[sempre de acordo com a antiga ortografia]

segunda-feira, 17 de setembro de 2007

O (cansado) coração do concelho
São duas e dez da tarde. Acabo de passar pela Praça Francisco Sá Carneiro onde, em cima do empedrado fronteiro ao CC Olga Cadaval, estão estacionados (??) doze automóveis; na Rua Câmara Pestana, entre os Armazéns Baeta e a Conservatória do Registo Predial, estão estacionados (??) , os mesmos seis automóveis que ocupavam tais proibidos lugares, pelo menos, já há uma hora; do outro lado da Heliodoro Salgado, na sua perpendicular Rua Capitão Mário Alberto Soares Pimentel, estão estacionados (??) sete automóveis, em zona pedonal, de estatuto perfeitamente idêntico ao da área pedonalizada da já referida Heliodoro Salgado (transformada, aliás, em via de quase constante circulação...).

Ora bem, para que conste, quer na própria Câmara Pestana, na zona de sentido único ascendente, quer na Adriano José Coelho, até ao fim do Bairro das Flores, a esta hora, há dezenas e dezenas de lugares vagos... Pois é, estacionamento pago. Naturalmente, os cidadãos mais vivaços, os mais espaertalhões, que bem conhecem a área e as práticas vigentes da autoridade, não estão com cerimónias e, logo pela manhã, estacionam o seu automóvel em cima do empedrado.
Naturalmente, todos se comportam de maneira tão condenável, confiados que se sentem na sacrossanta, instalada filosofia de universal tolerância, adoptada pela Guarda Nacional Republicana, à qual também já se renderam muitos estrangeiros que demandam a Estefânea, já que «em Roma, sê romano»... Se, porventura, a GNR faz rebocar um automóvel, é coisa, consabidamente, tão rara que os tais espertalhões não pensam duas vezes, nada receiam pois, no caso, o crime compensa mesmo...

Ultimamente, até há quem invoque a insegurança provocada pela instalação do Centro de Apoio aos Toxicodependentes no Bairro das Flores, para ali não estacionar - claro que furtando-se ao pagamento da respectiva tarifa - para vir arrumar o carro, pois claro, onde haveria de ser? No empedrado da Praça Francisco Sá Carneiro... [A propósito, hei-de verificar se, em Lisboa, perto do CAT da Rua das Taipas, também deixaram de estacionar veículos e, se afirmativo, terão ido para cima de qualquer empedrado ali das redondezas, talvez no Camões...].

Este é o quadro, num raio de cinquenta metros, mais ou menos a qualquer hora de expediente,
uma vez que esta é uma zona muito propensa a expedientes, normalmente muito bem sustentados em esfarrapadas, ridículas desculpas.

Insegurança e perigos reais

Se, por acaso, como já tem acontecido, é dia de mercado, há funeral a saír de uma das capelas mortuárias da igreja de São Miguel, ao fundo da Rua Câmara Pestana, e estão dois carros estacionados nesta mesma rua mas no segmento em que há dois sentidos, arma-se um salsifré
indescritível em que tudo entope. Pura e simplesmente, deixa de se poder circular! É impossível aceder ou saír do Bairro das Flores, o trânsito fica bloqueado, por vezes até Monte Santos, de um lado, até ao quartel dos bombeiros e Escola Don Carlos I, para que provém do Lourel, e/ou até à Portela. Foi numa situação que tal, há uns três anos, relatada no Jornal de Sintra, que o condutor de uma ambulância, transportando um doente, desesperado perante o trânsito que não fluia, atirou com o carro para cima do perigoso separador da Heliodoro Salgado, em previsível risco de capotamento.

Mas, naquela manhã, Nossa Senhora de Fátima devia estar particularmente atenta, anulando o pernicioso efeito da proverbial tolerância da autoridade (na altura, a PSP que, tudo leva a crer, deverá ter lido a mesma cartilha...). O pior é se Nossa Senhora, São Cristóvão, patrono dos motoristas, e São Judas Tadeu, advogado dos impossíveis, se distrairem em dia que, depois, não faltará quem considere de grande azar, de desastre...

E quando é noite de espectáculo no CC Olga Cadaval? E olhem que até nem é preciso que aconteça o que já sucedeu, isto é, noite de espectáculo coincidente com o velório de alguém muito conhecido aqui em Sintra, com muita gente tentando acercar-se da capela mortuária. O quadro é de tal modo indescritível e preocupante que raia os limites da indecência. Chega-se ao ponto de, na eventualidade de qualquer sinistro, não poder passar uma viatura de bombeiros. Os carros são literalmente atirados para onde houver um buraco, atravancando outros, impedindo saídas de prédios (onde, inclusive, há gente doente que, não raro, carece de socorro), instalando-se uma situação de salve-se quem puder, totalmente indigna, intolerável em qualquer latitude e, muito menos na sede de um concelho com território classificado como património da humanidade...
Tolerância? Basta!

Esta é a consequência da desenfreada estratégia da tolerância que, desgraçadamente, se confunde com a cultura do desleixo, da irresponsabilidade. É este o espelho que reflecte uma maneira de ser e de estar altamente condenável, egocêntrica, sem qualquer ponta de civismo, determinando e avalizando o modo sobranceiro, que alguns considera imperialista, como nos olham certos povos europeus, incrédulos quanto à possibilidade de pertencerem ao mesmo barco em que embarcou esta lusa gente, já foi avaliada como choldra ingovernável que, no entanto, me recuso a aceitar como tal.

É uma vergonha inominável. Não é despropositado qualificar como potenciais criminosos, todos quantos, de algum modo, são responsáveis por tal estado de coisas.

Será preciso pôr mais no cartel para demonstrar como deve ser abandonada qualquer atitude tolerante?

2 comentários:

Anónimo disse...

Parece-me triste a intolerância que algumas pessoas mais afortunadas revelam para com o próximo. Mas mais triste me parece o comportamento comezinho de quem se preocupa mais com a estética de um edifício do que com a situação grave que se passa em Sintra, cada vez mais decadente. Se quer importunar diariamente a polícia, faça-o com um objectivo mais virado para a comunidade - a segurança dos residentes, os assaltos que aumentam e o ambiente que se instalou para ficar à conta das pessoas que apareceram agora nas redondezas. Ou se calhar é mais fácil tirar fotos aos carros de quem é inofensivo, por se tratar de gente de bem, não se sujeitando assim à forte possibilidade de algo correr mal se se meter com os ditos delinquentes...

Sintra do avesso disse...

Muito sinceramente,dificilmente compreendo ou, sequer, consigo alcançar a lógica do encadeamento das várias ideias expressas pelo anónimo.Mas, vá lá, tentarei esclarecer para que, posteriormente, me elucide.

1.Em alguma parte da minha mensagem terei eu dado a entender que estaria mais preocupado "(...) com a estética de um edifício do que com a grave situação do que se passa em Sintra, cada vez mais decadente(...)"?

Devo comunicar-lhe que se engana redondamente se depreendeu que são razões de ordem estética que me levam a protestar contra quem estaciona (??) o seu carro em cima do empedrado fronteiro ao edifício onde está instalado o CCOC.

Enfim, não deixa de ser verdade que sou conhecido em Sintra como militante das causas inerentes à defesa do património natural e edificado. As questões de ordem estética, especialmente as que se articulam com a gestão do território urbano e do parque imobiliário, dos equipamentos e dispositivos de ordem vária aí instalados, preocupam-me sobremaneira. Orgulho-me de várias tomadas de posição, inclusive públicas, sem qualquer ponta de medo, que falam por mim, clara e inequivocamente, jamais me acobertado sob a capa do cómodo anonimato...

No entanto,importará perceber que, para além de não ter sido construído para lhe colocarem automóveis em cima - já que, fosse esse o objectivo, o pavimento do terreiro seria outro, que não o da calçada à portuguesa, dando aso a que o edifício "respirasse" de modo diferente - as razões subentendidas ao meu escrito prendem-se, isso sim, com uma questão de justiça. Ou seja, quando a autoridade "tolera" que os espertalhões estacionem (??)os seus automóveis naquele local, estão a cometer a injustiça de não os sancionar como a todos os outros condutores que, mais incautos, menos sabichões, se permitem estacionar junto ao passeio da Rua Câmara Pestana, entre os Armazéns Baeta e a Conservatória do Registo Predial...
Injustiça, está o anónimo a compreender?

Acerca deste item, aliás, se o anónimo assim o entender necessário, poderei ainda aduzir outros motivos, se bem que, para todos os efeitos decorrentes do contexto do referido artigo, este seja o esclarecimento que considero mais pertinente.

2. Mas quem terá dito ou feito entender ao anónimo que eu pretendo "(...importunar diariamente a polícia(...)"? Não percebe o anónimo que me anima, inequivocamente, uma clara vontade de, isso sim, colaborar com a autoridade? Não perceberá o anónimo que eu condeno, isso sim, a atitude de "tolerância", não só estritamente neste caso, mas toda a famigerada "tolerância" que tem como consequência lógica, precisamente, a insegurança com que o anónimo está, tão justamente preocupado?

Se quer um flagrante exemplo da resposta decorrente da pergunta retórica do parágrafo anterior, pense o anónimo apenas no incrível perigo que todos corremos nesta zona, sempre que há um evento no CCOC e a autoridade "tolera" que os condutores "estacionem" (??) os seus carros em qualquer buraco,tapando saídas de prédios, de garagens, impedindo que circule um carro de socorro perante qualquer desastrosa eventualidade que se apresente... Consegue imaginar maior insegurança que esta, só porque houve uns guardas porreiros que fizeram o jeitinho de facilitar a vida aos espertalhões?

Pois fique sabendo o anónimo que, na realidade, estou mesmo muito preocupado com a insegurança. E não é de agora, há muitos anos que não tenho outro remédio, já que a vontade de participar e a força do civismo assim me têm obrigado. A propósito, permito-me chamar-lhe a atenção para o texto que, hoje mesmo, publiquei neste blog que faz o favor de ler, através do qual poderá verificar que isto não é só bla, bla,porquanto, para as situações de nítida insegurança, avanço com soluções e bato-me por elas, mais uma vez, repito, subscrevendo o meu nome.

3.Finalmente, diria que a cabeça do anónimo é perfeitamente perversa. Tudo leva a crer que, por um fenómeno de automimetismo muito sofisticado, o anónimo estará a ver-se ao espelho, induzindo a ideia de que a minha motivação última e definitiva, é o medo das represálias de eventuais delinquentes da zona. Bem, para além de perversa, deve ser uma mente muito, muito pobre de espírito...

Se alguma coisa estivesse por demonstrar, que a minha transparente atitude o pudesse permitir, seria - afirmo sem sofisma e com toda a frontalidade -a total, completa ausência de medo e, creia o anónimo, muito menos, de fantasmas...
q.e.d.