[sempre de acordo com a antiga ortografia]

sexta-feira, 23 de fevereiro de 2018



Quem marcha?
Que Movimento Cívico está em marcha?
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- A propósito do plano da autarquia para instalação do parque de estacionamento na Praça D. Fernando II
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[Publicado no facebook em 22 de Fevereiro de 2018]

Começo por expressar uma verdade inequívoca que, infelizmente, parece ainda não ter sido assumida por quem tem tido nas mãos os destinos da nossa terra, qual seja a de Sintra não merecer que gente menos esclarecida ponha em risco os mais distintos valores patrimoniais que levaram a UNESCO a classificá-la como Paisagem Cultural da Humanidade.
Pois bem, entre outras, também é por ter isso em consideração que os cidadãos se envolveram no QSintra, gerando uma privilegiada plataforma para a intervenção cívica, inclusive com base parcial em associações cívicas e culturais já existentes, na tentativa de alterar e remediar situações que, na maior parte das vezes têm inusitada carga de polémica.
Entretanto, não deixa de ser altamente sintomático, quase perverso, que os cidadãos envolvidos em tão representativo Movimento cívico tenham de lutar contra quem, democraticamente, foi eleito para representar os mais legítimos interesses deste lugar único.
Na realidade, ao referir a Câmara Municipal de Sintra, pois é a autarquia que está em causa, quem pode concluir diferentemente de ter vindo ela a demonstrar, com inusitada exuberância, como não está à altura das necessidades actuais de uma gestão esclarecida e actualizada?
Cumpre esclarecer que, em especial, me reporto a uma vasta série de desafios, de toda a ordem, colocados quer pelos cidadãos residentes, fregueses e munícipes, quer por visitantes nacionais e estrangeiros que, muito especificamente, demandam o núcleo da sede do concelho.
E é nesta zona, ou seja, no seu vasto centro histórico - integrando a Estefânea, Vila Velha e São Pedro, bem como outros pontos do maior interesse patrimonial, mais próximos ou mais afastados como os do alto da Serra - que muitas questões estão em causa e que se acumulam as grandes razões de queixa.
Por outro lado, ninguém nega a evidência de ser difícil, muito difícil intervir, mesmo com as melhores intenções, no sentido de modificar uma determinada situação em qualquer enquadramento urbano, dificuldade que, então nos centros históricos, é exponenciada por todos os factores adversos em presença.
Tenha-se em consideração, meramente a título de flagrante exemplo, o caso que acaba de chegar aos 'media' nacionais, precisamente, em resultado da acção do QSintra que, como lhe compete, apenas dá voz a quem, desde 2016, repudia a decisão da Câmara de instalar um parque para 100 viaturas, no coração de São Pedro, em plena Praça D. Fernando II, para 'disciplinar' o actual e, evidentemente, caótico estacionamento.
Perante tanta manifestação de desagrado, o mínimo que se pode concluir é que, 'ab initio', tudo nasceu torto. Como a autarquia não consultou os fregueses e estes se manifestaram como puderam, nomeadamente através de abaixo-assinado com centenas e centenas de assinaturas, foi ela obrigada a emendar a mão, a alterar o projecto que, no papel, entre outras 'melhorias', refira-se de passagem, até deixou de ter pedrinhas coloridas a pavimentar aquele nobre terreiro...
Apesar de tanta contestação relativamente ao objectivo da Câmara, os cidadãos ainda não conseguiram que, em definitivo, os autarcas abandonem a insistência, a impensável persistência numa asneira que aparece à revelia das melhores práticas de gestão da mobilidade urbana e que revela tanta falta de lucidez e de actualizada informação.
Em sentido oposto, basta aceder à lista das centenas dos primeiros subscritores do QSintra, todos os dias engrossada por aderentes e já atingindo a casa dos milhares, para perceber que o Movimento em marcha está longe de se apresentar como porta-voz dos interesses da tal meia dúzia de famílias de Sintra que o Senhor Presidente da Câmara Municipal de Sintra quis entender.
Não, o QSintra goza o privilégio de poder contar com figuras nacionais em diferentes campos culturais que, numa perspectiva integrada, são afectas à defesa e preservação do património, tais como algumas das Artes e Letras, Arquitectura Paisagista, Mobilidade Urbana, Economia e Finanças, Engenharia do Ambiente, ao Direito, gente actualizada e nenhum «velho do Restelo», que não deixa os seus créditos por mãos alheias quando afirma ser uma tremenda asneira insistir na instalação do tal parque para 100 viaturas.
Ao partilharem a consabida norma do parque de estacionamento como gerador de tráfego, pois são tais pessoas que, em alternativa ao despautério, apontam a solução de uma 'bolsa de estacionamento de proximidade', nunca para 100 mas, realisticamente, abrangendo cerca de 40 automóveis, nunca a instalar na referida Praça mas nas ruas Marquês de Viana e Serpa Pinto e, essencialmente, se pronunciam quanto à inevitabilidade da permanentemente adiada instalação dos 3 parques periféricos - um dos quais a cerca de 500 metros do referido terreiro de São Pedro - servidos por carreiras de transporte público interligando todos os principais destinos.
Neste momento em que, finalmente, os meios de comunicação social, dão voz aos anseios dos cidadãos de Sintra, também lhes deixam um enorme lastro de esperança, tão necessária para criar o espírito de corpo para outras lutas.
Sim, porque este caso do Largo da Feira de São Pedro, é apenas um entre muitos episódios, um exemplo do gigantesco trabalho de desmontagem e de descodificação de um estado de coisas extremamente desfavorável, em especial, repito, nos diferentes pontos fulcrais do centro histórico.
Este é o tempo em que, com os media bem informados acerca do que está a passar e tem vindo a suceder, se poderá desmascarar manobras da eficaz máquina de propaganda que tanta confusão tem gerado a quem desconhece ou conhece mal os problemas que, tão seriamente, têm posto em causa a qualidade de vida em Sintra.

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