[sempre de acordo com a antiga ortografia]

sexta-feira, 3 de março de 2017



Rua dos Arcos
e infra-estruturas da Vila Velha
- adiamento lamentável



Depois de anos e anos de desconchavo - suportando o que dificilmente se concebe num lugar tão civilizado como este do casco histórico da nossa Vila Velha, a poucos metros do Palácio da Vila - o actual executivo municipal, que tanto apregoou a sua diferença em relação ao período que precedeu a sua entrada em funções, já não poderia ter devolvido à comunidade um espaço que apenas carece da intervenção adequada às suas características e de acordo com as memórias que, há tantos séculos, acumula?

A resposta só pode ser afirmativa. Mas, se querem que vos confesse, tão grande é a sensação de frustração relativamente ao estado em que permanece, que, sob a responsabilidade dos actuais autarcas, não consigo imaginar que a Rua dos Arcos nos possa proporcionar qualquer remota possibilidade de embandeirar em arco!...

A lógica de intervenção para recuperação da Rua dos Arcos, há-de compreender o espaço entre a sua embocadura, nos baixos do Café Paris, e os degraus que nos permitem o acesso ao Beco do Forno, ou seja, aquele que, inicialmente, não era um espaço em subsolo mas que acabou por adquirir a forma da desqualificada rua coberta que conhecemos.

Nem sempre assim foi. E, recuando o tempo bastante, difícil não é adivinhar ruas, ruelas e becos, um dédalo no qual se inscrevia esta parte da Mouraria de Sintra, que convivia com a judiaria e os bairros de cristãos, na maior harmonia, a exemplo do que sucede noutras conhecidas comunidades ibéricas, dentre as quais a escala de Toledo era espectacularmente notável.

Há que intervir, remodelar e, em termos da mais expressiva recuperação do património, de acordo com o remoto ‘espírito do lugar’, nunca deixar de pensar na vocação comercial daquelas bandas onde, de acordo com o testemunho do saudoso José Alfredo, pontificava a célebre Taberna do Vintenzinho, lugar de castiça amesendação sintrense, que ainda emparceirava com outra, a do António da Mestra.*

Em remate, à guisa de alerta, aproveitaria para lembrar um importantíssimo desafio que o centro histórico coloca à comunidade. Quem conhece a Vila Velha e sabe do estado perigoso em que se encontram as infra-estruturas de abastecimento de águas e saneamento básico, não pode deixar de conjugar esta recuperação da Rua dos Arcos com a manifesta urgência da realização das obras de substituição das condutas e de todos os dispositivos técnicos e equipamentos afins.

É uma lástima a que, com toda a coragem, urge pôr cobro. Há anos que a Câmara Municipal de Sintra tem vindo a adiar tal intervenção, prejudicando o interesse geral e só em aparente benefício de alguns particulares.
 
Entre nós, também tem de ser possível realizar este tipo de trabalhos, com mínimo incómodo, a exemplo do que acontece por essa Europa fora, onde o respeitável interesse dos comerciantes não é afectado, senão residualmente, já que tudo se equaciona e concretiza com a preocupação de não comprometer o acesso dos potenciais clientes, com todas as condições, nomeadamente, de segurança.
 
Neste como noutros aspectos relacionados, impõe-se uma radical mudança de procedimentos, no inequívoco respeito pelos interesses da comunidade. É, também, toda uma cultura que está em causa.
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*Azevedo, José Alfredo da Costa, Bairros de Sintra, A Vila Velha, A Estefânia, São Pedro, Câmara Municipal de Sintra ed., Sintra 1997


[Ilustr: Rua dos Arcos (fotos do blogue sintraemruinas)]

 

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