[sempre de acordo com a antiga ortografia]

quinta-feira, 13 de setembro de 2007

Estar à altura
Por mais uns dias, como ontem dei a entender, continuarei a considerar o assunto do estacionamento automóvel, em articulação com recentes atutudes da GNR que, sob a aparência de generosa tolerância, mais não constituem do que uma demissão pública da missão que lhe está cometida de cumprir e fazer cumprir a Lei vigente.

Importará ter em consideração que apenas me circunscreverei a algumas situações, na sede do concelho, especialmente nas freguesias de Santa Maria e São Miguel, São Martinho e São Pedro que, pelas suas características de potencial indução de periculosidade, com nefastas consequências para a segurança de pessoas e bens, já foram objecto de dezenas de artigos de minha autoria publicados pelo Jornal de Sintra nos últimos anos.
Alternativas civilizadas

Tanto hoje como outrora, procuro não perder a perspectiva de que a resolução do problema do estacionamento, quer em Sintra quer noutro qualquer lugar com idêntico perfil, se inscreve num quadro que pressupõe actuações integradas, articuladas, fruto de uma análise privilegiando a abordagem sistémica a qual, em simultâneo, deverá equacionar os problemas que lhe são afins, ou seja:

-instalação de parques dissuasores de estacionamento, nas entradas da sede do concelho, servidos por um sistema de transportes cujas tarifas incluam a do parque, servindo os diferentes destinos quer turísticos quer de outra índole;

-um regime adequado de cargas e descargas compatível com as necessidades de uma latitude civilizada;

-instalação de novas modalidades de transporte, nomeadamente para atingir os diversos destinos turísticos do alto da Serra de Sintra, como seja uma carreira de funicular;

-encerramento ao trânsito de determinadas vias, apenas permitindo o acesso ao centro histórico por veículos de transporte colectivo e salvaguardando os casos de residentes, comerciantes e veículos de emergência;

-por razões de carácter ecológico, encerramento do trânsito automóvel em direcção à Pena e Castelo dos Mouros, apenas permitindo o acesso veículos de transporte colectivo «amigos do ambiente», eléctricos, mistos, biodiesel, etc, incluindo as grandes galeras de tracção animal, a exemplo do que já acontece há décadas em congéneres lugares europeus;
-extensão da carreira de carro eléctrico à estação terminal de caminhos de ferro e à Vila Velha;

-aproveitamento de bolsas residuais de estacionamento e sua potenciação à mais elevada expressão (caso do parque de estacionamento contíguo ao edifício do Departamento do Urbanismo);

-outras medidas que, tais como estas, têm sido estudadas, algumas oportun(istic)amente
anunciadas, todas conhecidas, todas absolutamente indispensáveis à vitalização e animação da sede do concelho, no seio de um território pela Unesco classificado como Paisagem Cultural da Humanidade.
Uma questão de autoridade

Depois deste enquadramento introdutório, passarei a factos concretos. Desde que a GNR substituiu a PSP, procurei colaborar, contactando com agentes nas ruas, telefonando ou mesmo deslocando-me ao posto da Rua João de Deus, manifestando as minhas preocupações, humildemente sugerindo determinada actuação, naturalmente, sempre no contexto da intervenção cívica de quem não consegue alhear-se das questões que afectam a comunidade sintrense.

Sem surpresa alguma me apercebi de que, ao contrário do que seria de esperar num Estado civilizado, por ocasião da passagem de testemunho de uma para a outra força policial, não tinha havido a mínima transmissão de alerta para determinados pontos, consabidamente críticos, geradores de tensão, não só a nível do estacionamento e do trânsito em geral, mas também noutros domínios.

Nos meus informais contactos iniciais com os sempre simpáticos e atentos agentes, alertando para problemas que, naquele preciso instante, estariam ocorrendo, por exemplo, na Volta do Duche, na estrada junto à Quinta da Regaleira ou na bolsa de estacionamento do Rio do Porto, também constatei que tais topónimos lhes eram parcial ou totalmente desconhecidos.

Não sendo muito grave, já que o tempo entretanto decorrido terá ajudado a colmatar aquela carência, tal circunstância não deixa de evidenciar e atestar a falta de orientações que não chega(va)m aos agentes no terreno, confrontando-se estes com os problemas específicos de tais lugares, que lhes deveriam ter sido oportunamente transmitidos, de acordo com as estratégias mais consentâneas à sua resolução. Assim sendo, não admira que, tendo começado mal, portanto, na ausência de diálogo profícuo entre as duas forças de segurança, se tenha perdido um tempo absolutamente precioso, aproveitável para a alteração, ainda que incipiente, de um statu quo deveras preocupante.

Havendo muita matéria para partilhar, lembrarei que os casos mais desesperados - deixem-me utilizar adjectivo tão retumbante mas, infelizmente, não desajustado - serão os da Estefânea, particularmente as artérias cicundantes dos equipamentos culturais Centro Cultural Olga Cadaval e Sintra Museu de Arte Moderna/Colecção Berardo e Regaleira onde, indiscutivelmente, estão a suceder-se episódios de perfeita demissão da autoridade relativamente àquilo que será de esperar, episódios que só não são caricatos porque estão em causa valores caros à sociedade democrática do Estado de Direito.

(Continua)

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