Numa altura em que, pelas melhores razões, tanto se fala sobre a necessidade de, cada vez mais, promover a vertente profissional da oferta pública do Ensino Secundário, considero da maior oportunidade, propor-vos brevíssimas notas de reflexão sobre uma matéria que, para a comunidade sintrense, só pode constituir, por um lado, motivo de orgulho e, por outro, pretexto para alguma apreensão.
Trata-se apenas de um pontapé de saída para a abordagem do assunto neste blogue. Se os destinatários - alunos, professores, pais e encarregados de educação, direcção da Escola, a empresa municipal Sintraquorum (da qual depende a Escola Profissional de Recuperação do Património de Sintra) e a própria autarquia assim o vierem a considerar, esta tribuna, tão acessível, poderá constituir um ponto de encontro cujo alcance de opinião até pode ser muito interessante.
Orgulho e apreensão
Portanto, melhor circunstanciando, o orgulho na já longínqua origem da Escola Profissional de Recuperação do Património, há cerca de vinte anos, radicada no projecto dinamizado pelo então Secretário de Estado Joaquim de Azevedo. Na Câmara Municipal de Sintra, alguém estava particularmente atenta à possibilidade de apresentar à comunidade uma oferta de ensino que, constituindo uma alternativa coerente e credível, se articulava, indissociavelmente, com o perfil de um concelho privilegiado, cujo património edificado é tão rico como carecido de manutenção, de recuperação e de restauro.
Por isso, justo é, ainda que apenas na seguinte breve linha, lembrar o grande entusiasmo, o determinante e decisivo empenho da Dra. Ana Xavier para que, de um belo projecto, se tivesse passado a coisas tão concretas como o digníssimo espaço hoje ocupado, onde bem é afirmado como se está à altura do tempo.
Ora bem, não só orgulho, mas também apreensão, como acima afirmava, por distintas e complementares razões, tais como a aparente «feroz concorrência» dos cursos profissionais que, no ano lectivo ora iniciado, foram lançados pelas Escolas Secundárias da rede pública ou, aquilo que, deveras, me parece muito mais preocupante, ou seja o futuro imediato do enquadramento profissional dos jovens diplomados pela Escola de Recuperação do Património de Sintra.
Concorrência e empregabilidade
Todavia, não resta a mínima dúvida que, desde já, será necessário desenvolver uma campanha de promoção, ainda mais eficaz e atempada do que a concretizada recentemente, no sentido de conquistar, em tempo oportuno e pelas razões mais convincentes, todos os alunos com potencial para a frequentarem, no concelho, no distrito e no país. Será, eventualmente, aconselhável acrescentar argumentos de muito peso, tais como a facilidade de alojamento e de transporte, a assegurar pela própria escola, em termos a definir, sem significativo aumento de encargos.
Já no que se refere à empregabilidade dos jovens diplomados pelas Escolas Profissionais, em geral, e, portanto, também pela EPRPS, ela é superior a oitenta e cinco por cento, uma taxa declaradamente superior a qualquer outra das hipóteses de saída do Ensino Secundário. Tal não significa, por outro lado, que o posto de trabalho seja encontrado perto da residência. Muito pelo contrário, com as especialidades de recuperação do património, nas áreas de azulejaria, cantaria, estuques, madeiras, metais e pintura mural, os jovens profissionais estão preparados para as deslocações que se revelem necessárias, para qualquer ponto do país ou da União Europeia, porquanto a sua qualificação, de Nível III, também é reconhecida internacionalmente.
Enquanto espaço multiregional, a UE é um grande território sem fronteiras onde, cada vez mais, como acontece na grande federação americana, é possível demandar trabalho à distância de vários milhares de quilómetros, sem qualquer drama e sem o estigma da emigração. Os jovens diplomados pela EPRPS, naturalmente, também são alertados nesse sentido. Contudo, um tal quadro de perspectivas laborais futuras, longe da porta, não pode dar descanso às entidades oficiais que tudo deverão fazer para, de qualquer modo, sempre facilitar um enquadramento profissional, o mais próximo possível, e nas melhores condições.
Apenas duas questões
E isto, muito francamente, não sei se está a acontecer. Seguidamente, e, com o claro propósito, sem qualquer sofisma, de a todos permitir a partilha de informação pertinente, deixaria uma ou duas perguntas, para as quais esperaria obter uma resposta em tempo útil. Não pretendo, é bom que fique esclarecido, uma resposta satisfatória, de carácter positivo. Não senhor, apenas uma resposta, a breve trecho, acerca das seguintes questões:
- sendo a Câmara Municipal de Sintra, a entidade promotora da Escola Profissional de Recuperação do Património de Sintra e seu principal investidor desde 1988, quantos postos de trabalho, para além dos monitores da própria escola, terá directamente criado que permitiram, desde o fim do primeiro curso, o recrutamento no concelho, de jovens profissionais ali diplomados, assim rentabilizando investimentos tão significativos?
- que diligências de carácter jurídico, administrativo e afins, têm sido concretizadas pela autarquia, no sentido de privilegiar, por exemplo, em concurso público, as empresa candidatas a determinadas obras de recuperação de bens patrimoniais públicos que, manifesta e comprovadamente, recrutem para os seus quadros jovens profissionais diplomados pela EPRPS e/ou por outras escolas profissionais com ofertas similares?
Vamos esperar que apareçam respostas, comentários a esta pequena peça de reflexão que, repito, se for julgado conveniente, por todos os interessados, poderá constituir um elemento de trabalho que auxilie na tomada das indispensáveis decisões que, a curto e médio prazos se impõem.
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