[sempre de acordo com a antiga ortografia]

domingo, 5 de março de 2017



Vasco Dantas Rocha
Recital luminoso no Palácio da Pena


"(...) Quando me convidaram, houve a sugestão de que incluísse obras de Liszt, talvez devido ao meu CD 'Golden Liszt' (editado em 2016). Mas depois, pensando, achei mais interessante abordar diferentes facetas da obra de Liszt e "fugir" um pouco das peças mais virtuosísticas", explica. (...) Há as transcrições para piano de obras de outros compositores - no caso, de Bach, de Schubert e de Wagner; há, dentro das obras originais, os 3 Sonetos de Petrarca, que no fundo são de certo modo transcrições de originais seus para canto e piano e que remetem para as suas viagens por Itália. E há, a fechar, a Rapsódia Espanhola (...) provém de uma peregrinação dele importante para nós, que foi a digressão que ele fez pela Península Ibérica. E a obra, apesar de se chamar Espanhola, inclui também temas portugueses (...)"

[Entrevista a Bernardo Mariano, 'Diário de Notícias', 4.03.17]

Estas, grosso modo, as coordenadas de um recital sabiamente concebido através do qual, com toda a exuberância, teria oportunidade de evidenciar as razões que levaram Massimo Mazzeo, o ponderado Director Artístico das iniciativas musicais da Parques de Sintra, a convidá-lo para este recital, subordinado ao tema 'As peregrinações musicais de Franz Liszt', evento inaugural dos 'Serões Musicais no Palácio da Pena'.

Com lotação esgotada, o Salão Nobre do Palácio da Pena acolheu o jovem pianista que confessou o seu deslumbramento por aqui tocar pela primeira vez. As referências a D. Fernando II, as relações do Rei-consorte com o próprio Liszt - com quem, aliás, comungava as mais directas origens húngaras - o estupendo espaço e o ambiente propício ao gozo da grande Música, não podiam ter impressionado mais o Vasco Dantas Rocha.

Sabem o que é um recital electrizante, uma daquelas oportunidades em que só há lugar para aplausos calorosos, muito calorosos, o mais sorridentes possível, em que, unânime, o público se levanta, vezes sucessivas dizendo ao artista como o conquistou, como está no seu coração? E, neste caso, até nem era um público qualquer, bem tendo eu tido ocasião de trocar impressões com amigos melómanos, conhecedorres, verdadeiramente entusiasmados com a Arte que o pianista nos propiciou.

Vasco Dantas Rocha partilhou connosco todos os matizes exigíveis à interpretação destas peças, em que, sob todas as formas, está subjacente o mais flagrante virtuosismo lisztiano. Deixem que, neste contexto em que Franz Liszt está tão presente, possa eu confessar apenas um desgosto, qual seja o de o nosso querido Sequeira Costa - cujos estado de saúde e distância geográfica não lhe permitem – pudesse assistir a esta «prova da Pena» nos termos da qual poderia concluir como, em Vasco Rocha tem um digníssimo sucessor.

Estamos todos de parabéns! A finalizar, nesta conclusão do júbilo do serão de ontem, uma referência ao grande anfitrião, Dr. Manuel Baptista, Presidente do Conselho de Administração da Parques de Sintra e ao Director do Palácio, Prof. António Nunes Pereira.

A sinceridade do entusiasmo de ambos, no afectuoso abraço que partilhávamos com Massimo Mazzeo e com o próprio Vasco, no final de um recital - em que ainda nos cumulou com "Cavalgada das Valquírias", outra das transcrições de Listt a partir de outra ópera do genro Richard Wagner - não podia ser mais afectuosa, circunstância que muito me comove.

Querem partilhar comigo a "Rapsódia Espanhola" de Liszt, na interpretação do Vasco Dantas Rocha? Então, aí têm um vislumbre do que ontem vivemos na Pena.

Boa Audição

https://youtu.be/dhwqmyoKlfI

PS: A próxima oportunidade de assistir a um seu recital será em 29 de Abril, nos 'Dias da Música' no CCB, em que tocará obras de Schumann, Liszt/Wagner e Stravinsky/Agosti.

[Ilustr: Vasco Dantas Rocha; Franz Liszt]
 
 
 
Foto de João De Oliveira Cachado.
 
 
Foto de João De Oliveira Cachado.
 
 
 

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