O que poderá determinar que um jovem do concelho de Sintra chegue ao fim do nono ano de escolaridade sem nunca ter visitado o Palácio de Queluz, ou os Parques da Pena e de Monserrate, o Castelo dos Mouros ou os Capuchos? Coloco a questão porque, embora não generalizável, reconheço que a situação não será tão excepcional quanto possa parecer.
Com o propósito de responder à pergunta formulada mas, de qualquer modo, sem possibilidade de, a título complementar, aceder a dados estatísticos que sustentem qualquer estudo sobre ocupação de tempos livres dos jovens do concelho, com incidência no seu acto voluntário de visita regular a sítios congéneres, apenas me basearei na minha experiência e no contacto com colegas professores que me dão esse testemunho.
Importa referir que, na realidade, apesar de enfrentarem cada vez maiores dificuldades, de toda a ordem, que não só orçamental, as escolas vão promovendo visitas de estudo àqueles lugares emblemáticos e a outros destinos deste concelho tão rico em património natural e edificado. Assim sendo e acontecendo, como justificar a existência de uma significativa quantidade de estudantes que os não conhecem parcialmente ou até na totalidade?
Julgo não incorrer em erro grosseiro se, muito simplesmente, pressupuser que basta o aluno ter faltado a determinadas aulas, durante as quais tais visitas se concretizaram, para ter ficado(definitivamente?) arredado da possibilidade que a sua escola lhe teria facultado, não tivesse ocorrido o imprevisto que determinou a sua ausência da actividade em apreço.
E as famílias?
De qualquer modo, se esta primeira abordagem iliba a responsabilidade da escola, a questão continua pertinente na medida em que causas de outra ordem poderão enquadrar uma justificação plausível. Continuo com o cuidado que dei a entender em parágrafo anterior, arriscando pisar terrenos que não estão devidamente escorados por estudos afins.
Tratando-se de lugares tão especialmente belos, de inequívoco interesse cultural para todos os públicos, ultrapassando o dos miúdos que lá se deslocam com colegas e professores, resta questionar o papel da família. Ora bem, é escusado entrar em grandes elucubrações para poder afirmar que as famílias, com um mínimo de preocupações de carácter cultural, deslocam-se, visitam e fazem-se acompanhar dos filhos. E as outras, não!
O problema é que, num país com os mais fracos índices de consumos culturais da União Europeia, muitas são as famílias que, embora disponham do rendimento que lhes possibilitaria o usufruto de determinados bens patrimoniais, nem sequer imaginam que aquela constitui uma necessidade, cuja periódica satisfação tanto pode contribuir para o seu bem estar.
Este é o tal tipo de famílias urbano-depressivas, residentes nos subúrbios betonizados de algumas freguesias de Sintra, que enchem não os teatros, não as exposições, não os cinemas, não as bibliotecas, não os concertos mas, isso sim, os gloriosos e inúmeros centros comerciais das redondezas, no limite da pura náusea. Aí as famílias inteiras e, naturalmente, também os tais jovens que não foram à visita de estudo...
E o poder?
Não entrei em linha de conta com aquela tão significativa como escandalosa percentagem de vinte por cento dos nossos concidadãos que vivem abaixo do limite da pobreza. Não o fiz, embora a pura indigência pudesse ser para aqui chamada. Não é nada que uma agressiva estratégia de verdadeira promoção sociocultural para o desenvolvimento, não possa ajudar a resolver. Mas nada disso acontecerá enquanto deixarmos que o nosso dinheiro seja esbanjado em estádios de futebol e submarinos desnecessários.
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