Centro Histórico de Sintra
alterações ao trânsito:
- exigências inadiáveis
alterações ao trânsito:
- exigências inadiáveis
I
Introdução
Escrevo este texto pensando nos amigos que, vivendo longe, não deixam de se preocupar com os problemas que, em terra tão sofisticada como Sintra, a todos nos desafiam no sentido da defesa do seu estupendo património natural e edificado.
A verdade é que, umas vezes por falta de conhecimentos de base, outras porque a luz não consegue vencer zonas de sombra que toldam o entendimento de cada um, nem sempre se impõe a evidência de que a defesa do património é indissociável de medidas radicais, como as relativas à mobilidade urbana, que impeçam ofensas às peças patrimoniais que integram determinados espaços.
Em Sintra, vem isto a propósito de estarmos a viver momentos de certa apreensão, por estes dias que precedem a Semana Santa, em relação ao que podemos esperar como imediato resultado das alterações ao trânsito no núcleo central do Centro Histórico – portanto, no espaço conhecido por Vila Velha – recentemente anunciadas pela autarquia.
II
Quando e com que constrangimentos
Precisamente a partir de Segunda-feira, dia 26, começará a funcionar um plano de condicionamento do acesso automóvel àquele nobre espaço que implica uma total mudança de hábitos por parte de residentes e visitantes.
Se todos bem sabemos como a relutância à mudança é fenómeno com o qual há que contar, então não causará qualquer surpresa que se estejam a registar reacções do mais evidente egocentrismo, que nem merecem detalhe, já que fazem parte de qualquer cardápio habitual em situações que tais.
Cumpre não esquecer que, apesar das civilizadíssimas razões que lhe assistem – neste caso em que estão em causa a defesa do património e a segurança de pessoas e bens – a Câmara Municipal não está isenta de reparos pertinentes que, sublinho, não registaria se, atempadamente, tivesse actuado como era suposto e, aliás, até prometera…
Por exemplo, o facto de ainda não estar instalada a rede de parques dissuasores de estacionamento na periferia, colide com os objectivos agora previstos, porém, felizmente, não os inviabilizando na medida em que estão em curso iniciativas que, se levadas a bom termo, compensarão as mais instantes carências.
III
O que devem esperar os visitantes
Os meus amigos poderão ir a todo o lado, visitar todas as ‘jóias da coroa’ mas de maneira diferente. Depois de deixar o carro, civilizadamente arrumado, num parque adequado, poderão dirigir-se ao destino em transporte público pagando uma tarifa simbólica.
Portanto, antes da próxima vinda a Sintra, informem-se e preparem-se para que vos seja pedido aquilo que é habitual nas latitudes ditas civilizadas. Por exemplo, se quiserem ir comprar umas queijadas e travesseiros à Piriquita, não contem com a possibilidade de ficar sentados ao volante do automóvel enquanto alguém lá vai buscar os bolos. Não, no Centro Histórico, esse e outros vícios análogos, pura e simplesmente, acabaram-se.
Enquanto visitantes, não é suposto desenvolverem os casos de «egocentrite aguda» que, nos últimos dias, temos tido conhecimento. De qualquer modo, preciso é preparem-se para alterações que bem posso qualificar como vitais para a subsistência de Sintra enquanto destino turístico demandado por hordas de visitantes que importa manter tão ‘disciplinadas’ quanto possível.
IV
A minha postura
Ao propor este tão grande desassossego, a autarquia submete-se a uma prova cujos contornos de coragem não poderei deixar de sublinhar. Se ninguém esperaria que, da minha parte, houvesse um inequívoco patrocínio a este plano de alterações, determinam-me a isenção, a atitude de independência por que sempre me tenho pautado e, na ausência de vínculo a qualquer objectivo politico-partidário, o respeito por este projecto do executivo camarário.
Assim sendo, não me irão faltar, nos próximos tempos, factores e motivos de muita, da maior atenção, em suma, de trabalho bastante, não no sentido da sua sistemática descredibilização, antes com o propósito de colaborar através da apresentação das alternativas que considerar mais eficazes.
Porque valores mais altos se levantam, mantenho-me atento, preparado para a avaliação dos primeiros passos deste longo processo, a caminho de melhores dias nesta Sintra que tão armadilhada tem estado, fundamentalmente, em resultado da inércia há tantos anos reinante.
V
Batalha inevitável, irreversível
A rematar, não tenho o mínimo problema em assumir que estamos todos envolvidos numa guerra a favor das melhores práticas de mobilidade urbana, num lugar em que cumpre preservar e defender um centro histórico tão característico.
Como em todas as guerras, nesta que é a batalha pela ordem e pelo ordenamento contra o caos infernal do trânsito, haverá vencedores e vencidos, vítimas colaterais, ganhadores e perdedores. Hão-de vencer a razão o interesse colectivo, apesar de ter de arcar com alguns sacrifícios individuais.
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