[sempre de acordo com a antiga ortografia]

segunda-feira, 19 de novembro de 2007


Sucesso e insucesso escolar



Quando acabar de redigir e publicar este texto, seguirei imediatamente para a Gulbenkian onde, entre hoje e amanhã, decorre uma conferência subordinada ao tema Sucesso e Insucesso: Escola, Economia e Sociedade. Trata-se de mais uma oportunidade em que se actualizará, pondo-a em comum, a mais recente reflexão acerca de um assunto que preocupa a sociedade em geral, investigadores e decisores políticos, em particular.
Abro parêntesis. À partida, sei que vou encontrar amigos e colegas, professores, técnicos de Educação, alguns companheiros de muitas lutas que, apesar de tantos e constantes constrangimentos, continuam a pugnar pela melhoria do rendimento escolar dos clientes do Sistema Educativo em Portugal. Muitos fazem-no, como eu, no contexto de um Serviço Público que não pode ser mais diabolizado pelo próprio Governo. Mas, como são vozes de burro... Deixem-me fechar parêntesis.
Voltemos ao sucesso e ao insucesso. De uma vez por todas, tenhamos em consideração que não podem ser encarados como resultado inequívoco e exclusivo das actividades de ensino-aprendizagem que acontecem na comunidade escolar. Quantos êxitos e descalabros das nossas crianças e jovens não deverão ser encontrados na e justificados pela comunidade educativa! Pois é. São realidades diferentes mas absoluta e radicalmente complementares estas duas comunidades.
Muito mais abrangente, a segunda - em que se evidencia o importante grupo das famílias -inclui todas as entidades públicas e privadas interessadas no processo educativo. Afirmando e confirmando isto mesmo, não estamos longe da conclusão segundo a qual os rendimentos escolares das crianças e jovens serão directamente proporcionais ao interesse e ao investimento das comunidades educativas.
Incompetência das famílias
Destaquei as famílias. Não vou ser simpático com os pais a quem, cada vez mais técnicos das ciências ditas sociais assacam responsabilidades acrescidas, em relação aos pobres resultados que o Sistema Educativo vem apresentar cada ano que passa. Naturalmente, num texto tão despretensioso, apenas pretendo referir dois ou três aspectos imprescindíveis à compreensão de certos fenómenos.
Desde logo, conviria ter em mente que a Educação é algo que, no essencial, implica transmissão de valores, tarefa que, primordialmente, compete à família, em relação àquela criança que, em tempo oportuno, há-de ser entregue à Escola para que esta continue, complemente e suplemente o trabalho que deveria ter acontecido a montante, ajudando a construir a matriz social, cultural que a comunidade nacional e local pretendem ali seja adquirida, em grupo.
Uma primeira reflexão sobre a indisciplina. A Escola não tem sabido, mas já deveria ter devolvido aos pais a flagrante incompetência, de que dão constante prova, ao entregarem ao Sistema Educativo crianças que são poços de egoísmo, individualistas, indisciplinadas, a quem, previamente, e, desde a mais tenra idade, não souberam transmitir as mais elementares noções de respeito - em particular, pelo território dos adultos - de autodomínio, disciplina, de partilha com os outros.
Uma segunda chamada de atenção para o modelo de vida que apontam aos seus educandos. Incapazes de colocarem limites às exigências das crianças e jovens, culpabilizados pela falta de tempo para acompanhamento que não sabem e/ou não conseguem dispensar, esses pais compensam-se através da oferta aos filhos de produtos nocivos, dispensáveis, dispendiosos, multiplicando reacções grupais de dificil controlo por parte da Escola.
Como se isto não bastasse, em muitas casas se fomenta, desde o primeiro ano do primeiro ciclo, uma irredutível mentalização na competitividade a todo o transe, transmitindo a ideia de que, na escola, dentro e fora da sala de aula, a palavra de ordem para os seus filhos, é a egoísta perspectiva do preocupar-se apenas consigo, fazendo tábua rasa dos valores da camaradagem, entreajuda e solidariedade.

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