O lixo do centro histórico
Mais uma vez, a consternação e o escândalo. São sacos, embalagens de cartão e de madeira, de maior e menor volume, lixo a granel sobre o passeio, acumulados à volta dos contentores instalados junto às vetustas paredes da igreja de São Martinho, em pleno coração do centro histórico de Sintra, em dia de enorme movimento de pessoas.
Consternação, escândalo. E despudor. Não há aqui ponta de sensacionalismo nem o mínimo exagero. As palavras são o que são e, nesta situação, não podem ser outras. E fico-me pela descrição pois, como compreenderão, por minha manifesta insuficiência, para estas linhas não consigo transferir o fedor. A verdade é que, simultaneamente, a temperatura da manhã quase estival já tinha feito o trabalho do costume, atraindo o mosquedo da ordem.
Era o dia primeiro de Maio, feriado nacional, feriado internacional, Dia do Trabalhador, tudo o que quiserem. No entanto, mesmo tendo em consideração a natureza da efeméride em questão, nada – definitivamente nada! – autorizaria que, mais uma vez, assim se tivesse mostrado tão eloquente manifesto de incapacidade e de cultura do desleixo. Porém, com estes contornos de terceiro mundo, é demais. Infelizmente, demais do mesmo.
Como sabem, este não é um cenário raro. A atestá-lo, um conhecidíssimo comerciante da zona, costuma mostrar volumoso álbum de fotografias a quem pretende ficar completamente identificado com o despautério. Também eu já tive oportunidade de denunciar a situação (v.g., JS 01.09.06), todavia sem qualquer resultado. Já sabem, é o que a casa gasta…
E não é preciso ser adivinho para perceber como, na medíocre perspectiva dos responsáveis do turismo, mesmo ali ao lado, o problema da higiene urbana não é nada com eles... Aliás, na ocasião em que tive o topete de me dirigir ao balcão dos referidos serviços, tentando perceber o que se passava, para poder redigir o artigo supra referido, responderam-me que desconheciam completamente a situação. Poderia eu esperar outra coisa?...
Em pleno centro histórico, este lixo não é mais que a ponta visível de um quadro bem mais profundo e extenso. Há muito mais lixo, com cheiro e sem cheiro, sempre pernicioso, numa zona tão sui generis quanto crítica, que a autarquia já provou desconhecer como gerir com a dignidade que merece.
Certo é que, de quando em quando, a excepção confirma a regra. Sem pretender politizar o assunto, a verdade é que só a CDU parece estar atenta ao que se passa. Veja-se o caso da Bristol, onde foi sustido a tempo o lixo que se impunha…
PS:
Recentemente, em Nápoles, uma questão extremamente bicuda de gestão de resíduos urbanos, atingiu uma escala inadmissível em qualquer latitude dita civilizada, resultando na acumulação de muitas centenas de toneladas de lixo. Afirmou-se que a Máfia comandou todos os cordelinhos da operação. Como em Portugal não há vestígios de um tal polvo, que bicho horroroso estará por aí a minar e a fazer das suas?
11 comentários:
A culpa presumo que ainda deva ser da drª Edite Estrela e do PS, não? dr. Cachado?
Ao anónimo das 0.49,
A Dra. Edite Estrela bem pode limpar as mãos, não à parede mas às muitas paredes de desgraça que nos deixou como herança. Temos trabalho - e para alguns anos! - só para recuperar das asneiras que deixou bem espalhadas só na sede do concelho.
Mas como não perfilho qualquer tipo de mundividência maniqueísta -aliás, nem do mundo em geral, nem da gestão política em particular - considero que essa senhora, neste cartório do lixo, enquanto autarca, tem tanta «culpa» como os que a precederam e lhe sucederam.
Que eu conheça,nada fez que obstaculizasse a difusão da cultura do desleixo que, tanto no tempo da sua gestão como actualmente, se propaga como insidiosa mancha de óleo.
Tal como acontece com a actual edilidade, o executivo da Dra. Edite Estrela demitiu-se do exercício da autoridade democrática decorrente do voto popular, que pode obviar a ocorrência das situações que costumo denunciar, como a da cena do lixo em pleno centro histórico.
Enfim, a figura em questão nem sequer merece o investimento desta explicação em hora tão matinal... Olhe, em termos do processo popular que resultou na sua eleição, a Dra. Edite Estrela foi um produto cuja aparência vendeu tão bem como a careca do Benfica... Em campanhas publicitárias modelares, vendem-se como qualquer dentífrico. Apenas isso.
O problema está na péssima qualidade da classe política que, num país tão atrasado como o nosso, tem governado a nível central e local. Não tenho qualquer dúvida em afirmar que a situação só melhorará a longo prazo, quando os eleitores portugueses deixarem de ser os que apresentam os mais elevados índices de analfabetismo pleno e funcional, o mais alto nível de iliteracia da União Europeia.
Parêntesis.
[[E já reparou como povos «com outros bigodes» como o francês e o italiano, escolheram para os dirigir figuras tão polémicas como Sarkozi e Berlusconi? Claro que não me surpreendo quando os portugueses escolham Cavaco Silva em vez de Manuel Alegre, ou Edite Estrela e Fernando Seara em vez de quem melhor poderia gerir situações tão difíceis como as que se enfrenta a nível nacional e local. Apenas constato.]]
Fim de parêntesis.
Para tal, no entanto, ou nos convencemos de que não somos a Austria, que estamos em Portugal, país que não pode ser governado como os da Europa civilizada e culta, ou continuaremos a ver a Europa por um canudo, mergulhados em «lixo» que, por vezes, é sem aspas. Nesses momentos, sem aspas, mesmo assim os melhores, até parece que estamos no Norte de África, onde tanta genética fomos buscar.
João Cachado
PS:(Ainda para o mesmo anónimo das 0.49)
Para que não subsista qualquer confusão, faça o favor e a justiça de me considerar um cidadão de esquerda, independente, não filiado em qualquer partido e, portanto, livre para afirmar uma opinião totalmente desvinculada de quaisquer compromissos.
Se quiser, ainda pode ficar a saber que, cada vez mais, me entristeço ao verificar como o PS, sob a direcção de José Sócrates, se transformou num partido liberal, capaz de dar o braço às mais criticáveis práticas do capitalismo selvagem.
E, não por outro lado, mas do mesmo modo, como o Bloco de Esquerda se vem afirmando cada vez mais estéril e enredado na lógica da teia política que pretendia denunciar...
Nestes termos, nada me impede, e tenho-o feito, de aplaudir iniciativas de Fernando Seara, como ter acabado com projectos tão controversos, como os da famigerada Sintralândia ou construção do autosilo sob a Volta do Duche, projectos contra os quais tanto me empenhei.
Quero lá bem saber que o homem seja do PSD! Quero lá bem saber que o Baptista Alves seja do PCP ou o Quintas, do PS, sempre que tenho ou tiver razões bastantes para salientar a sua correcta atitude nas melhores circunstâncias
da vida autárquica!
Claro que o PS, mesmo o actual PS, tem lá muito boa gente. Em todos os partidos há gente óptima e e4stimável, que tento não confundir com a prática dessas organizações em que estão filiadas.
Neste, como noutros domínios, tento não confundir a árvore com a floresta ou, como escreve Mário de Carvalho, em "Casos do Beco das Sardinheiras", faço o possível por não confundir género humano com Manuel Germano...
João Cachado
Realmente a Edite Estrela tem muitas culpas no cartório. Se não, vejamos: onde estava aquela grandiosa ruína do Carlos Manuel, durante anos conservada por sucessivos Presidentes de Câmara do PSD/PP/PPD/CDS/AD e etc e tal, a senhora teve o topete de erguer o Centro Cultural Olga Cadaval. Pior ainda: não contente, ainda fez escolas, estradas, levou Sintra a Património Mundial, renovou os serviços do Urbanismo, instalou bibliotecas, museus, etc! Vejam lá se há ou não motivos de sobra para censurar os dois mandatos daquela senhora?! Que diferença para este Paraíso de agora, onde NADA se faz e, dessa forma, tudo se mantém na placidez da hera a crescer e do musgo a penetrar nos muros! E vade retro o famigerado auto-silo na Volta do Duche, aquilo é mesmo bonito é assim, com caravanas paradas, carros em filinha indiana e muita fumarada e poluição de andarem à procura de um buraco em cima dos passeios para estacionar, que bonito, que pitoresco!... Muito bem!
Bom exemplo esse da Austria! Parabéns! Realmente não somos a Austria, ainda temos muito que evoluir para ter também uma besta humana como aquele pai (?) que escravizou uma filha durante 24 anos! Outro povo, outra evolução, outra "souplesse", não haja dúvida!...
Penso que o meu anónimo interlocutor das 0.49 de 08.05.08 é quem continua com a mesma condição de anónimo às 23.45 e às 23.49 do dia seguinte.
Parece que, neste terreno virtual da denominada blogosfera, o anonimato é coisa tolerada. O anonimato, como opção de identidade ou como opção de encobrimento da identidade. Coisa aberrante, incrível. Custa-me muito a entender tal «fenómeno», não só no nosso mas em todos os países cujos Estados se reclamam da Liberdade, da Democracia e do Direito.
Como tenho mais de sessenta anos, pertenço a uma geração que viveu, quase até aos trinta, em regime de ditadura. Foi tempo bastante para saber, na pele, o que foi lutar pela Liberdade, pela Democracia e pelo Estado de Direito, como objectivos de vida pelos quais houve quem desse a vida.
E, paradoxalmente, tudo isso para que, hoje em dia, neste meu país, haja quem se sinta na necessidade de recorrer ao anonimato, por exemplo, para defender «a obra» de uma autarca. Não percebo. Não foi para isto que a minha geração lutou. A luta de dezenas de anos contra o fascismo, não é compatível com a posição de cidadãos, como a deste meu interlocutor, cujo anonimato, desculpará, só pode escandalizar-me.
Precisamente, uma das marcas da educação que recebi passava, por jamais dar crédito a mensagens anónimas. A palavra de ordem ia no sentido de que, mal se percebesse tratar-se de mensagem anónima, deveria ser imediatamente rejeitada.
Aliás, devo confessar que, felizmente, não me lembro de receber mensagens não assinadas. Sou uma pessoa que passaria sem tão desagradável experiência, não fosse o facto de me ter lançado a esta aventura do sintradoavesso. Certo é que raramente mas, de vez em quando, lá aparece um anónimo a desafiar a minha capacidade de encaixe.
E, depois de tão longo prólogo, entremos na matéria propriamente dita. Claro que me recuso a responder-lhe, taco a taco, sobre cada uma das «obras» que o anónimo refere como «da Dra. Edite Estrela», que foram concretizadas, isso sim, no tempo em que a Dra. Edite Estrela presidiu ao executivo municipal. [Se o fizesse, tinha que lhe apontar todos os concomitantes despautérios. Como calcula, tão mesquinha personagem não merece trabalho tão estenuante].
E este princípio cuja universalidade é inequívoca e meridiana, tanto se aplica à Dra. Edite Estrela e ao Dr. Fernando Seara, magníficos exemplares da medíocre classe política que nos tem governado, como a todos os seus mais ou menos ilustres antecessores.
São coisas muito diferentes. A bondade da responsabilidade partilhada é apanágio dos regimes democráticos. Só os caudillos ditadores é que se arrogam a afirmação da autoria de cada escola, hospital ou fontanário que inauguram.
Afinal, o anónimo incorre num erro, que muitas pessoas repetem, na ingénua e triste convicção de que a concretização de um determinado projecto autárquico depende da vontade individual do Presidente da Câmara e - como, efectivamente, acontece - não seja o resultado de um processo democraticamente participado.
A cegueira «clubística» leva-o a tecer tais loas à ex-autarca - cujas «façanhas» determinaram que o povo tivesse rejeitado liminarmente a continuação do seu mandato - que, a acreditar no anónimo, desde essa altura, já estaríamos a viver no melhor dos mundos sintrenses, bastando ao subsequente executivo a manutenção do statu quo... Infelizmente, a crua realidade era bem outra. Aliás, essa senhora conhece tão bem as circunstâncias em que deixou o município que, passados estes quase oito anos, depois de ter feito uma ou outra incursão «a apalpar o terreno», já percebeu que o melhor é não se atrever a tentar nova experiência...
Deus Nosso Senhor, na Sua Infinita Misericórdia - Ele há-de perdoar-me por esta irónica invocação ao Seu Santo Nome... - jamais permitiria tão abstrusa repetição!
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Quanto à Áustria [repare o anónimo que este topónimo é acentuado], fica desde já autorizado a considerar-me totalmente tendencioso. E sabe porquê? Por que, para mim, este país constitui uma verdadeira paixão. E a paixão é cega.
Há muitos anos que, fatalmente, como acontece com todas as grandes paixões, me rendi à excelência das suas gentes, ao seu modo e nível de vida e em especial, perante os inúmeros valores culturais, do mais alto gabarito, em todos os domínios, da Filosofia às Artes Plásticas, da Literatura, do Teatro mais profícuo, da melhor Música de todos os tempos incluindo o actual, da Ciência mais sofisticada, enfim, «a» excelência feita país e não um país com «ilhas de excelência» como a gente ouve por aí dizer, nestas lusas latitudes.
Fiz da Áustria a minha segunda Pátria e de Salzburg o lugar onde está a metade dos meus afectos mais cordiais. Lá tenho bons amigos e, veja bem, até milito em associações de defesa do património. Sou membro activo de uma das mais prestigiadas fundações austríacas que, igualmente, talvez seja a mais notável no domínio da Música, mesmo a nível mundial.
Não tenho, mas é como se fosse minha a casa onde costumo ficar, as semanas que me apetece e posso, em cada ano, naquela estupenda Salzburg que, vamos lá, não me tem em exclusivo porque Viena, Linz e Graaz também me são indispensáveis.
Como calcula, ser-me-ia facílimo desenrolar uma infindável lista com os mais notáveis nomes de mulheres e homens austríacos, com muitos judeus pelo meio, note bem, a quem a humanidade, especialmente a gente culta e estudiosa, está eternamente grata pelos benefícios da sua acção nos mais diferentes campos. Não o farei porque não imagino sequer se estará mentalmente disponível para o efeito. Por outro lado, como quem escreve disparate tão grande sobre a Áustria não deve conhecer a língua alemã, sugiro que leia, em português, "O Mundo de Ontem, recordações de um europeu", de Stefan Zweig, numa edição da Assírio & Alvim. Verá, se aceitar a minha sugestão, que aprenderá a conhecer um povo ímpar, estimável, um país interessante e notabilíssimo.
Deixe-me afirmar ser preciso muito atrevimento para pretender reduzir, à monstruosidade, à bestialidade de um cidadão,chame-se ele Fritzl ou Hitler, a representação de todo um povo absolutamente extraordinário.
Mas, enfim, não é preciso pôr mais no cartel, já percebi como o anónimo é propenso à comodidade das generalizações.
O que sinceramente me surpreende é o tempo que passei a responder... a um anónimo. Mas não o dou como perdido.
João Cachado (ortónimo...)
AT: Erro.
Última palavra do sétimo parágrafo:
onde, erradamente, leu estenuante deverá ler, correctamente, extenuante.
Muito obrigado
João Cachado
Ao anónimo defensor de Edite Estrela e feroz inimigo da Áustria.
Apenas mais uma recomendação:
A propósito dos disparates que o anónimo se permitiu escrever acerca da Áustria, queira ler "O Monstro", uma crónica de Inês Pedrosa publicada na ´Única´, suplemento do semanário´Expresso´ do passado sábado, dia 10 de Maio.
Repare na abissal diferença que há entre a acertada posição da escritora e o desconchavado primarismo da opinião do anónimo. Pois é, gente informada e culta é outra coisa...
João Cachado
Ainda para o mesmo destinatário:
Igualmente, não deixe de ler o comentário de Fernando Castelo ao meu artigo publicado no dia 9.
João Cachado
Ainda para o mesmo destinatário:
Igualmente, não deixe de ler o comentário de Fernando Castelo ao meu artigo publicado no dia 9.
João Cachado
O anónimo agradece a gentileza das respostas e esclarece que nada tem a ver com o "anónimo" inicial, apenas reparou na questão colocada e achou que devia intervir, nada mais. Agradece, igualmente, o conjunto de epítetos com que foi brindado, entre o "inculto" e o "ignorante" - não há dúvida que gente fina é outra coisa, até os insultos têm uma distinção que, no vulgar suburbano, passariam por barbaridade. Por aqui me fico porque nada mais me interessa do que discutir ideias e, pelos vistos, entrei na morada errada e nem sequer vesti o necessário smoking. Com os melhores cumprimentos, de Vossa Excelência atentamente, este seu criado, Anónimo Sintrense. P.S. - Nada tenho contra a Áustria nem os austríacos, obviamente. Aliás, neste Mundo de Deus a única coisa que me confrange é a presunção erigida em sapiência, para além da fome, da miséria, do medo e da guerra. Já agora aproveito e também lhe recomendo uma leitura: "As Benevolentes", de Jonathan Littell, soberbo romance sobre o período do nazismo na Alemanha e que questiona, precisamente, se a cultura impede a barbárie, uma vez que a maior parte dos oficiais nazis eram homens de grande cultura e grande "fineza de modos". Obrigado, uma vez mais, pelo tempo que perdeu com este comentador "ignorante" e "seguidista" da anterior Presidente da CMS, Drª Edite Estrela.
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