Marquesa de Cadaval,
Comemorações do aniversário
[26 de Janeiro de 2017]
I. JORGE SAMPAIO, DISCURSO DE HOMENAGEM
II: "MARQUESA DE CADAVAL, UMA VIDA DE CULTURA", FILME
RTP
- PARTILHA DO FILME BIOGRÁFICO
AUTORES:
- JOÃO PEREIRA BASTOS
- JOÃO CACHADO
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Na passada Sexta-feira, 20 de Janeiro, sem qualquer divulgação - até parece que quase 'envergonhadamente' - houve um concerto de homenagem à Senhora Marquesa de Cadaval, no auditório Acácio Barreiros do CCOC, em comemoração do aniversário ocorrido no dia 17.
Pena foi que a Câmara Municipal de Sintra não tivesse considerado conveniente comunicar o evento. Pessoalmente, impedido de comparecer devido a um compromisso no Alentejo, apenas soube através da Agenda Cultural do referido CCOC, publicação que me parece ser de manifesto e reduzidíssimo alcance.
A figura em questão, real e inequivocamente, bem merece outro 'tratamento'. A atestá-lo, as duas atitudes que, ainda no 'ciclo' das 'minhas' particulares e singelas comemorações, aqui gostaria de vos propor.
I. Um ano depois da morte
Quando chega o aniversário da Senhora Marquesa de Cadaval, penso sempre no evento ocorrido em 17 de Janeiro de 1997, há precisamente 20 anos, ou seja, o Concerto em Sua Memória no
Palácio Nacional de Queluz.
Nessa ocasião, Jorge Sampaio, então Presidente da República, proferiu um discurso que guardo como peça do maior interesse. Com a capacidade que todos lhe reconhecemos partilhou palavras à altura dele próprio e de quem homenageava em nome de Portugal.
Eis a peça.
"Não há melhor forma de homenagear a memória da Marquesa Olga de Cadaval do que esta — com música e numa bela iniciativa da Câmara Municipal de Sintra, com o apoio precioso da Fundação Calouste Gulbenkian. Felicito os seus organizadores e saúdo com muita simpatia a família Cadaval, aqui presente.
Com a idade do século, Olga de Cadaval viveu a sua longa vida com rara plenitude. Foi fiel a si mesma, aos amigos, aos seus gostos, às inclinações do seu coração. Em Sintra, em Muge, em Veneza ou em qualquer lugar onde estivesse era sempre a grande Senhora, aristocrata de família e sobretudo, de espírito, que é o que mais conta.
A sua experiência do Mundo era vastíssima, a sua memória estava cheia de pessoas e de acontecimentos excepcionais. Ouvi-la era um prazer ímpar. Ela referia-os com uma graça, uma leveza e um desprendimento sagaz que traduziam uma refinada sabedoria da vida. Foi essa sabedoria que a levou a enfrentar com estoicismo e coragem a adversidade e os sofrimentos de que a sua vida, não esteve, em certos períodos, isenta.
Tinha uma fé intensa e recolhida, uma influência grande e discreta, uma ascendência ilustríssima de que não fazia alarde e que tomava, não como motivo de vaidade ou vã glória, mas como uma responsabilidade a honrar. Era capaz dos mais largos gestos de generosidade que não pesavam em quem os recebia.
Há talvez uma explicação para esta atitude tão nobre e invulgar: a riqueza da sua vida interior, a sua qualidade humana e a altura da sua posição natural dispensavam sinais exteriores ou qualquer excesso de exibição. Tinha grandeza, distinção e discrição. Foi um privilégio para nós que se tivesse tornado portuguesa, por casamento, por escolha, por amor.
A Marquesa de Cadaval foi, de facto, uma personalidade marcante na vida portuguesa deste século, em especial na nossa cultura. Posso disso dar testemunho pessoal.
Como já contei, tendo meu pai sido médico da sua família, por vários anos, Olga Cadaval conheceu-me desde criança e tive a felicidade de receber, durante muitas décadas, o seu carinho, a sua cultura e o seu fino sentido de ironia. Foi sempre a mesma e eu, para ela, sempre o mesmo: desde a minha juventude até adoecer chamou-me «Poil de carotte».
Por sua casa, em Colares, passaram e até nela viveram grandes figuras da cultura contemporânea, muitas delas em busca de paz ou em fuga de regimes opressores. De Ortega Y Gasset até Rostropovich, dos artistas mais novos aos mais conhecidos, todos receberam aí apoio, estímulo e compreensão, calor humano.
A sua presença na vida cultural portuguesa, muito em especial na música, foi das mais marcantes deste século. Não terá havido um mecenas pessoal tão generoso, empenhado e decisivo. Nunca pediu ou esperou em troca o que quer que fosse. Movia-a o puro amor à música, aos que a fazem, à cultura, ao espírito à beleza.
A Marquesa de Cadaval foi ainda uma mulher aberta ao mundo e à mudança, que afinal viu tudo e tudo procurou compreender, sempre com a simplicidade de trato e a profundidade de sentimentos das verdadeiras personalidades que são grandes e inesquecíveis.
Ao evocarmos a figura de Olga de Cadaval, fazemos votos de que o seu exemplo faça escola e dê frutos.
Quero, em nome de Portugal, prestar homenagem à sua memória. A nossa cultura tem para com ela uma dívida de gratidão enorme. A maneira de a saldarmos um pouco é concretizarmos os seus sonhos, continuando a fazer o que ela fazia e a amar o que ela amava. Este concerto que aqui nos reúne, no dia do seu aniversário natalício, e que tem a participação de músicos tão prestigiados, é o sinal de que isso acontecerá."
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II.
"Marquesa de Cadaval, uma Vida de Cultura"
O documento biográfico do qual sou co-autor* também foi concebido como homenagem. Em tempo oportuno, nomeadamente, há três anos, aquando da sua estreia, tive oportunidade de o apresentar quer no 'Jornal de Sintra' quer nas redes sociais.
Hoje, apenas lembraria tratar-se de um filme que, adquirido pela RTP, tem corrido mundo, através das mais conhecidas estações de televisão, divulgando esta sublime figura de mecenas que, citando as palavras do Dr. Jorge Sampaio, foi "(...) tão generoso, empenhado e decisivo. Nunca pediu ou esperou em troca o que quer que fosse. Movia-a o puro amor à música, aos que a fazem, à cultura, ao espírito à beleza (...)".
Hoje, fundamentalmente, o que me interessa é poder partilhar este filme. Para isso vos convido, mais não sendo necessário do que accionar as referências abaixo indicadas para aceder ao documento completo.
Bom visionamento!
https://youtu.be/8y24mNNrse4 [Parte I]https://youtu.be/3fvL6rLRWsY [Parte II]
*Realização de João Santa-Clara e produção de Mário João Machado]
[Ilustr: Senhora Marquesa de Cadaval; Dr. Jorge Sampaio; apenas dois dos muitos intervenientes no filme: pianista Olga Prats e Maestro Daniel Barenboim]
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