A César…
Um parêntesis ainda mais pessoal
Seria desperdício andar à volta desta história, falar da importância de Belém, e não me deter um pouco noutro importante pólo eclesial da Lisboa de então, a Capela do Rato. Trata-se de um pequeno templo, na Calçada Bento da Rocha Cabral, uma das ruas que, saindo do largo, dá acesso ao Jardim das Amoreiras (o encantado jardim da minha mais remota infância, já que nasci na Rua das Amoreiras, mesmo defronte da Mãe d’Água).
Para trazer a capela a esta página, preciso é que a lembre e considere parte integrante de um palácio, hoje sede do Partido Socialista, que foi residência dos Marqueses da Praia. E lá vem um parêntesis. Desculparão, se puderem, mas não consigo ir escrevendo estas linhas, sem que se insinuem, vindas de memórias cada vez mais vivas, lugares e pessoas que, tão impressivamente me marcaram.
Por uns momentos, deixem que vos recorde o Dr. Duarte Borges Coutinho. Logo em criança, tive o privilégio de conhecer este grande amigo de meu pai – lá em casa era o Praia – economista, director da General Electric Portuguesa e presidente do Benfica (do tempo em que o Benfica foi dirigido por gente culta e educada…), quarto Marquês da Praia, que não morria de amores pelo regime, dono do palácio cuja capela franqueou à Juventude Escolar Católica (JEC), coordenada pelo Padre Alberto.
Mal sabia eu que, àquela mesma casa do Praia, ao Largo do Rato, ficaria ligada uma história de vivência religiosa, de afectos e de cidadania que, em mim e tantos conhecidos e amigos, cimentou os alicerces de uma geração que continua a pautar-se pelos valores que ali se promoviam, não como parte de uma liturgia mas na certeza de que eram essenciais para a vida que pretendíamos, como gente interveniente na polis, portanto como políticos.
Semanalmente, durante toda a minha adolescência e juventude, frequentei a Capela do Rato, verdadeira Casa de Cultura e de partilha dos grandes valores que todos prezamos, espaço de encontro e de convívio de muitos estudantes, que ali procuravam a âncora espiritual de uma Igreja que, ao tempo, não se demitiu do papel que lhe cabia. Todavia, como sabem, não foi este trabalho de sapa, com centenas e centenas de jovens, durante a década de sessenta, que fez a fama da Capela do Rato e isso sim, a célebre vigília que abalou a ditadura.
(continua)
3 comentários:
Caro João Cachado,
Não sei se ainda se lembra de mim como seu colega, professor, no Liceu da Amadora em 1975 e 76. Você era do 3º grupo, Alemão e eu de Desenho. Recordo muito bem que o Cachado pertenceu ao primeiro conselho directivo homologado a nível nacional pelo decreto de 1976 do Ministro Cardia. Talvez não tenha esquecido este seu colega de há tantos anos porque colaborámos muito. Aquilo é que era uma grande fábrica... Sete mil alunos em três edifícios diferentes, você a falecida Helena Caseiro à frente daquela coisa toda, sem horas, sem descanso, de manhã à noite, sem ganhar nem mais um tostão. Sou mais velho que você uma boa dúzia de anos pois já tenho setenta e dois e você deve andar pelos sessenta, Acompanho o seu blogue desde Outubro do ano passado e já várias vezes estive para comentar. Geralmente estou de acordo consigo. Tenho casa nova na zona do Mucifal, adoro Sintra e entendo bem, como arquitecto, o que você tem feito com a sua luta.
Mas só hoje apareço por causa do saudoso Padre Alberto. Conheci-o bem, fui seu amigo também em Queluz
e tenho muita saudade do melhor professor que conheci em toda aminha vida profissional. Compreendo muito bem o que você sentirá como católico. Não sou crente, nunca fui mas se houve homem de Deus sobre a terra, o Alberto Neto era ele. Muito obrigado por ter falado nele.
Já vi qual é o seu mail para onde o contactarei pois há conversas que não são de porta aberta. Um abraço e até breve,
J. Farinha
Prof. Farinha,
Se me lembro! O meu amigo foi daqueles colegas cujo empenho não podia ser maior. Devo-lhe, deve-lhe aquela escola e a Educação deste país um agradecimento sem limites.
Acredite que fiquei muito emocionado por aparecer. Concordará ser fantástico que o Padre Alberto volte a pôr-nos em contacto...
Temos muita história em comum que até podia ser partilhada abertamente. Mas estou consigo, concordo e espero pelo seu mail. De qualquer modo, repito
joaocachado@gmail.com
Um abraço do
João Cachado
Helena Caseiro? Creio que estará (J. Farinha) a falar da professora de Matemática do LNA. Foi uma das minhas melhores professoras de sempre. Fico bastante triste em saber que já faleceu.
Paula Roque
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