[sempre de acordo com a antiga ortografia]

sexta-feira, 16 de novembro de 2007


Analfabetismos

Muitas pessoas continuam a surpreender-se perante negativas estatísticas relativas à persistência dos acidentes nas estradas e ruas deste país. Um exemplo desta atitude tivemo-lo com a recente ocorrência de vários atropelamentos mortais, que encheram as parangonas dos jornais, lembrando como, também neste tipo de ocorrências, especialmente em centros urbanos, Portugal bate todos os recordes europoeus.
Espanta que haja quem se espante. Portugal tem todas as condições estruturais para que acidentes de toda a ordem, só neste domínio do trânsito, continuem a manchar de luto e sofrimentos de toda a ordem as famílias das vítimas e lesando toda a comunidade com efeitos nocivos de altíssima monta.
Falta de civismo, diz-se, e com toda a razão. No entanto, hão-de reparar que a portuguesa falta de civismo decorre de uma origem muito difícil de erradicar. Refiro-me, como tantas vezes o tenho feito, a propósito de outros assuntos, aos dois tipos de analfabetismo, o pleno e o funcional, bem como à iliteracia, em percentagens altamente preocupantes quando comparadas com o que acontece noutros países europeus.
Uma enorme quantidade de condutores e de peões portugueses está afectada por esta matriz, transversal em termos sociais e independente dos bens materiais de cada um. Têm instalados quadros mentais cujos contornos exigem uma actuação consequente e concertada das autoridades rodoviárias, policiais e autárquicas que, em Portugal, só pode ser diferente em relação ao que, por exemplo, acontece na Finlândia...
Em Sintra
Contudo, o que não vemos, não prevemos, não sentimos nem pressentimos é que sequer se desenhe essa estratégia, necessariamente restritiva, disciplinadora e não indutora de comportamentos que os tais quadros mentais suscitam nos cidadãos portadores daquela deficiência, numa luta com tácticas plenamente adequadas às circunstâncias.
É neste quadro de preocupações que me tenho insurgido contra atitude de perniciosa tolerância com que a Guarda Nacional Republicana tem actuado em Sintra, na presunção de que é a correcta perante a falta de alternativas adequadas, por exemplo, relativamente à resolução da questão do estacionamento. Talvez pudesse estar de acordo, noutro contexto, em que não imperasse tanto analfabetismo e iliteracia, a montante de tanta falta de civismo...
Para terminar, perfeitamente a propósito, mais uma vez chamaria a atenção à Junta de Freguesia de Santa Maria e São Miguel e à Câmara Municipal de Sintra no sentido da necessidade de instalar bandas dissuasoras de velocidade na Rua Câmara Pestana, onde autênticos criminosos encartados, continuam acelerando perigosamente as suas máquinas, pondo em risco a vida de pessoas e bens. Não têm conta os meus apelos verbais e por escrito. Oxalá, um dia destes, não nos confrontemos com aquilo que não gostaríamos e ainda podemos evitar

10 comentários:

Zé-Viajante disse...

E completando esta indicação, direi que na Correnteza, ao descerem para a Rua Alfredo da Costa, os automobilistas têm um apetite voraz pelas velocidades.
E nesta Rua existe um plátano, que " obriga " muita gente a caminhar pelo alcatrão.
Só espero que ali nada aconteça de mal. Apesar de idosos já lá terem caído.

Sintra do avesso disse...

Caro Viajante,

Acreditará que eu também queria referir a Alfredo da Costa, artéria por onde passo diariamente, vindo da Correnteza. Subscrevo totalmente as suas palavras. Tinha-me guardado, no entanto, para mais tarde. É que há anos, há uma boa dúzia de anos, que tenho feito as mais diferentes diligências e ninguém se «comove». A resposta mais engraçada que obtive foi da anterior autarca, Edite Estrela, que me disse na cara não concordar porque podia fazer abortar as grávidas...

Presidentes de Junta, há uns quatro ou cinco que me têm aturado neste e noutros pedidos. E nada! Eu já assisti a atropelamentos iminentes, um dos quais uma criança na sua bicicleta que, por três ou quatro centímetros, ia sendo colhida por autobilista em correria. Outra vez, uma velhota, ficou tão aflita que lhe ia dando um ataque, vieram os bombeiros e tudo.

É uma lástima ninguém atender a um pedido que tem toda a lógica, numa terra onde impera a sobranceira falta de civismo, resultante do quadro que tenho denunciado.

Alfredo da Costa? Com certeza. Se quer que lhe diga, não sei se proponha que vamos por partes, ou seja, primeiro, na Câmara Pestana e, depois, na outra... Estou por tudo, desde que façam o que se impõe e rapidamente.

A propósito de quedas nas ruas, um pouco a montante, na Heliodoro Salgado, a mais badalada foi a da Maria José Ritta, mulher do Jorge Sampaio, precisamente no mesmo sítio onde eu também já torci um pé. Na realidade, quanto a «geradores de acidentes», numa tão pequena zona, não pode dizer-se que estejamos mal aviados...

Volte mais vezes.

Anónimo disse...

Olá boa noite

Há quem diga que ele televisivo rapaz de boas famílias que vai abrir um tasco na feira de S. Pedro não teve qualquer problema em derrubar uma árvore centenária mesma em frente ao seu boteco.

Porque será?

Anónimo disse...

Não se compreende esta mensagem do elitista, sulista e militante. Porque não fala claro?

Anónimo disse...

Quem é o português muito conhecido que vai abrir (ou já abriu) um restaurante junto ao local onde se realiza a feira de S. Pedro?
Como tinha uma árvore muito grande mesmo em frente à porta do estabelecimento resolveu desfazer-se dela.
Com a ajuda de quem?

Anónimo disse...

À guisa de esclarecimento, pois admito que a intervenção de "elitista, sulista e militante" não terá como objecto qualquer calúnia contra pessoas transversais, venho clarificar que foram duas as árvores cortadas junto ao estabelecimento que uma conhecida figura pública da TVI recuperou. Em primeiro lugar, recuperou com elevados custos uma casa que estava em muito mau estado em plena zona histórica de S. Pedro, em segundo as árvores estavam em tão mau estado que eram um perigo eminente. Julgo que "elistista...etc..." sabe onde se localiza d Junta de Freguesia de S. Pedro e provavelmente lá encontrará fotos dessas árvores. Por último, deve salientar-se que as árvores da maior parte de Sintra, incluíndo a Praça D. Fernando II, apresentam grandes problemas sanitários, podendo até pensar-se que, por força de não ter havido a devida assistência e cortes, chegaram a este estado. Por vezes há "ditos" amigso das árvores que acabam por ser seus inimigos. Recorde-se, ainda, aquele tronco que originou mortes e nessa altura, algumas figurinhas conhecidas, calaram-se e deixaram-se ficar em bom recato. Oxalá que algumas árvores que têm adquirido grandes e desproporcionadas copas em Sintra e na nossa mancha arbórea, perante as alterações climatéricas e ventos fortes, não venham a causar alguns dissabores. Para terminar, é tempo de se confiar que na Câmara Municipal há técnicos de elevada craveira profissional, ao contrário de quem anda por aí em busca de "cirurgiões" para depois levantar problemas. As minhas felicitações para o Dr. João Cachado e parabéns pelo Blog.
Breve Nota: Cada vez a Alagamares responde mais às necessidades de Sintra tornando-se na única entidade que defende o património e a natureza, sem se constituir numa força de pressão.

Anónimo disse...

Cara Paula Corte-Real,
obrigado pelo seu esclarecimento.
Já agora, em Sintra em pleno passeio e a obrigar as pessoas a irem para a estrada, junto ao Hotel Lawrence por exemplo, existem árvores em tão mau estado como aquelas que foram derrubadas em frente ao Restaurante do Goucha.
Porque não se deitam também abaixo?
Quanto aos técnicos camarários... o que se vê são empresas privadas.... nomeadamente a dos irmãos.... das luzes de Natal e do resto do ano...

Sintra do avesso disse...

Cara Paula Corte-Real,

Totalmente de acordo consigo. Em tudo! E, acredite, farto, mesmo muito farto de certos amigos das arvorezinhas, coitadinhas, pessoas que, neste mesmo blog, alguém já classificou como «defensores das florinhas da Volta do Duche»...

Ninguém lhes negará as boas intenções. Todavia, o total desconhecimento de certas particularidades e o facto de se constituirem como força de pressão, manifesta e claramente imobilista, são factores que acabam por torpedear os objectivos ao serviço das preocupações que afirmam ser as suas.

Como paradoxo, não podia ser mais convincente e, tão mais flagrante, quanto a própria autarquia continua a conceder-lhes um crédito, a dispensar uma consideração de que não são merecedores.

A cento e oitenta graus daquela pobre postura, a Alagamares vai-se impondo como «a» Associação de Defesa do Património de que Sintra necessitava. A qualidade dos colaboradores, as iniciativas de verdadeira animação cultural, o excelente nível da informação que veicula, por exemplo, através do Alagablog e respectivos links, já nos dão enorme satisfação e fazem prever um cada vez mais afirmativo, contínuo, imprescindível «trabalho de sapa», de consciencialização dos valores pelos quais interessa tomar inequívocas atitudes de defesa.

Sublinho a sua referência aos bons técnicos camarários com que Sintra conta. Numa altura tão difícil para os funcionários públicos, ultimamente tão atacados e diabolizados pelo próprio Governo -como se o serviço público fosse a sede de todos os males que afectam a vida portuguesa - aproveitaria a oportunidade para daqui enviar uma palavra de estímulo e de reconhecimento pelo bom trabalho que, apesar de tanto constrangimento, conseguem concretizar.

Finalmente, para si, o meu reconhecimento pelo mérito que atribui ao sintradoavesso. É muito bom saber que se vai alargando a rede dos meus cúmplices que não se limitam à visita e decidem intervir.

Bem haja. As melhores saudações do

João Cachado

Anónimo disse...

Só por si este assunto das árvores merecia uma discussão e uma intervenção cuidada da C.M.S. sobretudo no que diz respeito às podas. São várias as árvores, sobretudo plátanos, que se encontram na mesma situação do que existe na Rua Alfredo da Costa e que o Viajante denuncia. Além dos que estão perto do Lawrence, também na Volta do Duche entre a entrada do Parque da Liberdade e o Valenças existem vários nas mesmas condições, que me não passa pela cabeça vê-los cortados, mas que, tenho de concordar que incomodam quem passa no passeio onde elas estão plantadas.

Sobre as árvores que são abatidas por motivos sanitários, e é bem provável que muitas precisassem de uma intervenção urgente, eu só queria pedir à C.M.S. que, quando corta, nos lugares onde isso é possível, de imediato, replantasse outra no mesmo lugar. Por exemplo, dos lódãos que têm sido cortados no Largo Sousa Brandão, e já foram vários, o último há cerca de um ano, ficaram, unicamente, no chão, os grossos sepos tristes a lembrar que ali existiu uma árvore. Aqui, porque, imaginem, como são árvores que estão à beira de uma estrada sob a alçada da JAE, a Câmara, que cortou, não pode plantar outra sem sua autorização, assim mo comunicaram na Direcção de Parques e Jardins.
ereis

Sintra do avesso disse...

Minha Cara amiga,

Muito grato pelo enriquecimento, sempre tão pertinente, dos seus comentários.
Olhe, sorrio, mas com certo amargo de boca, perante o episódio da substituição da árvore abatida.
Que sintomático. Que caminho temos pela frente até acabar com este estado de coisas!...

O sincero abraço do

João Cachado