[sempre de acordo com a antiga ortografia]

domingo, 4 de março de 2018



São Pedro de Sintra,
Praça D. Fernando II [Largo da Feira] 
- debate e combate entre ignorância e lucidez

[Publicado no facebook em 28 de Fevereiro]

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Cada vez mais, a propósito da famigerada intenção da Câmara Municipal de Sintra de instalar um parque de estacionamento para 100 viaturas, na Praça D. Fernando II, em pleno centro histórico de Sintra, dou por mim a citar, quer vebalmente quer por escrito, a lucida sentença NADA MAIS ASSUSTADOR DO QUE A IGNORÂNCIA EM ACÇÃO de Johann Wolfgang von Goethe.
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A falta de informação, o défice cultural pessoal, a ignorância e o atrevimento que a própria ignorância suscita, são ingredientes explosivos se referentes a cidadãos eleitos. De todo em todo, porém, não nos surpreendamos com os manifestos de ignorância que nos devolvem perante as denúncias que apresentamos. A verdade é que, uma vez eleitos e «em roda livre», não há como evitar e, portanto, temos de contar com a ignorância de quem, localmente, nos representa e governa.
Como não são as pessoas certas nos lugares certos, se e quando lhes dizemos que peças patrimoniais de inequívoco interesse, em locais sofisticadíssimos e únicos, se degradam a olhos vistos perante a sua inacção, temos de contar que nos respondam através da sistemática desvalorização das nossas denúncias. As suas limitações impedem que nos respondam com a lúcida humildade ditada pela evidência.
Para tais pessoas, fontes mal recuperadas ou ainda em processo de degradação e, mais prosaicamente, buracos e lombas nos pavimentos da Correnteza ou da Volta do Duche, em pleno Centro Histórico de Sintra, para tais pessoas, repito, são tão interessantes como quaisquer fontanários, pavimentos de ruas e casas degradadas em qualquer lugar do concelho...
O específico enquadramento das peças, que caracteriza e define o ‘espírito do lugar’, não é coisa que lhes determine a adopção das medidas específicas e urgentes que são encaradas por gente preparada, educada, informada e culta nas latitudes civilizadas. Pura e simplesmente isso não os preocupa porque, se preocupasse, não estaria eu a escrever estas linhas!...
Para eles, a Praça D. Fernando II em São Pedro, esta Sintra-Sintra, que não pode dispensar os parques de estacionamento periférico - cuja operacionalidade, aliás, cumpre lembrar, no-la prometeram para o Verão de 2016 - para eles, repito, é a Sintra tradicionalmente defendida por uns tipos elitistas, agora engrossando o Movimento Cívico QSintra que só pensam no que se passa entre a Volta do Duche e a Regaleira…
De qualquer modo, não posso meter tudo no mesmo saco. Uma coisa são os técnicos da autarquia - cuja competência e actualização não posso nem devo pôr em questão, a quem, tão somente, compete apresentar aos decisores os vários cenários de solução, alertando para as causas e consequências das resoluções - outra, bem diferente a preparação e capacidade dos políticos que, em última instância, decidem mesmo.
Nada de confusões. São os políticos decisores que estão em causa. Os munícipes desconhecem, mas devem ter em consideração que, a montante de qualquer «proposta e decisão» da Câmara Municipal de Sintra, podem ter havido as mais doutas propostas técnicas.
E também devem os cidadãos pressupor que, tantas vezes, é devido aos múltiplos factores dos «compromissos políticos» em presença, potenciadores da ignorância subjacente, que aquelas propostas técnicas não terão sido favoravelmente acolhidas pelo executivo autárquico que detém mandato conferido pelos eleitores.
E, para finalizar, ainda há que contar que, muito limitados, coitados - pessoas que não estão à altura de ocuparem os lugares que detêm como decisores políticos de um dos mais importantes concelhos do País - permitem-se avaliar as nossas justíssimas queixas através dos parâmetros afins das limitações que os caracterizam…
Cumpre ainda perguntar, em pleno século vinte e um: é coisa equacionável a prevista implantação do parque de estacionamento - apenas domesticador da actual desarrumação - sempre um negativíssimo e evidente 'gerador de tráfego', em manifesta cedência aos malefícios da lógica do automóvel, no coração do Centro Histórico que é a Praça D. Fernando II em São Pedro de Sintra, contra o espírito de um lugar cujas características e memórias nada têm a ver?
Naturalmente, a resposta é só uma. Infelizmente, como a resposta não é subscrita pelo executivo municipal em funções, a conclusão teremos nós de a pedir a Goethe, o grande titã das mais nobres causas, que tanto nos inspira:
“Nada mais assustador do que a ignorância em acção".
De facto, contra factos...

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