[sempre de acordo com a antiga ortografia]

quarta-feira, 5 de dezembro de 2007

Pena, Regaleira, Acessos & civilidade

Independentemente da maior ou menor brevidade com que serão concretizadas as medidas tendentes à solução dos problemas de estacionamento caótico junto à Quinta da Regaleira e do acesso automóvel ao Parque e Palácio da Pena, impõe-se que os cidadãos assumam como indissociáveis duas atitudes que, de algum modo, já aqui foram aludidas em recentes oportunidades.

A primeira decorre do princípio de que o modo como se acede, faz parte do acto cultural que constitui a visita a um bem patrimonial, como o conjunto monumental do Castelo dos Mouros, o Palácio e Jardins de Monserrate ou o Museu de Arte Moderna de Sintra-Colecção Berardo, apenas referindo, para além dos dois anteriores, mais três dos muitos exemplos do património cultural nacional sediados em Sintra.

Como tantas vezes tenho escrito e publicamente afirmado, não há ponta de originalidade em qualquer das soluções que urge pôr a funcionar. São perfeitamente conhecidas e estão exaustivamente testadas várias estratégias de acesso ao património edificado em locais que merecem particular atenção, soluções que, invariavelmente, privilegiam o transporte público e a deslocação a pé.

Aliás, em pequeno parêntesis, lembraria como, mesmo nos casos em que, por mera hipótese, seria possível a continuação do estacionamento de viaturas próximo de determinado monumento - lembre-se o caso de Alcobaça e a belíssima solução do Arq. Gonçalo Byrne - questões de ordem ambiental, de gestão urbana, do domínio da estética, determinam que a civilizada atitude seja outra, por mais conveniente à comunidade em geral.

Pena e Regaleira

Tanto no caso da Regaleira como no da Pena, os veículos particulares serão obrigatoriamente estacionados em parques mais ou menos periféricos - interface da Portela, Ramalhão, edifício do Departamento do Urbanismo, por exemplo - a partir dos quais funcionarão transportes colectivos, gratuitos nuns casos e noutros pressupondo uma tarifa em que está incluída a do estacionamento - de dimensão e características adequadas aos trajectos em questão.

Tal não significa que o transporte chegue mesmo junto dos destinos referidos. No caso da Pena, tal será mesmo impossível já que, naturalmente, serão desactivados os parques de estacionamento, escandalosamente instalados durante a controversa gestão do biólogo Serra Lopes. Tal como tantos de nós gostamos de evocar, o caso do castelo de Neuschwanstein, na Baviera, terá de constituir o modelo mais apropriado quanto às soluções de acesso.

A maioria dos visitantes acederá por caminho pedestre, o que não significa subir a asfaltada rampa da Pena mas seguir pelo caminho muito mais curto, que certos sintrenses bem conhecem o qual já estará sendo limpo para ser dotado dos necessários apoios. Outros visitantes tomarão o mini autocarro ou, certamente, mais tarde, também a expedita galera de tracção animal que, como sabem, não é uma charrete mas uma grande carroça que pode transportar uma boa quantidade de passageiros.
Quanto à Regaleira poder-se-á contar com um vaivém contínuo, desde o parqueamento até determinado ponto do percurso, a partir do qual ou se vai a pé ou se toma a carreira, que prevejo com maior vantagem se, em vez de terminar na Quinta, puder continuar até Seteais, Monserrate, Eugaria e Colares, com a possibilidade do passageiro descer em qualquer das paragens para, mais tarde, com o mesmo bilhete, retomar o trajecto.
Publicidade à grande
A segunda atitude a concretizar, entre as que anunciei no primeiro parágrafo, passa por uma estratégia muito incisiva e eficaz de divulgação destas soluções. Tenho a certeza de que não haverá gabinete de publicidade que não gostasse de se envolver numa tal tarefa. As soluções por mais perfeitas, adequadas e urgentíssimas se não forem muito bem vendidas suscitarão as reacções mais indesejáveis.
Naturalmente, haverá que contar, como em qualquer latitude civilizada, com os bloqueios decorrentes do fenómeno da mudança. Porém, como estamos em Portugal, país onde impera a falta de civismo e a cultura do desleixo, consequentes dos baixos níveis de escolaridade, do analfabetismo ainda tão significativo e dos baixíssimos níveis de literacia, os cuidados com as campanhas de publicidade deverão redobrar.
É neste domínio da divulgação que considero da maior vantagem que o poder local interviesse no sentido de envolver na campanha conhecidas figuras mediáticas e populares residentes em Sintra que, também tenho a certeza, muito gostariam de participar numa iniciativa cujo sucesso é indispensável para a melhoria de qualidade de vida de todos os sintrenses.
(muito) A propósito...
A propósito, julgo que, cada vez mais e, quanto mais depressa melhor, todos nos devemos capacitar e, definitivamente assumir que, sim senhor, Portugal pertence ao clube de ricos da União Europeia mas, infelizmente, muito longe de poder ser objecto de uma gestão política, urbana, cultural e educacional semelhante ou sequer próxima da que é levada a cabo na Europa central, nórdica e mesmo mediterrânica.
A péssima classe política que, perversamente, em nome da democracia, tem acedido e permanecido no poder, parte do erradíssimo pressuposto de que «isto» vai, sem o permanente exercício de uma autoridade democrática, permanente e declaradamente disciplinadora, eliminadora de hábitos e costumes egoístas, fruto da ignorância em que permanece uma percentagem enorme dos cidadãos. A verdade é que não vai. E, como imaginam, por aqui não perpassa qualquer resquício de paternalismo ditatorial ou quejando...

3 comentários:

Anónimo disse...

Caro Dr. Cachado,

Ainda não respondeu às minhas mensagens de comentários anteriores.Tem muita razão em relação à campoanha de publicidade. Em França, recorre-se muito às figuras públicas para propaganda de medidas tomadas pelas autoridades quando pretendem mudar alguma coisa. É uma boa ideia. Vamos lá a ver se pegam nela.

Cumprimentos do

Artur Sá

Sintra do avesso disse...

Caro Artur Sá,

Tem toda a razão. Estou com dificuldade em arranjar tempo para os correspondentes. Por outro lado, há quem me diga ser difícil entender como consigo publicar um texto destes todos os dias... Olhe, como me dá gozo e não se põe o problema de obedecer a um horário rígido, não tenho a mínima razão para lamento.

Quanto ao seu comentário, registo a concordância com a estratégia de envolver figuras públicas em campanhas institucionais. Não fazê-lo é um verdadeiro desperdício. Refere o meu amigo o caso da França. Conheço bem mas, ainda melhor, o que se passa na Áustria neste domínio. Fique o Artur Sá sabendo que há nichos de assuntos em que as tais figuras mediáticas até colaboram sem cobrar. E não são só as questões de saúde das criancinhas que os mobilizam.

Estou como diz o meu amigo, a ver se pega...

Um abraço


João Cachado

Sintra do avesso disse...
Este comentário foi removido pelo autor.