui na Mozartwoche, já dirigiu umas quatro ou cinco vezes, nos últimos anos.
Notamos-lhe hoje subtilezas de tempo, extrema atenção às dinâmicas sonoras, uma sensível preocupação com a acústica, com inovações patentes na distribuição dos naipes, especial e naturalmente preocupado com a ‘Sinfonia Escocesa’, um quebra-cabeças de complicações neste domínio da gestão dos volumes e na «fabricação» dos harmónicos.
O programa, totalmente afecto a Mendelssohn – que, na Mozartwoche 2016, é o grande compositor «parceiro» de Mozart - contemplava esta sinfonia, bem como a Abertura No. 4 em Fá Maior “Märchen von der schönen Melusine” op. 32, MWV P 12 e o “Salmo 42 “Wie der Hirsch schreit”, op. 42 MWV A 15, concerto dirigido por Pablo Heras-Casado.
Breve referência, então, à peça coral-sinfónica. Foi outro sucesso. Dorothea Röschmann, em fase muito boa da carreira, com uma dicção impecável, um vozeirão extenso, que enche e sobra para fora do Grosses Festspielhaus… O Coro Arnold Schönberg, inultrapassável em peças deste recorte, e até o extraordinário tenor Werner Güra foram buscar para preencher um secundaríssimo mas muito importante segmento final do salmo.
Se bem lembrados estiverem dos meus escritos, terão registado que Nikolaus Harnoncourt era o maestro inicialmente indicado para a direcção deste concerto. Como sabem, por motivos de doença, entretanto, retirou-se completamente das lides musicais.
Não queiram saber a impressão que faz não o ter connosco, aqui em Salzburg, onde estávamos habituados a assistir às suas geniais propostas, nomeadamente, à frente do seu Concentus Musicus ou, precisamente, da Orquestra Filarmónica de Viena.
Nele pensando, aqui vos proponho uma sua leitura da “Escocesa”, dirigindo a Orquestra de Câmara da Europa.
Boa Audição!
https://youtu.be/aeoxTvgEK0U
Se quisesse dizer-vos quantas vezes terei assistido a interpretações ao vivo – para este rol não contam as gravações, coisa de um mundo outro – da Sinfonia no. 3, em Lá menor de Felix Mendelssohn Bartholdy, a verdade é que, de memória, não seria capaz. Mesmo recorrendo ao meu diário de melómano, sem índice (!!!!), levaria muito tempo até chegar a uma conclusão.
Muitas vezes a ouvi tocada pelas melhores orquestras do mundo, alemãs, austríacas, britânicas, francesas, italianas, suecas, americanas, espanholas, portuguesa. Sim, no singular, porque só há uma portuguesa capaz de a fazer com a necessária sofisticação. Trata-se de uma das peças sinfónicas que mais presente está no repertório do período romântico das melhores salas de concerto. Por isso, todas se apuram ao máximo.
Como eu, há imensa gente que a conhece nota a nota, acorde a acorde, compasso a compasso, gente que estremece, de alto a baixo, se alguma coisa, fugindo ao ícone, não tem justificação plausível. Isto para vos dizer que cheguei a casa «de alma lavada», depois de ter assistido a uma leitura que, seriamente, estará entre as melhores dez que tive o privilégio de presenciar e que, na comparação, envolve nomes como Karajan, Abbado, Harnoncourt, Solti, Norrington, Rattle, Gardiner, Chailly e outroa deste calibre.
Como já tinha anunciado, era a última apresentação da Orquestra Filarmónica de Viena que, de acordo com o figurino habitual na Mozartwoche, aqui faz sempre três concertos, no Grosses Festspielhaus. Claro que são os mais caros – preços entre 90 e 220 Euros - mas, também, os mais disputados.
Quem é que, em dez dias, pode dar-se ao luxo de perder qualquer destas hipóteses de assistir, ao vivo, a eventos que têm como protagonista aquela fabulosa orquestra que todo o mundo pára para ver e ouvir no primeiro dia do ano Enfim, até há e até quem pague muito mais para viver outras «experiências preformativas»…[Repararam na expressam 'pára para'? Foi de propósito, para gozar com o famigerado AO...]
Bem, foi um tremendo triunfo, com aplausos tão calorosos que fizeram lembrar os tempos de Karajan, Abbado e outros que, depois de sucessivas e imparáveis chamadas, segredavam ao concertino para que liderasse a saída da orquestra do palco… Heras-Casado é um jovem maestro, lançadíssimo, cujo nível foi reconhecido, ao mais alto nível, por Boulez, Abbado, Eötwös e que, só aqui na Mozartwoche, já dirigiu umas quatro ou cinco vezes, nos últimos anos.
Notamos-lhe hoje subtilezas de tempo, extrema atenção às dinâmicas sonoras, uma sensível preocupação com a acústica, com inovações patentes na distribuição dos naipes, especial e naturalmente preocupado com a ‘Sinfonia Escocesa’, um quebra-cabeças de complicações neste domínio da gestão dos volumes e na «fabricação» dos harmónicos.
O programa, totalmente afecto a Mendelssohn – que, na Mozartwoche 2016, é o grande compositor «parceiro» de Mozart - contemplava esta sinfonia, bem como a Abertura No. 4 em Fá Maior “Märchen von der schönen Melusine” op. 32, MWV P 12 e o “Salmo 42 “Wie der Hirsch schreit”, op. 42 MWV A 15, concerto dirigido por Pablo Heras-Casado.
Breve referência, então, à peça coral-sinfónica. Foi outro sucesso. Dorothea Röschmann, em fase muito boa da carreira, com uma dicção impecável, um vozeirão extenso, que enche e sobra para fora do Grosses Festspielhaus… O Coro Arnold Schönberg, inultrapassável em peças deste recorte, e até o extraordinário tenor Werner Güra foram buscar para preencher um secundaríssimo mas muito importante segmento final do salmo.
Se bem lembrados estiverem dos meus escritos, terão registado que Nikolaus Harnoncourt era o maestro inicialmente indicado para a direcção deste concerto. Como sabem, por motivos de doença, entretanto, retirou-se completamente das lides musicais.
Não queiram saber a impressão que faz não o ter connosco, aqui em Salzburg, onde estávamos habituados a assistir às suas geniais propostas, nomeadamente, à frente do seu Concentus Musicus ou, precisamente, da Orquestra Filarmónica de Viena.
Nele pensando, aqui vos proponho uma sua leitura da “Escocesa”, dirigindo a Orquestra de Câmara da Europa.
Boa Audição!
https://youtu.be/aeoxTvgEK0U
Die Wiener Philharmoniker spielen heute Abend unter Pablo Heras-Casado Werke von Felix Mendelssohn Bartholdy im Großen Festspielhaus. Dorothea Röschmann wird den Sopran-Solopart übernehmen. Restkarten sind an der Abendkasse erhältlich. Beginn: 19:30 Uhr.
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