[sempre de acordo com a antiga ortografia]

segunda-feira, 28 de março de 2016



21 de MARÇO - DIA MUNDIAL DA POESIA
 
[publicado no dia 21.03.2016]

 Agradeço a todos os intelectuais, jornalistas, a todos os interessados de alguma maneira responsáveis pela divulgação dos nossos poetas, os mortos e os vivos. Agradeço tudo o que é feito de molde a manter essa lembrança, digna de todo o mérito, todo o empenho e eu diria, todo um orgulho em manter, revelar, espalhar, ensinar, elevar a poesia portuguesa, a actual...
e a anterior à actual.

CULPO E APONTO O MEU DEDO ACUSADOR a quem,por variadas razões se faz esquecido e omite e afasta e ignora e tapa e escurece e parece até que pretende que não tenham existido outros poetas e os deixem, ignominiosamente, ESQUECIDOS. Propositadamente esquecidos. Não são os pequenos meios que os esquecem, não! São os grandes meios de difusão, esses meios que, se quiserem, abrangem toda a gente.
Falo eu neste meu caso de ANTÓNIO GEDEÃO - 1906 - 1997.

Eu sei que António Gedeão é considerado um "poeta menor" por essas grandiloquentes e conhecedoras e avaliadoras cabeças, umas calvas de tanto pensar, outras meias calvas de tanto não pensar. Dá jeito, essa consideração. Ainda hoje li em jornais nomes de poetas que, de facto, considero irrecusáveis e, para mim, sempre presentes neste nosso tão frágil cenário literário. Apoio-os e conheço-os a todos. Aplaudo a sua obra com todas as minhas forças. Não aplaudo quem omite nomes importantíssimos, quem faz com que os mais novos nem sequer conheçam os desaparecidos e choro as minhas próprias lágrimas enraivecidas.
Isto não é cultural.

E é de cultura que falamos. E é de cultura que o país precisa que sem ela não se vai a lado nenhum. E é da cultura antiga e da cultura nova. Não é à custa de gostos pessoais - eu gosto deste e por isso destaco, eu não gosto deste e por isso não destaco.
Eu, como descendente deste poeta que mais não seja podia apenas ter escrito Pedra Filosofal e mais nada para ser UNIVERSAL, eu como descendente directa, neste caso, filha, e enquanto for viva revelá-lo-ei e espalharei as suas palavras aos quatro ventos.

E não só a Pedra Filosofal, ou a Calçada de Carriche, ou a Lágrima de Preta, ou a Fala do Homem Nascido, ou Aurora Boreal! Não! Há também outras centenas de poemas espalhados por vários livros, recorte e publicações variadas que NUNCA ninguém leu.

Para se saber sobre qualquer coisa, para se poder falar, debitar, orar, discursar, opinar, ou simplesmente parlapiar com os amigos é OBRIGATÓRIO conhecer-se mais do que a rama.
Eu, quando falo, falo do que conheço A FUNDO, profundamente. Jamais dou palpites e opiniões frágeis, simples, dessas que nem consistência têm e que, por conseguinte, nem vale a pena argumentar. 

 O melhor é mesmo ficar calado quando não se conhece, mas ao menos, por consideração por uma das figuras culturais, científicas, intelectuais, uma das maiores e mais importantes figuras do século XX português, ao menos mencionar o nome de ANTÓNIO GEDEÃO, mencioná-lo ao de leve, de raspão, não ficaria mal a ninguém. Muito pelo contrário.

Lamento imenso tudo isto.

CRISTINA CARVALHO - 21 de Março de 2016
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— com António Quinhones Hall, Yvette Centeno, Emilia Ralha e 44 outras pessoasAntónio Quinhones Hall, Yvette Centeno, Emilia Ralha, João Veloso, João De Oliveira Cachado, Maria Carlos Loureiro, Lurdes Júdice, Jorge Phyttas-Raposo, Malou Delgado Raínho, Ines Versos, Fátima Diogo, Rui Fonseca, Manuela Brito E Silva, Maria Emília Castanheira, Helena Pato, Maria Jose Vitorino, Eduardo Pitta, Inês Salvador, Teolinda Gersão, João Rasteiro, Maria Luísa Albuquerque Tavares, João Matos, Maria Isabel Fidalgo, José Cipriano Catarino, André Freire, Jose Magalhaes, Alice Brito, Francisco Carvalho, Maria Cantinho, Inês Carvalho, André Gago, Elisabeth Oliveira Janeiro, Elisa Costa Pinto, Ana Cristina Silva, António Duarte-Fonseca, Isabela Figueiredo, Ivone Mendes da Silva, João Castro, Joao Antonio Dias, Sandra Barros Simões, Jorge C Ferreira, Ana Teresa Pereira, Ana Cristina Pereira Leonardo, Pedro Almeida Vieira, Ana Margarida De Carvalho, Ana Vidal e Ana Maria Pereirinha.

O meu testemunho:

 
Querida Cristina Carvalho, fiquei muito sensibilizado por me teres associado a esta tua iniciativa. É um manifesto e como manifesto tem de ser lido e entendido. Subscrevo-o inteiramente e, inclusive, reclamando-me seu 'descendente'. Além da obra que, julgo poder afirmar, conheço bem, prezo o homem e o cidadão verdadeiramente 'nobre' que o teu pai foi. Quem tem a ideia de que o conhece a partir da leitura da obra, muito surpreendido ficará se ler "Rómulo de Carvalho [Memórias]", na edição erviço de Educação e Bolsas da Fundação Calouste Gulbenkian. É todo um mundo que se abre, revelando o homem extraordinãrio que, desde criança até aos últimos tempos da vida, revela uma sensibilidade, inteireza de valores e de princípios, lucidez, que completam o poeta, o professor, para nos abrir a paleta tão compósita do homem em todas as suas acepções. A sua obra - com registos muito interessantes em domínios como o ensaio, contributos para a História da Educação, divulgação cultural, etc - tem momentos de invulgar qualidade e Beleza no domínio da Poesia que melhor será entendida se articulada com as Memórias cuja leitura aonselho o mais vivamente possível. Se, infelizmente, não fui seu aluno, tive o privilégio de o conhecer pessoalmente, na vossa casa de Campo de Ourique. Além do excepcional Poeta, dele guardei testemunhos que, muito articulados pela minha própria experiência de vida e percurso profissional como Técnico de Educação, professor e sindicalista, me levaram a propor o seu nome como patrono do Pessoal de Apoio Educativo (os designados 'não docentes), ou seja, os assistentes de acção educativa, administrativos, técnicos e técnicos superiores que trabalham nas escolas e nos departamentos mais diferentes doi Sistema Educativo. Cada dia 24 de Novembro, data do seu aniversário, é anualmente celebrado, sob o patrocínio de Rómulo de Carvalho/António Gedeão, o Homem e o Artista que, para muitos de nós, é um paradigma dessa dualidade indissociável. É verdade que, por aí, em cenáculos mais que duvidosos, alguns tontinhos, coitados, conseguem descobrir menoridade poética em peças cujo filtro de excelência permite que a elas aceda, praticamente, qualquer alfabetizado. Provavelmente, será por isso... Não terão a dose de impenetrabilidade para que, tão somente, fiquem circunscritas a um grupo de «eleitos», patologicamente reunidos à volta de um esoterismo militante... A tua indignação é de uma invulgar dignidade, minha amiga. Repito a minha comoção por ficar ligado a esta tua atitude no Dia Mundial da Poesia. Beijinho


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