[sempre de acordo com a antiga ortografia]

quinta-feira, 20 de setembro de 2007

Insegurança em permanência





Ontem, como tiveram oportunidade de verificar, o Notas Diárias trouxe-vos uma pequena reflexão pessoal sobre Aquilino Ribeiro, com os meus agradecimentos a pessoas e a lugares que me iniciaram no universo aquiliniano. Espero não terem ficado surpreendidos e entendido que, de vez em quando, como foi o caso nesta data, sempre que determinado evento o justifique, http://www.sintradoavesso.blogspot.com/ vai acolher assuntos alheios à especialidade do seu perfil, i.e., a partilha de assuntos que preocupam a comunidade sintrense.

Temos andado às voltas com questões de estacionamento e insegurança e, para não variar, a elas voltamos. E, para que se não diga que falamos em abstrato, tenhamos em consideração coisa bem concreta, acontecida há bem poucos dias, nesta mesma zona da Estefânea da qual ainda não saímos, aqui nas imediações do Centro Cultural e do Museu de Arte Moderna/Colecção Berardo.

Como sabem, finalmente, começaram obras de recuperação do antigo Casino, trabalhos nas fachadas e no interior do edifício, absolutamente indispensáveis à manutenção, naquele espaço museológico, de espécies de um acervo que não comportam as condições menos dignas - e uso este eufemismo para não me exaltar nem provocar, em terceiros, reacções indesejáveis - a que têm estado submetidas durante o passado recente.

Apenas um parêntesis para lembrar a quem teve a paciência de me acompanhar, através dos artigos publicados na rubrica conselho adiado do Jornal de Sintra que, pelo menos, em duas ocasiões, 2 de Dezembro de 2005 (Surrealismo, memórias do futuro) e 31 de Janeiro de 2006 (Berardo põe Sintra na berlinda) também eu subscrevi opiniões afins da indispensabilidade da intervenção que agora acontece. Portanto, ainda bem que as obras estão em curso!


Causas e consequências

Entretanto, para além das consequências normais que obras congéneres sempre desencadeiam, vieram estas causar um significativo agravamento da tranquilidade e segurança a que a zona aspira e, indubitavelmente, tem direito. Não esqueçamos, entre outros importantes factores a considerar que, sendo um bairro crítico no que respeita à capacidade instalada de estacionamento legal, aqui se perfilam estes dois importantes equipamentos culturais, ambos procurados, diariamente, por públicos tão diversificados como criancinhas dos jardins de infância, jovens das escolas dos ensinos básico e secundário, muita gente da terceira idade, muitos estrangeiros.

Com o caos do estacionamento selvagem, transformando a zona numa armadilha indescritível, estas duas casas de cultura, de referência nacional, já que a sua oferta em muito ultrapassa a escala concelhia (no caso do Museu, até pode invocar-se uma dimensão internacional), ficam sob a mira de marginais que se aproveitam da insegurança, da falta de controlo, deste miserável quadro de terceiro mundo de salve-se quem puder. Infelizmente, pelo menos, por enquanto, não vale a pena gritar ó da guarda! porque, no caso da força policial em Sintra, a famigerada tolerância com que a GNR tem actuado, autorizando os desmandos que tenho denunciado (v, d. textos abaixo dos dias precedentes), acaba por complicar e tornar cada vez mais difícil a gestão do embroglio.

Como seria previsível, já há pessoas a arrostar com as nefastas consequências. A Dra. Maria Nobre Franco, directora do Museu, é a mais conhecida vítima desta situação. Não deixa de ser curioso que alguém como ela, absolutamente irrepreensível, incapaz de usar qualquer expediente de esperteza saloia para resolver o problema do estacionamento do seu automóvel, ela que é das três ou quatro pessoas com direito ao estacionamento sobre o empedrado (na área actualmente ocupada pelo estaleiro das obras) e que, mesmo assim, não recorre à solução de atirar com o seu carro para cima do passeio frontal ao edifício do CCOC, tenha sido surpreendida, cerca das onze da manhã de um destes dias, com um arrombo e roubo da sua viatura que estava, bem estacionada, nas imediações...

Agir,reagir, prever e...

A insegurança na zona é algo que se tem agravado, sem que se note qualquer estratégia de remediação. E, como se vê, pelo caso em apreço, não é coisa da noite, apenas decorrente da habitual fonte de desassossego local, que os sacrificados moradores do bairro, especialmente da Praceta Dr. Arnaldo Sampaio denunciaram, alertando a Câmara Municipal e a polícia, para o medo em que vivem. Ainda está bem viva a controvérsia suscitada pelas diligências de vários anos que culminaram com a publicação, no Jornal de Sintra, de artigos que originaram réplica e tréplica do agente perturbador visado.

Desconheço se os toxicodependentes assistidos pelo centro instalado no Bairro das Flores têm alguma relação com o recrudescimento das razões de queixa para a insegurança em que vive, não só de noite, mas também em pleno dia. Há, pelo menos uma senhora, funcionária do CCOC que, pelos vistos, por ter todas as certezas do mundo, deixou de estacionar, regular e legalmente, o seu carro na zona concessionada pela EMES para, muito convenientemente, convenhamos, o vir estacionar no já referido empedrado. Eu próprio ouvi o seu testemunho, em diálogo com um agente da GNR que a tranquilizou pois não iria actuar nem, muito menos, autuar já que preferia ser tolerante...

O que me parece é que, como tenho dado a entender, é inadmissível continuar com a tática da tolerância que, nem aqui nem em nenhuma latitude civilizada, pode conduzir a qualquer solução satisfatória, apenas contribuindo, em última instância, para a falta de qualidade de vida. Urge, isso sim, que a autoridade esteja muito atenta, patrulhando a zona dia e noite, promovendo todas as medidas tendentes a obviar comportamentos desviantes, dissuadindo e/ou controlando a frequência do local por jovens estudantes das escolas do ensino básico e secundário da zona (Don Carlos I, Don Fernando II, Santa Maria) que se dirigem a esta área com objectivos facilmente descartáveis se devidamente investigados, podendo envolver-se em cenasque só serão lamentáveis se não forem previamente evitadas.

...acrescentar beleza

Às tantas, não sei mesmo se, quem pode e foi investido para o efeito, tem efectivo interesse em contribuir para a resolução deste problema de insegurança ou se pretende continuar a fazer parte do problema... Termino, com nova referência à Dra. Maria. Para ela vai a minha simpatia pelo mau bocado por que passou. E aproveito para lembrar que é alguém a quem Sintra muito deve. Naturalmente, tem direito à tranquilidade, enquanto trabalha no «seu» museu, tentando fazer o que melhor pode e sabe, com recursos sempre escassos, com um sucesso que todos aplaudem. Olhem, a Dra. Maria é um exemplo para todos, incluindo a autoridade instituída, chamados que fomos à tarefa máxima de facilitarmos a vida uns aos outros e, se possível, como ela tão bem faz, acrescentando-lhe Beleza...



Sem comentários: