A primeira página do Jornal da Região da semana 9-15 de Outubro é dominada por uma parangona, devidamente ilustrada com fotografia do Palácio Nacional de Sintra e empedrado adjacente, subordinada ao título Largo cobiçado para estacionamento.
Bastaria ler o subtítulo, em caixa vermelha - Os empresários do centro histórico de Sintra querem o regresso do estacionamento no largo do Palácio da Vila. Preocupados com a falta de parqueamento, em especial na época de Verão, defendem a ocupação daquele espaço - para, imediatamente, compreender duas coisas.
Primeiramente, que não basta ter porta aberta para ser empresário, qualificação à qual apenas podem aspirar os empreendedores devidamente preparados, bem informados, dotados de cultura geral mínima e, em segundo lugar, que a ausência destas condições pode dar origem às mais ignorantes e até ofensivas declarações.
Cumpre ter em consideração que a proibição de estacionamento naquele local não decorre, tão somente, de uma qualquer, apenas secundária, motivação estética - que, aliás, será sempre pertinente, como o dá a entender o meu amigo Adriano Filipe, Presidente da Junta de Freguesia de São Martinho - mas, isso sim, afirma a pertinência de um mandato afim da defesa e preservação do património.
Questão de cultura...
Antes de se pronunciarem acerca daquilo que desconhecem, antes de emitirem opinião - erradíssima - natural mas condenavelmente favorável aos seus particulares interesses, os negociantes da Vila deveriam aceder aos textos constantes de Tratados, Convénios e Protocolos que obrigam o Estado Português, relativamente à Conservação do património e dos "sítios" históricos, para logo compreenderem como é impossível, quer à autarquia quer ao governo central, a anuência aos seus desejos.
É impossível. Ponto final. E nada de comparações com as excepções, cuja concretização, por ocasião de uma recepção ou concerto no Palácio, em absolutamente nada coincidem com a verdadeira agressão que aqueles senhores solicitam. Seria bom que todos tivéssemos em consideração que aquele é o nosso Terreiro do Paço, um espaço nobre que não pode ser disponibilizado senão a título absolutamente excepcional e por períodos de tempo diminutos.
A solução da construção de um parque de estacionamento no Rio do Porto não me parece razoável. Se tantos de nós lutámos contra a construção do parque de estacionamento subterrâneo na Volta do Duche, no sentido de não facilitar o acesso de viaturas particulares ao centro histórico, não poderemos agora concordar com uma atitude que negaria a justeza do movimento cívico que nos determinou, apontado como exemplar a nível nacional e até internacional.
A não esquecer
Esta também a razão fundamental da nossa oposição à famigerada solução do parque de estacionamento no Vale da Raposa. O Rio do Porto constitui apenas uma bolsa para o parqueamento de umas dezenas de viaturas que deve ser dignificada, sim senhor, portanto, requalificada, através de soluções que já mereceram a intervenção do Arquitecto Paisagista Francisco Caldeira Cabral.
De uma vez por todas, assumamos a excepcionalidade de Sintra e a conveniência, absolutamente urgente, de concretizar as medidas que são objecto do meu texto publicado neste blog em Notas Diárias do dia 13 de Setembro último, soluções já adoptadas noutros civilizados locais, que apenas me limitei a adaptar ao caso de Sintra (vd. Arquivo do blog).
Continua a parecer muito acertada a posição da Câmara Municipal de Sintra que aposta na solução da instalação de um grande parque de estacionamento no espaço adjacente ao edifício do Departamento de Urbanismo que, de qualquer modo, só será eficaz se articulada com as medidas aludidas no parágrafo anterior.
3 comentários:
Abro a janela de manhã e vejo o Vale da Raposa. Quero continuar a vê-lo assim, Verde.
No Transatlântico muito se tem escrito sobre a Correnteza e sobre o Vale.
Caro Viajante,
Como tenho dado a entender acerca desta matéria que - tal como as outras que teve a gentileza de reagir - tem merecido a minha atenção ao longo de anos, a cupidez anda a galope no corcel da ignorância...
Há uns ordinários negociantes que, se preciso fosse, até venderiam a própria mãe, ávidos de que aquela presa lhes caia nas garras. Mas, pelos vistos, enquanto houver um Viajante, o Transatlântico e o sintradoavesso verberando contra tais invectivas, o Vale da Raposa que, é manifesto, carece de intervenção adequada, não se transformará em centro comercial mascarado de parque de estacionamento.
Aguardo as suas futuras intervenções.
João Cachado
Ah, é verdade, fico cheio de inveja porque, ao acordar, de manhã, o Viajante abre a janela sobre o Vale da Raposa. Que privilégio!...
Deixe-me ainda assinalar que, como sabe, esse verde que se avista é algo perverso porque, sob esse manto, esconde-se um matagal infecto, silvestre, onde ninguém intervem.
Boa viagem!
João Cachado
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